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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Urbe

Por Alcir Rodrigues

Belém pa Telégrafo

 

Minha cidade é um

rio de asfalto monstruoso,

para onde afluem vários

igarapés, na correnteza

levando-trazendo gente,

gente a pé, de bicicleta, moto, carro,

como num gigante pêndulo urbano:

o vaivém de almas e de vozes,

e de anseios longe de serem realizados...

ciadade 3

 

Mas e eu, nesta cidade, sem canoa

para pilotar, sem enchente

e vazante para marcar

meu tempo, meu o-que-fazer,

por que saio como um boto,

nadando/andando sem destino

pelos rios-asfalto-piçarra, buraqueira,

escrevilendo minha vida

nos passos (mal) dados

à sombra dos espigões

dos edifícios, muros gigantes,

torres-cercas, fraseando

uma história sem

início e fim, apenas

meio, um rascunho,

um borrão, uns garranchos...

uns tropeços?...

ciade 5

 

Sou ilha, rodeado de asfalto,

cercado por edifícios,

vigiado por faróis de veículos,

impregnado pela fumaça

dos seus escapamentos,

atacado por assaltantes

e constrangido pela multidão...

cidade 7

 

A cidade, em mim, é lugar

onde nada fiz além

de perambular aos tropeços,

caminhada sem rumo,

como a leitura em que

constantemente se voltam

páginas não entendidas,

porque mal lidas, mal

escritas, mal vividas...

ciade 7

 

Poderia passar uma borracha

permanentemente nesse

capítulo mal escrevivido

de minha vida?

Isolar esse momento,

como isolado andei por lá?

cdade 2

sábado, 12 de novembro de 2011

O grevista convicto

Por Alcir Rodrigues

Dignidade

Aproveito o ensejo da atual greve estadual de professores (também sou um deles, um grevista), para inserir uma repostagem de outras greves, um texto que elaborei com o propósito de abordar alguns aspectos de uma longa, desgastante e penosa greve contra o governador Almir Gabriel (também alcunhado por alguns de Cara de Rato, ou Rato Fujão), quando alguns companheiros, já combalidos pelas ameaças ditadurescas, que nada mais eram senão tentativas de desmobilização da categoria ao estilo de quem só tem como argumento os sofismas (um eufemismo para mentiras) e força bruta, aproveito este ensejo para elevar, espero, o moral da ‘companheirada’, com palavras de incentivo e coragem…

greve

Juntamente com aquela tarde, a reunião já findava. Aparentemente, alguns professores, hesitantes, queriam retornar às aulas. Alguém, calmamente, começou a falar:

─ Vocês conhecem, meus companheiros, O poema “Congresso internacional do medo”? Não, não conhecem? Permitam-me lê-lo: “Provisoriamente não cantaremos o amor,/ que se refugiou mias abaixo dos subterrâneos./ Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,/ não cantaremos o ódio porque esse não existe, / existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,/ o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,/ o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,/ cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,/ cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,/ depois morreremos de medo/ e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.”

Vocês gostaram? É, alguns, sim... outros menos, outros nem tanto... não é mesmo?

Bem, esse poema, Drummond o publicou no livro Sentimento do mundo, em 1940, durante a II Guerra. Havia realmente no ar o forte clima de angústia, dúvida sobre o futuro do mundo, sobre a liberdade. Pairava na atmosfera uma nuvem cinzenta-enegrecida: o medo, intensamente chovendo sobre a Terra, o medo.

Mas o que se sente agora, entre pessoas do movimento (ou mesmo ─ melhor: principalmente ─ entre aquelas que não aderiram a ele e, muito provavelmente, jamais aderirão), o que se sente não é precisamente o que se pode chamar de medo. Comparado àquela época de real terror, guerra, miséria, morticínio, este nosso momento aprisiona-nos numa abstrata e imensa masmorra de paredes espelhadas, que refletem não mais que um medo irreal, um edifício de aflição ─ desabando sobre nós, mergulhando-nos no mar abissal da fobia, um medo, uma angústia fictícios.

Lei

Que nos pode acontecer, afinal? Irmos para uma guerra e lá perecer/ Sermos levados para guetos ou campos de concentração e trabalhos forçados nazistas e, finalmente, para as câmaras de gás e crematórios? Talvez Jack, o Estripador, nos aterrorize? Quem sabe o Bicho-Papão? Talvez um meteoro caia sobre nós?!... É, é bem possível... ou não? Certamente, somos nós todos excessivamente mais imaginativos que todos os personagens do Sítio do pica-pau amarelo juntos, ou possivelmente mais que o próprio Monteiro Lobato. Por isso, digo: FOBIA, é apenas isto o que oprime nossos corações atormentados. Estamos algemados, e, provavelmente aprendemos a ter afeição pelas algemas.

Quem se importa

Se não tenho medo, é o que querem saber? Claro que tenho! Só os loucos, ou idiotas de carteirinha, afirmam não ter medo. Possivelmente, tenha algumas, senão várias fobias. Entretanto, constantemente faço esta reflexão: se me acovardo hoje, quem ou o que serei eu no futuro? O presente que se acovarda torna-se o futuro que se nega, com uma pesada carga na consciência. O presente metamorfoseia-se no passado do amanhã. No futuro, quero ter orgulho do que fui e fiz neste momento. E não quero a tola postura de hoje me engolindo num assombroso vórtice, no futuro: este vórtice devorador conhecido como remorso.

Não gostaria de ser repetitivo, mas insisto nisto: Digam-me:”Que passado escolheremos agora para o nosso futuro?”

Alguns, sem saber direito o que faziam, quiseram aplaudir. Chegaram outros a subvocalizar talvez uma, duas sílabas, num quase murmúrio, mas calaram-se, como a maioria o fez. A indagação ecoou nas consciências de todos. A mudez, só a mudez foi ouvida ali naquele momento. Contudo, melhor resposta veio dois dias depois, na segunda-feira: a ausência de todos se fez repleta presença de coragem e união daquelas pessoas.

Governador

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

África pós-colonial

Por Alcir Rodrigues

crian

No campo minado,

            a Inocência brinca,

na pele

             de crianças

contentes...

mina

 

Os pais, nas minas

garimpam os diamantes

que alimentam

certa riqueza,

que sai dali

para a Europa;

dali para o Japão;

dali para Cingapura,

para Dubai,

para os EUA...

diam

 

Também fica ali,

mas para uns poucos, apenas:

os senhores da guerra

e da política.

           Movidos pela Ganância,

são profissionais exterminadores,

étnicos e da inocência,

que transformam crianças

em “guerrilheiro” sem causa,

jovens sem porvir,

                     homens sem propósito,

mulheres enviuvadas,

violadas e prostituídas,

mães solteiras,

                 órfãs de filhos, estes

mutilados pelas minas terrestres,

e pelo abuso de poder,

que se camufla em uma

falsa revolução...

mult

 

Pedaços de utopia

vão apressadamente levados

para as precárias instalações médicas,

e dali para o necrotério,

quase irreconhecíveis...

Guerr

 

Nas cidades, a guerrilha.

No campo e na selva, também:

a Violência torna comum

a vida de todos,

                      pobres ou ricos,

mulheres ou homens,

crianças, jovens ou velhos,

negros ou brancos.

                                      Ela já não assusta.

                     Não assombra ninguém:

   Ela é banal...

 

                                  O sangue, ali, é a cor da moda!

Os raios do sol são vermelhos,

a chuva é líquido vermelho.

Rios vermelhos serpenteiam

                                   pelos vales,

                                         e desembocam

             em um mar de sangue...

 

Os Sonhos vão-se embora,

            juntamente

com a Alegria, com os remédios,

com a comida, levando embora

       a mínima Esperança,

que também já agoniza.

Quem veio de mudança

e se instalou

          de forma perene

foram a Fome e a Doença,

               que paridas pela Guerra

crescem bem nutridas

em todos os territórios por ali,

                                         inclusive

no coração e na mente

dos seres humanos.

               A irmã mais nova

já foi plenamente gestada

pelo ventre da Guerra…

crian2

 

Se a Violência, a Fome,

               a Doença e a Morte

são paridas pela Guerra

(e esta é filha legítima da Ganância),

          o Ódio foi abortado

como um inumano monstro disforme,

incumbido de aniquilar

                                 de vez

             a Paz,

e sepultá-la em tumba oculta,

sem Glória,

                nem clamor ou Saudade...

Só que a Paz não jaz em paz!...

Travestida de Fênix Renascida,

ela subjaz em latência,

germinando/brotando

              fortalecendo-se

à espera da Harmonia,

que há de vingar um dia,

nem que seja o último da vida,

           ali, naquele continente desolado!…

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Caruaru é meu destino (Dizem por aí...)

GEDC0951

Cumpro, todas as noites,

Este carma, esta ‘mardição’...

Sobrevoo ruas, casas, prédios...

O cemitério passa lá embaixo,

A igreja já ficou para trás,

Junto com a praça,

O cinema, o mercado,

O trapiche e a praia...

 

Sei que o Caruaru é o meu destino...

Avanço rumo aos igarapés...

 

Tudo é soturnidade!...

Por quê? Por que desta sina?

Que fiz eu? Que mal cometi?

Contra quem? Quem sou eu?

Que metamorfose é esta?!...

Chegam as matas, o frio vem,

Trazido do manguezal e das águas...

 

Do meu propósito me aproximo...

 

O mundo é triste, lá embaixo.

Aqui, a coisa não é melhor...

Nem vivalma vejo, só névoa:

Ninguém para assustar ou surrar.

