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terça-feira, 11 de novembro de 2008

A Biblioteca Cândido Marinho Rocha está na Internet

É só acessar WebArtigos.com e você pode pesquisar, se não, busque digitando direto no Google.
Biblioteca pública em Mosqueiro : sua urgência e seus benefícios

Quando se ouve falar de Gutenberg (século XV), e o nascimento do livro como hoje o conhecemos, poucos refletem sobre na verdade sua remota existência, sua atualidade e contemporaneidade de uso, ainda em franca e (creio convictamente nisso!) vitoriosa competitividade com o formato digital ou mesmo virtual.
Desde as pinturas nas paredes das cavernas e em rochas a céu aberto (pictografia), os sinais (se preferirem: marcas) em chifres e ossos de animais, desde a escrita cuneiforme dos sumérios (em ‘tabuletas de barro’ e em superfícies metálicas), passando pela escrita ideogramática dos chineses (geralmente usando ‘livros’ de bambu e, muito depois, finalmente o papel, do qual são os legítimos inventores), passando também pela escrita hieroglífica egípcia (em papiro  suporte que passa daí em diante a ser muito difundido entre civilizações posteriores à do Egito  em paredes de tumbas, em ‘tabuletas de pedra’, como a Pedra de Roseta), pelo alfabeto fenício ocidental, o grego, o latino, até virem a emergir as escritas das línguas modernas ocidentais, muitos materiais e formatos foram empregados por diferentes povos e épocas históricas.
O saber humano foi e/ou está sendo registrado  como já visto acima , para (utopicamente que seja) jamais perder-se, nas paredes de cavernas, chifres, ossos, barro, metal, papiro, ardósias gregas, bambu, pano, pergaminho, papel, volúmen, livro, revistas, CD-ROM, espaço virtual... Alguém sabe aonde vai parar essa tecnologia toda? A resposta é “Não vai parar!” Continuará o conhecimento a ser registrado e conservado para as gerações futuras, para estas se orientarem, para prosseguirem sua tradição, assim como para, contrariando-a, revigorá-la. Por outro lado, a resposta poderia ser esta outra: “Vai parar no lixo!” Sim, é o que pode acontecer quando autoridades, de forma ignorante, egotista e autoritária, tratam o conhecimento como se este fosse produto descartável, como se fosse uma planta que brota sem ninguém plantar, regar, cuidar. Suas prioridades são sempre manter-se no poder, tê-lo nas mãos, empregar familiares, enriquecer, enganar, considerando os fatores da aparência sempre a suplantar os da essência.
Quando ouço falarem de certo episódio ocorrido alguns anos atrás na Agência Distrital de Mosqueiro, protagonizado por Paulo Uchôa, remeto minhas memórias para aquela Alexandria invadida e pelo crime hediondo contra a cultura humana perpetrado na queima de sua histórica e riquíssima biblioteca, perdendo-se lastimavelmente um tesouro de acervo jamais recuperável. Pois é, Uchôa “precisava” exacerbadamente de um auditório para suas infindáveis e inúteis re(i)uniões. Então, facílima decisão: jogou fora os livros da (até aquele momento) Biblioteca Cândido Marinho Rocha. Esta instituição foi inaugurada em 1987. Poderíamos, nós mosqueirenses, estar festejando seus 20 anos de fundação. Contudo, agora só podemos nos considerar de luto, por sua ruína precoce, por sua morte prematura. Morte de causas não-naturais, assassinato, na verdade.
Marinho Rocha nasceu em 14/06/1907 e faleceu em 16/11/1985. Deveríamos, neste ano de 2007, estar comemorando seu centenário de nascimento, ele que é autor de, entre outros livros, Ilha, capital Vila, publicado em 1973, romance ambientado na Ilha de Mosqueiro, no período de 1930 a 1943, no qual põe em ação personagens ‘reais’ e fictícios, a viver em um espaço bucólico e paradisíaco, de “uma ilha perfumada com amor” (O Liberal, 13/05/1973). Mais que justa homenagem darem seu nome à biblioteca, depois de dois anos de falecimento. A família do escritor, é preciso esclarecer bem esse fato, doou seus livros para ajudar a compor o acervo de nossa biblioteca. Qual não será o espírito de revolta com que sua família encara o fato de Uchôa ter mandado jogar fora os livros?
O tempo passou. Uchôa passou. Getúlio, outro agente distrital, também passou, assim como Pedro Hamilton. Agora, está na vez de Maria da Glória. É para ela que fazemos a pergunta:  Que é feito de nossa biblioteca? São dez anos de penúria cultural, com sua inatividade. Se bem que a falta da biblioteca é só uma mostra da ausência total de projetos, tanto da Prefeitura de Belém quanto da Agência Distrital daqui. Mais que isso: pode-se chamar de irresponsabilidade pública mesmo. Não há nada, absolutamente nada de estimulante sendo realizado aqui na Ilha nos setores de Educação, Cultura, Lazer e Desportos. Se nada é feito nesse sentido, o que acarreta esse fato? A juventude, que deveria ter sua energia canalizada para essa área, que deveria brilhar como expoente, por exemplo, da música, da literatura, da pintura, do futebol, do vôlei, etc., acaba por ser aliciada pelo traficante, pelas gangues de rua, freqüentando cotidianamente a seccional; enfim, como diz o chavão, acaba ‘virando caso de polícia’.
Há, no entanto, um consolo. O prédio ainda está lá, de pé. Certamente, a Biblioteca Pública nasceu de um decreto municipal. O prédio existe, e ainda existe, no papel, o tão saudoso Templo do Saber. O renascimento dele é imperativo para que possamos crer em utopias, como a da libertação do mosqueirense do subemprego, da informalidade da subocupação como caseiro ou da única e incerta via da construção civil (ajudante de pedreiro, por exemplo). Uma biblioteca revigorada dará certamente mais alento a quem com este quase já não sonha contar. Uma biblioteca, mas não só de livros, uma biblioteca total (com livros, claro!), mas com periódicos também, mapas, cds (de música e também livros digitais), dvds, computadores com acesso à Internet (biblioteca virtual, nesse caso).
Lógico, duas décadas atrás a realidade de Mosqueiro era outra. A população, inclusive, aumentou geometricamente. É provável que o prédio da antiga Biblioteca precise de ampliação. Ou que outro prédio seja construído, ou até adquirido, noutro lugar. Muitas são as opções. Uma só delas não é mais aceitável: a inexistência da Biblioteca. Sua ausência está sendo e será, se nada for feito, um grave fator de comprometimento do futuro da gente de nossa terra. Por causa disso, a Articulação de Esquerda (AE), uma das tendências do PT em Mosqueiro, está decididamente empenhada em levar adiante uma campanha para fazer renascer das cinzas nossa querida Biblioteca, propondo a circulação de um abaixo-assinado (em todos os bairros, em todos os seguimentos populacionais, veiculado em instituições escolares, postos de saúde, centros comunitários, etc.), com milhares de assinaturas, destinado às autoridades e órgãos competentes, para que estes tomem vergonha na cara, e atendam esta demanda mais que urgentíssima de uma população que não mais pede e sim grita por este direito mais que justo.


Sábado Cultural, em prol da Biblioteca Pública.



17/11/2007  Coreto da Pça Cipriano Santos, na Vila.