Passa o Tamanduaquara, passa;

Passa o rio Murubira, passa;

Sigo o Pratiquara adentro...

Lá no Caruaru pousarei:

Quero ver a filmagem.

 

Dizem, dizem por aí: o tal filme,

Este que está sendo feito agora,

Dizem, é sobre mim...

 

Matinta

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Praia Grande (Baía-do-Sol)

SANY2289

Minhas pegadas na praia

hão de quase nada durar...

Talvez antes da maré cheia,

apague-as a chuva,

a frequente chuva

da Baía-do-Sol,

que encharca não apenas

o seio da terra,

mas o coração deste escriba,

liquefazendo lembranças

de um outrora tão volátil

quanto esta tequila

que agora mesmo bebo

―enquanto estas linhas

carimbam o papel―,

com imaginárias mãos dadas

a caminhar de cabo a rabo,

nesta ainda agreste paisagem

da Praia Grande erma de gente,

longa enseada de saudades...

Quantos Tupinambás foram aniquilados,

para que este torrão se tornasse nosso?...

(É a arguição

que meu fantasma

faz em direção às ondas.)

E seu bramido me responde

em meio a lamentos

e maldições

ininteligíveis para mim,

trôpego bêbado, perdido

entre sons, letras e sentidos.

Ah! Praia Grande...

Praia Graaande...

Graaaaaaaaaaannnndddeee...

Mergulho e me perco,

nas ondas me lavando e levando,

indo e sumindo imergindo e emergindo

no mar do sono e do sonho,

líquido fim de encantamento

em molhados braços de Morfeu e Uiara...

Ah! Praia Grande...

Praia Graaande...

Graaaaaaaaaaannnndddeee...

O vento forte da baía traz do horizonte cinzento

a chuva em chicotadas de pingos

sobre as águas e areias,

apagando quase de todo

as minhas tortuosas

pegadas...

Ah! Praia Grande...

Praia Graaande...

Graaaaaaaaaaannnndddeee...

SANY2294

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Capelinha secular

Por Alcir Rodrigues

iscj

O sagrado Coração de Jesus

pulsa gracioso

na paisagem-luz do Chapéu-Virado,

secular coração

arquitetado em pedra

e cimento e fé cristã,

mais de um século e meio

depois de os Cabanos

ali lutarem e morrerem

por seus ideais.

 

Suas vozes ancestrais, em uníssono,

clamam no vazio do panorama

da madrugada: “Nossa luta,

nossa morte,

hão de não ser atos vãos?”

 

Só as estrelas respondem

em um pulsar trêmulo,

linguagem secreta

que só ao tempo cabe

a tarefa de decifrar...

capela scj

Os chalés (ou Tempus edax rerum! )

Por Alcir Rodrigues

 

Chalé em ruína

Os chalés, na orla

                                    da Beira-Rio

são os Moais desta Ilha...

vigiam a baía,

em uma atemporal expectativa,

anacrônicos monumentos

silenciosos de uma Era

que os consome a cada

hora ingrata que passa

e lhes acrescenta

uma rachadura

uma goteira

uma parede ruindo

seja pelo tempo

seja pelos cupins

ou pelo olvido...

 

O luar deixa pingar

seu leite impalpável

em lamentos brancos

sobre seus telhados seculares,

como vaticínios mais agourentos

que o canto do rasga-mortalha...

Tempus edax rerum!

Chalé em ruína a Chalé em ruína b

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A fábrica

 

ScannedImage

Óleos e essências

no passado longínquo.

Mais tarde, tornava o látex

―o sangue branco da seringa ―

a valiosa borracha,

o ouro brando da Belle Époque

                daqui.

Hoje, apenas fabrica sonhos,

nem sombra do que o foi:

o tempo passando uma borracha

nesse passado de glória!...

 

             Entretanto,

também fabrica uma outra realidade,

mitificando esta mais óbvia

do eu-aqui-agora, matando

nossa fome ilhoa de alimentos do imaginário,

oferecendo à mesa

o Mistério da Cobra Grande,

administradora de fato

do fantasmagórico prédio,

ruína de um fausto

que soterra o Ontem

sob os escombros

                   do Agora.

Imagem 45 025

Obs.: esta foto é recente; já a anterior é bem antiga, cedida a mim pela D. Deuzuíte Barros de Oliveira.

terça-feira, 28 de junho de 2011

No Porto Artur

Por Alcir Rodrigues

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A vista desliza pela paisagem equatorial...

 

A água e as ondas

no combate contra o muro...

 

O Chapéu-Virado...

O Farol, o Hotel, a Ilha...

A Baía de Marajó

bebe o céu azul equatorial,

onde os barcos resvalam

em fina película líquida

e vêm ancorar no mar de meus olhos,

bem no interior de minha íris...

 

O ritmo de vai-e-vem constante

quase me hipnotiza...

 

Ao lado, a morena-flor

―suas mãos nas minhas ―

me oferta uma outra vista,

de um jeito assim tão hipnótico,

onde sempre posso ancorar meu olhar

em plena paz...

domingo, 15 de maio de 2011

Praia grande

Por Alcir Rodrigues

Cópia de Praia Grande - Mosqueiro

I

Independentemente das furiosas

surras das marés altas,

que com suas ondas fustigantes

―línguas líquidas de marinhos

dragões―

bombardeiam e carcomem as falésias,

ainda assim é

Grande,

bastante grande,

não tão grande como o rio-mar,

lá adiante, que é demasiado maior.

II

Aqui em frente a mim, a praia, clara faixa arenosa de longa longa margem,

em minha memória de um ontem bem recuado lá para atrás...

Pois no agora, tanta tanta tanta pedra onde só havia fina areia...

Meu coração, que tem muito de pedra,

no entanto, se confrange

quando olho o hoje

e só vejo o ontem

no interior de cujo âmbito habitam

o bate-papo e o bate-bola, além da bola-ao-copo

entre velhos amigos...

Na pele, ainda agora a impregnar-me

a brisa cálida e o por do sol dentro destes olhos,

a me contagiar com a alegria das cores do verão,

nos chamativos trajes de banho (o)usados,

trajes que passeiam no corpo de veranistas

em evocações intensas

na nostalgia desta paisagem plúmbea

do inverno amazônico

a povoar tudo aqui...

III

Tudo tudo passa em branco e preto e em cores

frente aos olhos,

enquanto a caneta banha de tinta a página esculpindo nesta praia de papel

estas letras incertas, evocando,

rememorando ocasiões

que se inscreverão na História

como imagens baças, máscaras de fatos,

e mascarados de Carnaval,

como o cara chamado Pelado,

entre outros quase anônimos, tais como ele,

figuras sempre repetidas ali pelo bar O Harém,

cuja antiga dona apelidou a todos os pinguços

(nós, brincantes do Bloco Tá Feio)

de

Caras-de-espanta-freguesia!...

IV

Pingam as chuvas frias no corpo

e a pinga nos lábios...

As piadas riem de nós,

as pescarias

e avoados de peixe

e siris assados na brasa também

não se esquecem de nós,

coisa mais que fácil de fazer

para aquelas belas banhistas hipnotizando

os que mendigavam por apenas

uma inverossímil recíproca troca de olhar.

Desenha-se com contornos nevoentos

Um panorama em que ainda subsistem

as faveiras, a solitária árvore da beira

próxima à linha d’água de nossos frequentes banhos,

afastada razoavelmente da ilha de pedras.

Os ônibus de piquenique e as brigas

frequentes, naquela época, eram um tosco atrativo já meio tradicional, até

V

As ondas agora, em suave e incessante falecimento,

na praia e, por isso mesmo, neste papel,

não as posso ver só como fenômenos,

mas como ecos,

como vozes saudosas

de épocas mais promissoras, que se fazem assim nóstalgicas,

soluçando lamentos por um grande bem perdido, recôndito,

que estas pardacentas águas,

de propósito,

vão diluindo, liquefazendo,

como mensagens de letras em transparências

quase imperceptíveis,

que emanam das linhas e retornam para

a vaguitude de meus pensamentos,

perdidas em sinapses estéreis,

ondas mortas,

vazias,

           vagas ondas,

que vêm e que vão,

     trazendo e levando

             momentos já perdidos,

contudo, em parte recuperados por esta grande praia/página

                        chamada memória.

Não só a minha, mas inclusive a tua, a nossa...

A memória de todos que estiveram lá... e aqui também...

terça-feira, 29 de março de 2011

Big Brother é o circo televisivo

Pão e circo 2

Por Alcir Rodrigues

(Em 2006, ao me submeter a um determinado concurso, elaborei a “redação” abaixo, uma das exigências da prova. Na verdade, deveria atualizar o texto; contudo, em linhas gerais, pouco ou quase nada mudou em relação às afirmações feitas. Posto isso, segue o texto, sem nenhuma alteração. Aproveitando o ensejo em que mais um Big Bosta acabou –infelizmente, só para outro iniciar—, republicamos esta matéria, para a reflexão do leitor.)

Já dizia o imperador romano Comodus que o povo precisava "de pão e de circo" ― em latim, PANIS ET CIRCENSIS ―, ou seja, comida e diversão. A população romana foi iludida por ele, alienada dos graves problemas por que passava o Império.

Hoje, já não é o circo o grande atrativo da massa, mas a televisão, que não cumpre seu papel social. Deveria oferecer uma programação variada, havendo espaço para temas diversos: arte, cultura em geral, esporte, política e economia, saúde, saneamento, diversão, etc. Porém, a concorrência mercadológica pela maior audiência, referida pelo estudioso Erasmo Borges, criou um ambiente de selvageria: um programa imita o outro, baixa o nível, tudo se faz pela maior audiência, porque aí se terá um patrocínio mais encorpado, geralmente no horário nobre.

Se a televisão é o circo moderno, é apenas indústria do entretenimento. E se "vinga" o programa, vem uma enxurrada de outros parecidos: Casa dos Artistas, Fama, Big Brother, etc. Todos são a mesma "cara", encarnados e esculpidos, trazendo à tela só o entretenimento fácil, ilusório, alienante, porque não debatem as mazelas sociais nem propõem mudanças. Mas, se assim o fizessem, decretariam sua própria extinção.

Não importa qualquer aparente virtude ou quaisquer caracteres qualitativos dos participantes do BBB: carisma, simpatia, sinceridade, lealdade, pois tudo isso é escamoteado, já que o que estava em jogo era R$ 1.000.000,00. Tantos zeros "transformam" os ideais humanos e disfarçam a verdadeira essência do ser. E os índices de audiência podem sugerir que a televisão dá ao povo o que este precisa. Só que esse povo jamais foi consultado sobre isso. Oxalá pelo menos o "pão" de Comodus fosse hoje transformado em alimento cultural. Mas estamos longe disso. Muito longe.

Pão e circo

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/9867/1/Big-Brother-e-O-Circo-Televisivo/pagina1.html#ixzz1I1KgchVn

sexta-feira, 4 de março de 2011

Tá Feio: Ironia e irreverência na avenida

(Este texto foi elaborado no calor dos eventos do Carnaval 2008 e está incompleto, porque sem dados atuais. Precisa de correções, ajustes vários, em diversos sentidos. Todo tipo de contribuição é bem-vinda).

Peço que se dê atenção à “Advertência”

 

Tá Feio: ironia e irreverência na avenida
(pequeno contributo à memória)

 

 

Tá Feio! Tá Feio!
O homem sem cueca,
E a mulher
Sem porta-seio...

 

 

 

por
Alcir Rodrigues

 

Pará
2008

 

 


Advertência

      É necessário alertar que o texto a seguir foi produzido a partir de pesquisas não-formais, mas não por isso anticientíficas, valendo-se da observação empírica e reflexão demo-rada, mas sobretudo das idiossincrasias do autor, de suas memórias, de diálogo com compa-nheiros (de labuta e, principalmente, de copo), de suas convicções, de seus erros, de seus acer-tos também... Não é (nem poderia sê-lo) um texto definitivo. Trata-se de um esboço, um in-centivo ao desafio de que outros, certamente bem melhormente que eu, tratem do tema apai-xonante, que é tentar recuperar resquícios de tempo perdido, nos nichos recônditos da fugaci-dade irreversível das nuvens passageiras no céu dos fatos cotidianos. Não se trata de mostrar o que foi que aconteceu, de fato, mas de levantar um véu turvo que permita vislumbrar ao me-nos uma silhueta do que é, do que foi e, acima de tudo, do que será o Bloco Carnavalesco Tá Feio a partir de hoje. Temos certeza de que a dúvida não é inimiga do saber, pelo contrário, é um desafio ao brio do pesquisador/intérprete dos fatos e das mentalidades. A tentativa é que esse texto tivesse um teor ensaístico e um viés interdisciplinar, no entanto limitado em muito pelos parcos conhecimentos no HD de quem o escrevinhou. Em suma, tudo aqui consiste em uma tentativa. Por isso, parafraseio aqui as palavras de Brecht, pela tradução de Fernando Pessoa: pensem em mim com indulgência!

 

 


Desfilando com o Bloco Carnavalesco Tá Feio: ironia e irreverência na avenida

image

Fig. 1: foto de Edmilson L. Braz
Carnaval 2006

* Achamos por bem identificar os/as brincantes para que, futuramente, os/as leitores deste documento não sofram do mesmo tipo de apagamento que motivou a elaboração deste escrito: (da esquerda para a direita, primeiro os adultos, depois as crianças) Aldo, Daniele, Santana, Lindo (Gonçalo), Vanessa e Moisés, Alcir (o então Presi-dente), Daniel, Sheyla, Rick, Adriana e Arnaldo, Helen, e Beca; Caio Vinícius, Caio Campinas, Vítor, Tavinho (André Gustavo), Ariane e Arícia (oculta atrás do Rick) e Amanda.

         Ter nascido e vivido minha vida inteirinha numa sociedade como a brasileira, diversa, heterogênea em sua complexíssima pluralidade de manifestações culturais, faz-me crer que fui abençoado pelas divindades que regem os destinos dos seres humanos. Meu país, no remoto período pré-cabralino, povoado por milhares de nações indígenas, vai ser conquistado e colonizado por uma nação europeia, que quis –e obteve imenso êxito nesse intento—vestir o índio, como o disse muito bem Oswald de Andrade, com seus trajes culturais europeus, escravizando-o não só física mas cultural e ideologicamente “falando‟. Fez o mesmo com os africanos que desterrou e escravizou. Não foi, de modo algum, uma postura que mereça elogios. Todavia, desses lamentáveis fatos resultou um espesso e rico caldo cultural, que nos caracte-riza e nos denomina hoje como povo brasileiro. Some-se a isso a também importantíssima contribuição dos imigrantes (italianos, germânicos, polacos, japonas, por exemplo). A riqueza cultural brasileira é motivo de agigantado orgulho. Sou, pois, vaidoso, nesse sentido.
          Entretanto, se eu, se nós nos envaidecemos, é por causa justamente de nossa diversidade. Somos uma nação socioantropologicamente heterogênea, com todas as implicações que tal fato possa acarretar. Sendo assim, é de se esperar que autoridades e órgãos públicos competentes implementem políticas, projetos, programas e criem eventos que primem por enfatizar e valorizar essa riqueza advinda de nossa maravilhosa diversidade. Há espaço -- quer dizer, deveria havê-lo -- para apoio institucional (ou não) às diferenças e às minorias. O grito de todos deveria ser ouvido, e todos têm direito de manifestar individual e coletivamente suas idéias e opiniões, já que vivemos em uma democracia.
             No entanto, em nossa “Ilhamaravilha”, como canta Chico César, em vez de se dar um banho de democracia e de livre-expressão, como é típico do período carnavalesco, sofremos uma tempestade de alta opressão, tendo em vista o “empate” (Obrigado, Márcio Souza, pelo livro Empate contra Chico Mendes, de onde tomo emprestada a palavra), sim, o “empate” das “autoridades‟ e instituições --entenda-se, Agência Distrital, principalmente –- neste ano de 2007 contra o Bloco Carnavalesco Tá Feio. A dita-DURA acabou, em tese; a Censura, parece que não. Pensou diferente, é empatado, obstruído, obstaculizado. Talvez porque, enquanto se observa, predominantemente, nas agremiações carnavalescas ilhoas, por meio das letras de ncia atualmente question das lembranças da “merencória infância”, como nos diria um Drummond de Andrade, em vez de tudo isso, o Tá Feio assume sua vocação para a denúncia, por meio de uma postura de irreverência, inclusive retratando realisticamente a inépcia dantesca das autoridades e instituições “competentes”.
             Por essa atitude louvável, o Bloco é, ao invés de premiado, punido. Emprestando as palavras do poeta Eduardo Alves da Costa, tentaram, num ato de voraz prepotência, “roubar nossa luz e arrancar nossa voz da garganta”, ao declararem os organizadores do evento carna-valesco da Segunda-Feira Gorda/2007 o término antecipado do desfile das agremiações, desa-tivando o sistema de som e dispensando o carro-som que acompanharia o Bloco (último a desfilar nessa noite). Todavia, numa atitude resoluta e corajosa, que faltou e falta aos organi-zadores do evento, vassalos de joelhos trêmulos de suseranos ignorantes e cerceadores de di-reitos básicos, do povo e do funcionalismo municipal, o Bloco sai à rua, seu palco máximo de sonho, e na garganta, no gogó, seus brincantes e vocalistas, com a preciosa colaboração da Bateria da Estação 1ª de Maracajá, divulgam sua Mensagem, vendem seu peixe, para o azar de quem queria vê-los emudecidos e o povo, ensurdecido. Mas, quem teve olhos para ver, viu; quem teve ouvidos para ouvir, ouviu. E suas mentes entenderam certamente a Mensagem. Foi uma vitória da tenacidade consciente contra a prepotência ignara.
           Historicamente, os que oprimem sempre quiseram obediência incondicional. Quem se rebelou e quis lutar por liberdade, sempre pagou um preço altíssimo, com possibilidade de perder, até, não raramente, a própria vida. Por causa disso, de Sócrates até Chico Mendes, passando por Spartacus, por Zumbi dos Palmares, pelos Cabanos, Ghandi, Nelson Mandela, Tchê Guevara, Luther King, a Guerrilha do Araguaia e mesmo John Lennon, todos estes re-beldes contestadores foram considerados espécies de vírus, sobre os quais caíram impiedosa-mente os reacionários antivírus defensores do status quo vigente, que alimenta o fausto do G 7, no nível macroeconômico, e, no micro, a alta burguesia brasileira, inclusive aquela mais parasitária (banqueiros, políticos, por exemplo), que se nutre da corrupção que a robustece e é causa do miserê da ampla maioria do povo brasileiro, apelidada desgraçadamente por a-q-u-e-l-e ex-presidente de “descamisada”.
               E, por citar o plano do micro, o Bloco Tá Feio toma para si essa atitude engajada de ser na Ilha esse vírus da contestação. E, para quem não sabe, é uma agremiação que, na espi-nhenta e pedregosa senda que trilhou, e vem ainda trilhando, passou pela Glória (o triunfo) e pelo ostracismo e quase ruína. Mas, como uma Fênix, como comparação feita em um recente Manifesto de protesto de sua “Diretoria”, sempre se reergueu de suas próprias cinzas, e voltou a brilhar, como uma vermelhante estrela em sua grandeza singela. Nasceu, o Bloco, da extin-ção da agremiação chamada A Grande Família, lá pelos anos finais da década de 70, e veio a se consolidar a partir dos anos iniciais da década de 80 do séc. passado. Calcula-se em torno de 30 anos de existência. Mais que Bodas de Prata de irreverência que merece o respeito de todos.

             Em vez de mil e uma, um milhão e mil e uma histórias têm os brincantes desse Bloco para decantar em prosa & verso. Em tempo, quando se dissolveu A Grande Família, e a fa-mília que a organizava cedeu os tambores para um de seus filhos e seus amigos formarem um Bloco de Sujos, como se dizia à época, surgiu o questionamento: Qual o nome a ser dado? Entre outros, surgiu o irretocável Tá Feio, por influência (Excepcional, diga-se!) da Escola de Samba Quem São Eles, que teve esse nome como seu primeiro. Tá Feio porque a situa-ção socioeconômica da época “tava ruça”, como se costumava dizer. Tempo de “inflação galo-pante”, “fantástica”, como o então ministro Delfim Neto a qualificava. Governo Figueiredo, quase fim da dita-DURA. É desse período o “refinado‟ refrão, que igualmente o era seu “samba-tema”:


Tá Feio! Tá Feio!
O homem sem cueca,
E a mulher
Sem porta-seio...


             Pode-se observar, da problemática óbvia, em questão, do baixo ou nenhum salário, do poder aquisitivo baixíssimo, ou na verdade zerado, que não daria sequer para comprar um sutiã ou uma cueca; além de tudo isso, veja-se o bom-humor, a sátira da letra, coisa já mais madura que nos primórdios do nascimento do Bloco, em que só se dava um grito de guerra, o tempo todo, repetidamente:


Ê eeeoôôôô, eeeôôôô
Tá Feiôô!

 

            É dessa fase que vem a mística de que Tá Feio é o Bloco mais “enjoado” do Mosquei-ro, no sentido de ser o mais persistente, o que mais vezes “passava” na frente do palanque oficial. Segundo alguns, há um número hiperbólico de 33 vezes e meia. Inclusive, certamente nesse carnaval aí das 33 vezes e meia, disseram, os organizadores do evento, que “aquela” seria “a última passagem do Bloco”, que após sair dali, não poderiam os brincantes voltar. Então, o que se fez? Ora, deram meia volta, uma ré, e o Bloco atravessou a Avenida no senti-do inverso. Foi hilário, porque passou pelo meio rasgando os outros blocos e atrapalhando suas baterias, já que na do Tá Feio, ninguém sabia batucar.
            Ainda na década de 80, um brincante, Edivaldo Teles de Sousa, o Dico Medalha, uma vez perguntado sugestivamente qual seria o tema do Bloco para o Carnaval daquele ano, saiu com esta deliciosa pérola: “As horríveis noites de Carnaval”, o que combinaria com o nome da agremiação: Tá Feio. Aí, um outro brincante, o Vitor Barata, compôs um samba bem bacaninha, que segue abaixo:


As horríveis noites de Carnaval


Hoje a Vila está em festa
Tá Feio o seu povo vem saudar
Com horríveis noites de Carnaval
Este é o seu tema popular

Tem rasteira, tem empurrão
Tem madame fugindo com o Ricardão

Vem morena,
Que hoje ninguém é de ninguém
Tira a mão do meu, morena
Se não, amanhã vai ter neném

Vai ter neném
Sim, senhor
Este é o Tá Feio
Que o povo aclamou.

          É possível que certas opiniões, e até com certo crédito, atribuam à letra um quê de ingenuidade, o que não deixa de ser parcial verdade. Mas é crucial que observem a crítica acerca da promiscuidade, com visão „machista‟, ou, no mínimo, patriarcalista, mas certamente crítica, com relação à deterioração das relações conjugais, bem típicas do período momesco. Importante também é a referência ao comportamento agressivo de algumas parcelas de brin-cantes que atrapalham ou mesmo estragam esse período, que deveria, como condiz com sua origem, ser de festa e de inversão de valores. É nessa época, e só nela, que o pobre tem vez e voz: o morro, a baixada, a invasão; o operário, a doméstica, o desempregado têm seus poucos minutos de fama e de poder dizer, como no famoso samba de enredo, “Sou na vida um mendigo, / Na folia eu sou rei”. Além desse fato, naqueles anos perto do fim da década de 80, a AIDS já vitimava muita gente. A gravidez não programada e precoce era uma constante. Es-ses fatos não mudaram muito. Mas no sambinha há um alerta contra o não-planejamento fa-miliar. Não é tão ingênua assim a letra, portanto, como pudemos ver. Sem falar que a maioria das pessoas tem uma visão bem ortodoxa acerca do que é a beleza na passarela. Joãosinho Trinta rompeu com isso, na linha de Pablo Picasso, que disse que “O feio é belo”, quando desenvolveu na Av. Marquês de Sapucaí o tema, pela Beija-Flor, “Sapos, cobras, urubus, larguem minha fantasia”, em 1989. Ora, o Tá Feio tinha por tema, em 1986, “As horríveis noites de carnaval”. Que tal?
          Apesar de toda essa digressão, resultado óbvio de uma inevitável empolgação, visto o autor destes parágrafos ser brincante inconteste do querido Bloco, e já ter também exercido o ilustre cargo de presidente no biênio 2005/2006 (o que muito lhe dá orgulho), apesar desse labiríntico volteio, retorno ao assunto: o „empate‟ contra nosso Bloco. Muito nos envaidece o fato de que nada adiantou o autoritarismo, a prepotência, o engodo, a atitude vil, de má-fé, pois o Tá Feio não fez feio, pelo contrário, voltou à passarela no dia seguinte, Terça-Feira Gorda, e, para a alegria geral da multidão, e ira desmesurada das „autoridades autoritárias‟, deslanchou, com o sambinha que segue abaixo:


Se bobeias, danças (2007)


Não pode bobear,
Não pode bobear, (refrão)
Pois se marcar bobeira,
O guarda vai pegar (O guarda vai levar). 

Embarquei na História,
E quem contou confirmou,
Carnaval é com o Tá Feio,
Se bobeou, dançou. 

Na nossa Ilha ta tudo diferente.
Nos blocos, política muda horário,
Apreende aguardente, não respeita a tradição.
Qual é a tua, meu patrão?
Vai prender bandido,
E larga o folião.


O que nos respalda é o apelo do povão.
O bom transporte é só pra barão,
Que vem de Siena,
De estranha transação.

Fig. 2: foto de Zuleide Oliveira

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        Ser popular, não ser populista: assim é o Tá Feio. Até no nome, tendo em vista usar “tá”, em lugar de estar; feio, em lugar de crítico, ou precário. O coloquial, ou até o popular (ou mesmo a gíria), são modalidades de língua freqüentemente usadas nas letras de sambas da agremiação (“Se bobeias, danças”, por exemplo). Em decorrência disso, os componentes da “ala de compositores” consideram que estaríamos contribuindo com a conscientização para o fato de qualquer ação coletiva ser, incontestavelmente, política, na mesma linha de um Berthold Brecht, em seu “Analfabeto político”. Se nada fosse mencionado pelo Bloco acerca das atitudes arbitrárias das “autoridades”, estaríamos contribuindo às avessas para uma formação ideológica de caráter reflexivo, inovador e interventivo. Pelo contrário, por meio de uma letra engajada, o Tá Feio deslinda a “máquina do mundo” controladora e, por isso, cerceadora de direitos, e alerta para o fato do desrespeito à tradição. Que tradição? Ora, os blocos, o carna-val e os simpatizantes da festa popular, todos estes independem, de fato e de direito, de normas institucionais falso-moralistas. Cabe às instituições e às autoridades tão-somente organi-zar e contribuir com o brilhantismo da festa, que, entre outras conseqüências benéficas que traz em seu bojo, aquece o turismo e, é claro, a economia local, gerando emprego e renda temporários. Todavia, a igreja, a seccional e a agência distrital fizeram o desfavor de tentar pôr a pique, naufragar mesmo, o carrus navalis, a Festa do Povão.
          O que, na verdade, deveriam ter feito era: a igreja, nada, pois a festa do período mo-mesco é tradição inclusive anterior ao cristianismo, é Festa profana (é pagã), como nos lem-bra aquele samba maravilhoso da Escola de Samba União da Ilha, lá do Rio. A festa religiosa vem depois e é da alçada da igreja, realmente (a Quaresma e a Semana Santa, por exemplo). E à seccional, o que caberia? Ora, bem simples, permitir que o período festivo transcorra “ordeiro” (Se é que se pode usar este termo!) e pacífico. Dar segurança, fazer seu feijão-com-arroz, do tipo prender bandidos, basicamente. Reprimir não ficar bancando, na pessoa de seu comandante-em-chefe, o legislador de meia pataca, o que deve decidir por horários e trajetos de desfiles. Se assim o fizessem, a igreja e a (falta de) segurança pública, se pelo menos deixassem o carnaval em paz, o nada que perpetrassem ou sabotassem para obstruir seu transcorrer, já seria um algo muito por agradecermos. À (des)agência distrital caberia a logística: pôr realmente a Funbel e CTBel a serviço da criação de um ambiente favorável ao bom desenrolar desta tradicional festa legitimamente mosquei-rense. Não, em vez disso, implementou uma política de desvalorização do carnaval de Blocos e de hipervalorização da subcultura massificada e alienante (sabe-se lá o porquê da escolha e do pagamento escusos), do ritmo simbolizado pela “banda” calypso (em verdade, leia-se colapso) -a-dor muni-cipal Falsiomar (o Dê-Costas-para-o-povo) e reproduzido “in-gloriosa-mente” pela agente (ou Paciente) distrital, que, se ajudou em alguma coisa, certamente foi para a mediocrização de atitudes de presidentes e diretores de agremiações de carnaval, que se fizeram de vassalos e até mesmo servos ou escravos do pensamento medíocre, seja ele advindo da religião, do falso-moralismo, portanto; seja advindo da segurança pública ou da agência distrital, da incompe-tência generalizada, portanto. Três instituições incredenciadas para gerir o Carnaval, já que o Carnaval é, também, como dado cultural de nosso povo, uma res publicae (coisa pública): pertence ao povo, ao público, não se presta a decisões que, além de impopulares, são particu-lares.
           Mas não é de hoje que o Tá Feio mantém-se como agremiação que se propõe a, utopicamente que seja, despertar o sentido do viver coletivamente, do questionamento ideológico acerca de decisões arbitrárias de nossos (?) líderes gestores municipais, estaduais e/ou federais, da participação social, política, cultural que nos permitirá, um dia, intervir positivamente na realidade circundante, promovendo a melhoria das condições de vida da população, nem que seja, de momento, apenas em nossa comunidade; contudo, já seria um começo. Em 1999, por exemplo, o Bloco desfilou com o samba O Real virou cocô. Em 2000, com o Brincadeira de peteca. Já em 2006, com o irreprimível Tem culpa todo mundo, só não tem culpa eu. A partir daqui, passamos a comentar esses três sambas, cujas letras seguem abaixo: 

 
O Real virou cocô (1999)


Tá feio, tá feio,
O Real mente, sim senhor.
Tá feio, tá feio,
O Real perdeu valor.
Tá feio, tá feio...
O Real virou cocô!

Não tem salário, não tem emprego,
O homem sem cueca,
E a mulher sem porta-seios.
A brincadeira retornou
E eu to no meio,
Como dizia minha avó:
“Menino, isso não tem mais jeito!”

Tá feio, tá feio...

FHC foi pras Caymans
Com as estatais.
Essa alquimia é arapuca.
Ei, Malan,
Subiu o Dólar.
Me deu pavor tal Carnaval,
Foi o povo que dançou.

Tá feio, tá feio...


          Em 1999, crise na Rússia: após escapulir, alguns anos antes, da crise mexicana e da crise dos tigres asiáticos, o Brasil e o Real pareciam, assim como o próprio povo brasileiro, esperar pela queda de uma “Espada de Dâmocles”, perigo iminente, sempre a pairar sobre nossas cabeças. Na verdade, se uma superdesvaloziração ocorreu, deveríamos já estar por esperá-la, como gato escaldado que tem medo de água fria. Sempre o Real estivera sobrevalorizado artificialmente, estratégia político-eleitoreira de Fernando Henrique Cardoso, presidente ree-leito que, mais do que qualquer outro que já tivemos, demonstrou ser um verdadeiro doutor em Demagogia, altamente diplomado pela Universidade do Tomalá-dá-cá. Deveríamos estar já de sobreaviso, mas esquecemos a lição da História. Daí que é sempre salutar rememorar os fatos. Por exemplo: O que FHC e Malan Real-Mente REALizaram para manter a inflação sob controle e com que objetivos? Entre outras ações, as que a princípio mais deram na vista foi criar uma quase-paridade do Real frente ao Dólar, privilegiando, assim, as importações, man-tendo estáveis os preços dos produtos dessa forma (lembremos da entrada no mercado dos R$1,99 sino-paraguaios). 
          Outra REALização dessa natureza foi a desindexação : a negociação salarial via sindi-catos e patrões passou a ser a bola da vez. Tudo era negociação, tudo era desindexação. Caso contrário, seríamos assombrados de novo pelo aterrador fantasma da inflação. Sabe-se hoje, “aqui pra nós‟, que desindexação tornou-se sinônimo de achatamento salarial, principalmente dos funcionários públicos, em qualquer esfera (união, estados, municípios) administrada pelo PSDB. Reajuste, mesmo, só o do salário mínimo, e era um reajuste, digamos... mi-ni-mo, ora. Aqui no Pará, por ede sempre fugir de discussões com o funcionalismo acerca de reajustes salariais, com o muito preciso epíteto de fujão, o Rasalário do funcionalismo em míseros 7%, depois de 8 anos de mandato com reajuste zero. FHC e Malan também escancararam as portas alfandegárias nacionais para tudo quanto é produto estrangeiro (para controlar a inflação, se-gundo esses veneráveis gurus), quebrando assim as pequenas e microempresas já existentes ou que tiveram a ousadia de entrar no mercado nessa época. Os dois deuses da economia pós-moderna, de quem estamos tratando agora, tiveram também a extraordinária idéia de que se alguém tivesse o sonho de comprar algo, ou tinha de ser à vista ou no cartão, com uma parcela apenas, e só. Contudo, com a criatividade típica de uma terra brasilis, inventamos o cheque pré-datado, tentando fugir ao pacote de maldade dos dois “demônios das micro e macroeconomias” globalizadas.
          Contudo, para pôr em real funcionamento o maquiavélico projeto de duas décadas no poder, FHC e Cia precisavam de dinheiro em caixa, e precisavam REALmente praticar a teo-ria neoliberal do estado pequeno, que se responsabilizaria apenas pelos setores da saúde, edu-cação, habitação, etc. Daí venderem a preço de banana as estatais, entre elas a Vale do Rio Doce, todo o sistema de telefonia e sistema elétrico, e até rodovias passaram para as mãos generosas da iniciativa privada, com gordos reajustes de tarifas todo ano, sempre acima da inflação. Só não privatizaram a Petrobras porque seria projeto a posteriori, na era Serra, que não veio a se se não os complexos petrolíferos Tupi e Júpi-ter, recém descobertos, já teria um dono, e este não seria o povo brasileiro, seria um grupo empresarial. Vemos, até aqui, o desdém do governo peessedebista por questões sociais: o em-prego, o salário justo, o poder aquisitivo, a saúde, a educação de qualidade. Tudo se resumia a Plano Real e combate à inflação, mas não à corrupção, não ao contrabando, não ao desvio de divisas, como por exemplo, para o paraíso fiscal das Ilhas Caymans, tudo isso tão enfatica-mente denunciado na letra do samba O Real virou cocô.
            Depois de tudo isso, FHC, haja vista a derrota fragorosa de seu fantoche (Serra) para Lula, sem ter mais com que apelar, saiu-se com essa: Ter medo do que Lula iria fazer (pagaria o FMI, por exemplo?) com o plano econômico (só econômico, pois de social quase nada ou nada se viu) forjado pelo PSDB, com o projeto de encastelar no poder por duas décadas os capa-pretas do partidão. FHC fez terrorismo verbal. Mas nada adiantou. Perdeu! Dessa época, o Tá Feio, então, deixou-nos este retrato tão crítico quanto os outros sambas já produzidos pelo bloco, tão crítico como escarnecedor, uma tal marca da irreverência e ironia bem peculia-res à produção da Ala dos Compositores Feios, já tão tradicional da Agremiação.

Brincadeira de peteca (2000)

500 anos: Tá feio!
Sem Independência, sem Abolição,
Sem consciência,
Meio de milênio de exploração. 

Sassarica pra lá
Siririca pra cá,
Até quando o Tio Sam vai enfiar?
Sassarica pra lá,
Siririca pra cá,
Até quando nós vamos agüentar?

A Independência nada de chegar...
Com os Estates na peteca
De palmo em cima
O Brasil a errar.
Com essa tal fartura,
Chega de ilusão, chega de extermínio.
E Colonização.

Sassarica pra lá
Siririca pra cá,
Até quando o Tio Sam vai enfiar?
Sassarica pra lá,
Siririca pra cá,
Até quando nós vamos aguentar?


          Ano dois mil: 500 anos de descobrimento, ou de conquista, opressão, colonização? Quem tem o que festejar nesta nossa Terra Pindorama? Os índios, os afro-descendentes, os pobres? As prostitutas, os menores abandonados, os aposentados ou pensionistas com seu salário ou renda mínima, para também manter uma vida mínima? A letra deste samba trata de produzir um profundo questionamento que já ecoa em diversos setores da intelligentsia brasi-leira, por ser de caráter socioeconômico-histórico-cultural. Põe também uma carrada de areia sobre a idéia ufana de que se vive num país em que o que se planta cresce, floresce, frutifica... e todos colhem desses frutos de uma mais que utópica e mítica cornucópia. País perfeito, in-dependente, sem preconceitos de qualquer natureza, país onde não há explorados, país desen-volvido e rico, que não sofre pressões externas... Tudo falácia!
           Sabemos do banquete festivo organizado pelas e para as elites para esse festejo, mas, como sempre, não houve um banquete dos excluídos. Analisemos os contrastes das comemo-rações: Sarney Filho, então ministro do turismo, deixou naufragarem R$500.000,00 com a construção da Nau Capitânia, que nem chegou a navegar. Disse El-Bigodón Sarney Jr. que não dominávamos a tecnologia para construir aquela nau. O risível é que há mais de 500 anos os portugueses construíam tais embarcações, que inclusive navegavam, e bem, caso contrário, não teriam chegado a estas terras, para as colonizarem. Nesse dia 21 de abril de 2000, os ex-cluídos índios pataxós (que escaparam de seu extermínio sabem lá os deuses como) quiseram participar dos festejos, sendo eles representantes legítimos dos povos autóctones, ou seja, os primeiros habitantes, no que foram reprimidos violentamente pela polícia, que baixou o pau nos indígenas. Tal ato uma, a do so-ciólogo e, portanto, de quem teria de buscar por todos os meios implementar políticas sociais que promovam a igualdade social; outra, a do frio e frívolo economista subalterno que rende reverências aos economistas do FMI e do Banco Mundial (leia-se, obediência ao G-7).
          O verso “Sem Independência, sem Abolição” é representativo dessa denúncia da su-balternidade cardosiana e malaniana. Que país é independente com uma dívida tão grande, e sempre obedecendo a metas propostas de superávit primário ditadas pelo FMI? Os EUA, usando de todos os recursos escusos, como bem o sabemos, controlam-nos política, econômica e belicamente, com reflexos gritantes em nossa cultura de colonizados que, em muitos casos, nos deixamos ainda e passivamente ser. E a abolição? Já dizia Lobão, “A favela é a nova senzala”. Os presídios estão superlotados, e a grande maioria da população carcerária é com-posta de afro-descendentes. O problema maior, duro de encarar inclusive, é que a grande mai-oria dos brasileiros tem pouquíssima noção desses fatos, como ilustra o verso “Sem consciência”. É um problema de leitura (do mundo e da palavra) e, por isso, de falta de investimento financeiro e humano no setor educacional. Porém, combatendo tal déficit, o Bloco se exprime por meio de um basta de tudo isso (“Chega de ilusão, chega de extermínio. /E Colonização”), até de maneira erótico-satírica, metaforizando a condição menor do Brasil, de quem serve, de quem sempre perde nessas relações de poder, quando diz “Com os Estates na peteca/ De pal-mo em cima/ O Brasil a errar”.
          Em 2005, após alguns anos sem sair na Avenida, já que funcionava, por problemas pecuniários, como Bloco fixo, o Tá Feio retorna e retoma sua missão. Como a Diretoria, re-cém empossada, não tivera tempo para quase nada, o samba Brincadeira de peteca é o que sai a defender o posicionamento da Agremiação na Segunda-Feira Gorda desse Carnaval. É o único caso de repetição de enredo no Bloco. Mas isso não é um privilégio somente do Tá Feio, pois também no Rio de Janeiro tornou-se comum tal prática; contudo, lá o “vale a pena ver de novo‟ não tem nada a ver com falta de finanças, mas sim com colapso de criatividade. Já o Tá Feio, considerando o que nos ensina filosoficamente Zé Simão (o Macaco Simão, quase correligionário nosso por questão de sintonia mesmo), aproveita muito bem termos nas-cido no “País da Piada Pronta‟ para tematizar nosso cotidiano durante a „quadra momesca‟. E fazer humor, nesse caso, até como fator de denúncia, é como o Casseta & Planeta diz: “Fazer humor é uma coisa séria1” É o Que o Bloco é.

Tem culpa todo mundo, só não tem culpa eu (2006)

Tem culpa eu? Tem culpa eu?
Tem culpa todo mundo, 
Só não tem culpa eu!

De quem é a culpa,
Todo mundo quer saber.
Mosqueiro amarelou,
No Dê-Costa votou
Pra mudança acontecer.
Do SAAEB a água não rolou,
Só a conta é que chegou.
(refrão)


Nesta Ilha do Já-teve,
Já teve rasteira e empurrão,
Já teve mulher casada
Saindo com o Ricardão.
Essa política é besteira.
No transporte tem soco e trampescão.
Todo dia é confusão!
Na antes Gorda terça-feira,
Não há mais subvenção
(refrão)

A Glória do povo é ver para crer,
Ver navio aportando,
Ver a Ilha crescer,
Prometeu e não cumpriu.
E o povo continua a ver navio.
(refrão)


          O comum das pessoas irá dar relevo imediato à questão do duplo sentido ensejado pelo refrão (“Tem culpa todo mundo, / Só não tem culpa eu!”), tendo em vista seu caráter irônico –- talvez em tese mais adequado seria dizer “maldizente‟ –-, por causa de certa sugerência intra-estrutural motivada por um cacófato, que por ser tão evidente não necessita de maiores co-mentários. Mas, de modo algum, tal cacófato é gratuito, visto ser apenas um mote para se co-mentar a “culpa” pela eleição de um inepto para o governo municipal de Belém. Como o Blo-co é composto por cidadãos politizados, com formação por muitos rotulada de, por exemplo, anarco-socialista-sindicalista-petista-de-boteco, por aí assim… -- conforme disse certo ex-progressista-agora-ultradireitista-conservador-peessedebista-enquanto-no-poder --, mas que naturalmente prefeririam ser vistos como progressistas, a letra desse samba de 2006 não poderia nunca deixar de condenar as atitudes arbitrárias do ex-quase-nunca-talvez-futuro-médico Falsiomar Costa e suas mentiras em relação às “melhorias” que “iria” implementar na Ilha de Mosqueiro. Tudo balaela! A incompetência grassou e grassa ainda, como no exemplo do SAAEB, citado na letra. Quiseram, por meio de falácias, atribuir a incompetência própria à incompetência alheia, dizendo que a “culpa” era da gestão anterior, pelo péssimo serviço de não-fornecimento de água, diga-se de passagem, água mineral, vermelha de ferro, e negra de carvão mineral, certamente! Outro fato gritante é o caso do aumento do preço da passagem de ônibus urbano para ir para e vir de Belém: para resolver a questão da escassez de coletivos, toma aumento de tarifa! Quem ganhou? Como sempre... o empresariado. O povo, ficou chu-pando o dedo. Ficou a ver navios. Os ônibus, em número insuficiente, são disputados, ou e-ram, antes da nova tarifa de R$ 2, 20, a base da porrada, popularmente falando (“...tem soco e trampescão”). O Dudurão também não é dos que têm a mente e a mão abertas para a cultura, ainda mais se se tratar de verba para incentivar o Carnaval, o que faz qualquer cidadão sensa-to, sem precisar ser gênio, ou superdotado, inferir acerca da visão de mundo totalmente obtusa da parte desse gestor municipal, visão obtusa e turva que o impede de enxergar as amplas possibilidades turísticas e econômicas, além das culturais, claro. 
          Curiosíssimo, neste samba –- fato este quase imperceptível, até que se prove o contrá-rio, pelo menos -– é o dialogismo, a tal intertextualidade mantida entre esta letra e a letra do samba de Vitor Barata (registrado páginas atrás): é o Bloco homenageando a si mesmo, coisa ainda não testemunhada por mim, senão no caso da Portela há mais ou menos uma década, não estou bem certo. Outro intertexto importante é ter o samba devolvido, talvez vingado mesmo, os imprompérios de um “samba” de encomenda mercenário, pago “pra falar mal” da gestão municipal anterior à amarelidão covarde posta no poder, que deveria corar, ficar rubra de vergonha pelo fato de vomitar estes grunidos “A estrela vermelha não brilhou, se apagou”... Que tal lhe parece isso? É um absurdo conceptual, dialético-fenomenológico tal, que nenhum filósofo de vadiagem de beira-de-praia iria conceber sem se abasbacar de tal estapa-fúrdia idéia. Ora, se não brilhou, como poderia ter se apagado? Ou por outro lado: como poderia apagar-se, sem ter brilhado antes? Ou seja, brilhou, depois se apagou. A causa gera o efeito. Lógica matemática simples: combustível gera combustão, fogo, queima, e exaustão (o combustível acaba), aí, o fogo acaba... ops! A-p-a-g-a. Isso! Problema resolvido, basta pensar um pouquinho, basta p-e-n-s-a-r.


Agente vai, a gente fica (2008)

Agente vai, a gente fica!
Tchau Mal Vadeza, até nunca mais.
Tchau Mal Vadeza, que ninguém te atura mais.

Agente vai, a gente fica!
Gritou a dor da Ilha.
Estão querendo nos calar,
Mas o Tá Feio não vai se aquietar.
Como bem mostra a tradição:
A gente vai empentelhar.
Mal Vadeza e Bi Godão,

Não adianta intimidar.
Se for por falta de um adeus: Adeus, adeus, Mal Vadeza!
Mosqueiro assim te batizou,
Por conta dos desmandos teus.
Esqueces de te lembrar
Que a voz do povo é a voz de Deus.

Cansados de tanta repressão,
Saudades não vais deixar.
Vou ficar como estás:
D. COSTA, pra não te ver passar.
Vê se faz um favor:
Leva contigo

A sujeira que ficou por aí.
Nossa tarefa agora
É tentar reconstruir.

Agente vai, a gente fica!
Tchau Mal Vadeza, até nunca mais.
Tchau Mal Vadeza, que ninguém te atura mais.


          Em 2005, como já foi esclarecido, o Tá Feio, por motivos econômicos e falta de tem-po, e não por causa de lapsos de criatividade, desfilou cantando um enredo passado. Era o primeiro ano do administra-a-dor Falsiomar, na verdade, alguns meses apenas, cedo ainda para uma avaliação acurada sobre as velhacarias que já emergiam da lagoa da gaiatice -- naquele momento, represada-- da qual mais tarde ondas e ondas, já não mais represadas pela hipocrisia, começam a banhar as praias das notícias podres que inundariam as colunas de jornais sobre o governo municipal. É daí que surgem os sambas Tem culpa todo mundo, só não tem culpa eu (2006) e Se bobeias, danças (2007), seguidos do deste ano Agente vai, a gente fica, mote garimpado de um artigo de jornal do conhecido Prof. Claudionor Wanzeller (autor do livro Mosqueiro: lendas e mistérios).
           Como nos anos anteriores, o que mais fortemente emerge como caracterização desse samba, como elemento de escrita, de letra, é seu engajamento, seu tom não de denuncismo barato, mas de efetivo verismo de conteúdo. Tanto que, sabendo que iria receber novamente um “puxão de orelha” do Tá Feio, a agente distrital, enviou convite para diretores da Agremiação, alegando repasse de verba subvencional para o Carnaval. Maquiavelismo Puro! Usando desse sofisma, na verdade sua ação foi de quem, passando por cima da lei da liberdade de expressão -–que preside qualquer sistema democrático, onde quer que esteja no mundo todo --e tentou intimidar os representantes do Bloco com processos no Fórum, no Ministério Público, etc., e ainda deixou no ar a idéia de o Bloco ser impedido de desfilar na avenida, caso ela sofresse críticas pessoais. Acima de tudo, não queria seu nome mencionado na letra do samba. Até intimação judicial o presidente (Carlos Augusto Fonseca Mathias) rece-beu para se apresentar no Fórum, na quinta-feira (31/01/2008), pouco antes dos dias de Car-naval.
          É aí que ocorre o acontecimento mais excepcional em toda a história do Tá Feio: a exposição do fato na mídia. Avultam notícias nos jornais locais, seja em curtinhas, seja em colunas de dimensões maiores. Os documentos a seguir comprovam essa luta, em que as palavras vencem o terror (“a pena vence a espada”), a pressão, o abuso de autoridade. Jamais antes se produziu tanto documento escrito sobre o Tá Feio. E nada mais sólido do que a cobertura jornalística para comprovar a veracidade de tudo o que já vinha sendo posto às claras pelos componentes da nossa Agremiação Carnavalesca: o governo municipal atual, para qual o Tá Feio sugere que peça para defecar e saia de mansinho, enquanto pode, que dê um “a-deus”, respondendo com o rabinho entre as pernas ao adeus já dado à agente pelo Bloco, esse tal governo que não gosta da verdade (visto seu comandante-em-chefe ser quem é, o Falsiomar), não gosta do bom-senso, gosta de bolsos cheios –os deles,claro que não os nossos! – e de ser bajulado por seus asseclas e ser bajulador de seus alcaides. E, não querendo ser (mas sendo assim mesmo!) panfletário, assim como o “adeus” dado à Glorinha Mal Vadeza antecipou seu „adeus‟ real, o povo de Belém (e de todos os distritos, incluindo Mosqueiro) dará esse “adeus” ao Falsiomar e seus Testas-de-Ferro/agentes distritais nas urnas, em outubro. É, o Bloco profetizou, aconteceu. É o novo Nostradamus, o Tafeiamus. Na verdade, era adeus por ser o último ano dos quatro da administração, que não se reelegerá, mas que bom que a saída foi antecipada. Falsiomar pensou: “Demito essa doida –ponho num cargo melhor em Belém -- e o povo mosqueirense come na minha mão de novo. Ela é só um testa-de-ferro mes-mo!...” Mas dessa vez não, Dudurão! Não vem que não tem: essa é nossa resposta. Contudo, o Tá Feio ainda sofre com o abuso de “otoridade”, pois o “dotô delega”, Armando Mourão, no momento move processo contra o presidente do Bloco. É, a luta continua, Companheiros!


Fig. 3: colunas dos jornais O Liberal e Diário do Pará, cobrindo o abuso de poder perpetrado con-tra o Tá Feio.

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Fig. 4: outras colunas de jornal. Uma delas bem elogiosa em relação ao Bloco.

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          Vale ressaltar que a mídia veiculou essas “colunas‟ entre os dias 24/01/2008 e 11/02/2008. Portanto, pouco antes e pouco depois do Carnaval, que para o Bloco foi um sucesso, talvez até mesmo devido à pressão sofrida, servindo como motivação. Vencer a dura batalha de um Davi contra um Golias, luta injusta mesmo, só veio a despertar, pelo desafio vencido, o sentimento de vitória do grupo como um todo. Mas, conforme disse o jornal, o Tá Feio já vinha dando “o tom do Carnaval” desde o dia 02/02/2008, quando sua Musa (a bela Lorena) foi premiada com o 2º lugar no concurso Musa do Carnaval de Mosqueiro 2008.


Fig. 5: foto de Alcir Rodrigues: bateria da Estação 1ª. de Maracajá (em grande parte composta por crianças), “puxando” o desfile do Tá Feio.

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Carnaval 2005


          A atual Diretoria do Tá Feio empreende no momento uma busca por documentos que evidenciem a origem mais exata possível do Bloco, no espaço e no tempo, e também no ideá-rio de seus organizadores. De modo quase um tanto simplista, seria trilhar um caminho de volta aos primórdios da Agremiação, revelando-nos as respostas para questões básicas, mas essenciais: quando, o que, quem, onde, como, por que e para quê. Ou seja: 1. Data de funda-ção do bloco; 2. O que motivou seu nascimento; 3. Quem podem ser considerados seus fun-dadores; 4. Em que local tudo se iniciou; 5. Como se deu tal natividade; 6. Que fato(s) ou e-vento(s) é(são) causa(s) dessa emergência da Agremiação; 7. Finalmente, quem o fundou, para que finalidade o fez? É uma tarefa laboriosa. Claro, para tal empresa, faz-se necessário ter os mecanismos, as ferramentas para tal „pesquisa‟. Alguns documentos já foram resgata-dos, muito bem conservados por Aldo Rodrigues, fiel depositário, e, na verdade, proprietário desse rico tesouro histórico.
          A metodologia a servir como “ferramenta‟ de pesquisa busca apoio, inclusive, na História Social inglesa, a History from bellow, a História vista de baixo, a partir da perspectiva da História Oral, com base nos estudos de Paul Thompson, exposta muito claramente em seu livro A voz do passado: história oral. Então, necessariamente, entrevistas serão feitas com pessoas diretamente envolvidas com o Bloco, principalmente em sua fase embrionária (idos de 1979), para maiores esclarecimentos sobre a origem da Agremiação, quais propósitos, efe-tivamente, levaram pessoas a dar à luz o Bloco Carnavalesco Tá Feio.

Fig. 6: letra do primeiro samba do Tá Feio (arquivo de Aldo Rodrigues)

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(Trata-se de um texto, ainda datilografado, como se pode observar, com algumas cor-reções e acréscimos, feitos a caneta esferográfica, possivelmente, pelo próprio autor, Vítor Barata. (Uma verdadeira preciosidade, muito cobiçada inclusive pelas tradicionais casas de leilão de Londres.) Na verdade, até hoje não se conhece bem ao certo a melodia deste samba, que era cantado conforme a criatividade e improviso do vocalista, além do compasso da bate-ria.) 

 
Fig. 7: letra de samba de 1989 e artigo publicado pelo jornal O Liberal, escrito pelo brincan-te/Historiador (que, na atualidade, coordena o Núcleo de Educação Indígena da SEDUC) André Alvarez, em 1989, em homenagem aos 10 anos do Bloco (também arquivo de Aldo Rodrigues).

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*(A letra do samba, no documento acima, discrepa, totalmente, das outras letras escritas pelos compositores auto-intitulados Os Feios, por ser uma letra que não enviesa pelo trata-mento dado ao tema, normalmente satirizando o modus vivendi e a ideologia capitalista e pseudo-liberal da sociedade brasileira, ou escarnecendo e ridicularizando a inépcia e a hipo-crisia dos políticos e governantes brasileiros, em se tratando de âmbito local ou nacional. Des-tinou-se a um desfile convencional, primeiro, único e último dessa natureza, pois há um con-senso entre tafeienses de que esse tipo de desfile não se coaduna com a maneira de encarar o mundo da grande maioria brincante do Bloco. Foi uma exceção, todavia apenas para ser lem-brado, ficou para a História, como comumente se diz 2. Já o artigo de André Alvarez, trata-se de um texto de tom passional de um historiador recém-formado pela UFPA, brincante-fundador, folião de carteirinha do Bloco. Não obstante esse fato, faz séria uma análise do con-texto histórico, político e cultural, local e nacional, daquele último decênio (1979-1989: fins da Ditadura e início da retomada dos governos democráticos), com o Tá Feio ali inserido. Dá uma breve pincelada no momento original da Agremiação, buscando dar luz sobre o porquê
2 Na época o presidente era Sérgio Rabelo Furtado, proprietário do Bar e Mercearia O Empório‟s. Certa ocasião, Sérgio explicou que programou uma reunião urgente para decidir sobre esse desfile, para o qual já havia recebi-do a subvenção da Prefeitura de Belém. Como quase não houve quorum, quase que teve de decidir sozinho sobre esse tal desfile num carnaval do tipo „convencional‟. 
do nascimento do Bloco, fazendo inclusive intertexto com o livro Nós que amávamos tanto a revolução, parafraseado no título do artigo: “Nós que amamos tanto o Tá Feio”.)

**Na época o presidente era Sérgio Rabelo Furtado, proprietário do Bar e Mercearia O Empório‟s. Certa ocasião, Sérgio explicou que programou uma reunião urgente para decidir sobre esse desfile, para o qual já havia recebi-do a subvenção da Prefeitura de Belém. Como quase não houve quorum, quase que teve de decidir sozinho sobre esse tal desfile num carnaval do tipo „convencional‟.


Fig. 8: Letra de samba de 1999: uma letra coletiva, que gerou bastante confusão para se chegar a um consenso sobre conteúdo/forma.

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(Uma letra engajada na denúncia e luta contra a hipocrisia, a inépcia, o descaso e a corrupção que marcaram os dois mandatos consecutivos neoliberais do tucanato, com os re-gentes maiores dessa orquestra se denominando Fernando Henrique Cardoso e Pedro Malan, e bem para a burguesia, vilipendiaram as estatais e venderam-nas a preço de sucata para a iniciativa privada, que lucra quantias faraônicas com elas, como a Vale do Rio Doce, por exemplo.)


Fig. 9: Letra de samba de 2006. Letra também coletiva, com um processo de composição seme-lhante ao anterior.

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(Em 2005, Duciomar, o Falsiomar, assume a administração municipal, como prefeito de Belém. Como a parcela consciente dos cidadãos já sabia, tal administra-a-dor fechou as torneiras das verbas destinadas à saúde e saneamento, educação, cultura, lazer, e especificamente no Mosqueiro, turismo e transporte público, apesar de ter jurado “pela fé da mucura” (como diz Gueiros parafraseando Raymundo Mário Sobral) que transformaria a Ilha num pólo 
turístico tal qual as ilhas gregas: tropeçaríamos em turistas, em vez de eles tropeçarem em jacarés, como cantou o saudosíssimo Mosaico de Ravena.)

Fig. 10: foto de Edmilson L. Braz
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Carnaval 2007
*Da esquerda: Armando (no cavaquinho), Arnaldo (vocal, na espera), Bruno Andrade (vocal), Leirson (apoio moral e etílico), Daniel (vocal), Leocádio (Raimundo, apoio moral e etílico) e, infelizmente, como intruso (alien), Pote, que não participa do Bloco.

 

Fig. 11: Lorena, 2ª colocada no Musa do Carnaval do Mosqueiro 2008, pelo Tá Feio

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Fig. 12: destaque para a imensa quantidade de brincantes do Tá Feio, um dos blocos que mais a-traiu público no Carnaval 2008.

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          Como é de praxe no cinema, na tevê, o Tá Feio também tem suas curiosidades, extras, seu making off (até mesmo aquilo que ficou rotulado, infelizmente pela globo -–com minúscula mesmo!-- como “Falha nossa!”), ilustrando uma história merecedora de ser evidenciada e divulgada para a posteridade. Para tal, seguem aqui documentos que ilustram, comprovam e podem servir como estímulo a que outras agremiações carnavalescas de Mosqueiro busquem suas raízes como blocos ou escolas de samba, instituições culturais, portanto, em eterno processo de construção histórica, inclusive de identidade, de pertencimento (como povo) a um locus amazônida, regional, mas nunca por isso disserido de um contexto mais global, de Pará, de Brasil, de América Latina. O local dentro do global. 

Fig. 13: Manifesto, em tom profético, referindo-se ao Tá Feio como uma Fênix, criticando o boicote contra o desfile do Bloco na Segunda-Feira Gorda de 2007. Na Terça, sairia com força total.

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Documento enviado à Fumbel, como reação à ameaça da agente distrital, solicitando espaço no desfile oficial do Carnaval da Ilha 2008.


GRCBC TÁ FEIO

O GRCBC TÁ FEIO foi fundado em 1979, após a inativação prematura da agremiação A Grande Família (aqui do Mosqueiro), da qual o Tá Feio acabou por herdar alguns brincan-tes/fundadores e instrumentos da bateria. O nome remonta aos primórdios da Escola de Samba Quem são Eles, que nasceu com o nome de Tá Feio. O propósito com que os fundadores criaram esta agre-miação foi pautado pelo inconformismo com o tipo de „carnaval para turista ver‟, o carnaval formal e tradicional, fantasiado e bem bonito, o que não corroborava com o contexto social, histórico, cultural, político e, principalmente, econômico, pelo qual nosso país passava então. Tudo passa a lembrar precariedade (Como se pode ler em “Tá Feio! Tá Feio! / O homem sem cueca/ E a mulher sem porta-seio”, cantado pelos brincantes de então), principalmente a partir dos anos oitenta: tudo ruço, tudo „tá feio‟, nesse período de ínfimos salários e inflação galopante de Figueiredo e Delfim Neto, e segue adiante com Sarney e seu Plano Cruzado. (E depois, para piorar, viria Collor.) Nessa época (1986), o Tá Feio assume sua vocação para a denúncia, fazendo crítica construtiva por meio de uma postura de irreverência, inclusive retratando realisticamente a inépcia dantesca das autoridades e instituições “competentes”. Seu enredo, nesse ano, teve como tema “As horríveis noites de Carnaval”, que seria repetido, nos anos a seguir, como “As horríveis noites de Carnaval II”, e assim por diante. Em 1989, no decenário do Bloco, o historiador André Alvarez publica um artigo no jornal O Liberal, com o títu-lo “Nós que amamos tanto o Tá Feio”, e o Tá Feio, pela única (e última!) vez desfila como agremia-ção carnavalesca formal, com fantasias, adereços etc., com o tema “Ao despertar da folia”, ato de de-cisão isolada da Diretoria, o que muito desagradou os brincantes em geral, já que o período carnava-lesco para eles deveria, como condiz com sua remota origem, ser não só de festa, mas também de in-versão de valores. É nessa época, e só nela, que o pobre tem vez e voz: o morro, a baixada, a invasão; o operário, a doméstica, o desempregado têm seus poucos minutos de fama e de poder dizer, como no famoso samba de enredo, “Sou na vida um mendigo, / Na folia eu sou rei” (Beija-Flor). E por sua pos-tura afirmativa, até escarnecedora em alguns casos, e por não baixar a cerviz jamais aos poderosos e seus desmandos, o Tá Feio, não é de hoje, foi constantemente boicotado, ou posto para desfilar em último lugar. Mas, como se diz, sempre deu seu jeito. O boicote, também econômico, custou ao Bloco ter se tornado Bloco Fixo, isto é, não desfilava, em anos intermitentes durante a década de 1990. Con-tudo, como uma Fênix, o Bloco ressurge pujante ainda em 1999, com o tema “O Real virou cocô”. Em 2000, com o “Brincadeira de peteca”. Seguem outros anos de Bloco Fixo. Em 2005, com dificuldades, sai na avenida repetindo o tema de 2000. Já em 2006, vem com o irreprimível “Tem culpa todo mun-do, só não tem culpa eu”. Em 2007, o Tá Feio emplaca com “Se bobeias, danças”. Agora, em 2008, já está sendo gravado o samba “Agente vai, a gente fica”, na linha dos anteriores, com forte teor de iro-nia, de irreverência e criticidade construtiva que sempre marcaram o Carnaval do Tá Feio, desde sua fundação até hoje. Ano que vem, festejaremos, com imensa alegria e inexprimível orgulho, as três décadas de aniversário de nossa Agremiação. Por causa de toda essa História de luta e de Carnaval, verdadeiramente, o GRCBC TÁ FEIO vem solicitar de V. Exª, respeitosamente, um espaço para brincar e abrilhantar o Carnaval no Desfile Oficial da Prefeitura Municipal de Belém, na Ilha de Mos-queiro. Certos de poder contar com sua ajuda, afirmamos as expressões de nosso apreço e considera-ção:


__________________________________________________
-Presidente
CPF nº 282. 740. 592-04
Mosqueiro,..... de janeiro de 2008.


Fig. 14: enredo provisório/2008, que acabaria por ser adaptado, sobrevindo o que foi desenvolvido na avenida --“Agente vai, a gente fica”. 
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Fig. 15: Letra provisória do samba de enredo Tá Feio 2008, elaborada por um dos brincantes da Ala dos Compositores Feios, Leocádio, o Frei Serapião, rarefeitamente conhecido por Raimundo Nonato. 
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Fig. 16: letra provisória 2008, com algumas alterações, com a base principal calcada na letra do Leocádio. 
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Fig. 17: outra versão, que sofrerá alterações ainda, até chegar-se à última e definitiva, já transcrita nas págs. 13 e 14. 
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Fig. 18: a versão inicial da letra, advinda de um insight (na Quarta-Feira de Cinzas/2007) tido por nosso amigo, o Pe-Tê, brincante e compositor, também, da Ala dos Compositores Feios, mas que aca-bou por ser substituída pela das págs. 13 e 14.

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Fim de uma história começo de outra


          Agora que, finalmente -- desculpe-nos pelo trocadalho do carilho--- chegamos aos finalmentes deste texto, como diria deliciosamente um Odorico Paraguaçu, é cabível falar do Amanhã: para o Tá Feio, o amanhã, o que será?* Os projetos são, principalmente: 1. Regularização do Bloco, com um estatuto já elaborado pelo Presidente, o Sr. Carlos Augusto Fonse-ca Mathias**, esperando apenas avaliação e votação em reunião ordinária. Com isso, o Bloco torna-se ONG cultural e passa a ter CNPJ e conta em banco; 2. Produção de um CD com os sambas de enredo do Bloco, gravados e remasterizados, para divulgação pública; 3. Escrever (e por que não reescrever?) a memória da Agremiação***; 4. Planejamento do tema, enredo e samba 2009, como homenagem ao Trigésimo (30º) Aniversário do Tá Feio, ao mesmo tempo em que homenageia o Santo Protetor do Bloco, o São Caralho. Projetos, projetos... Alguém pode duvidar da capacidade de o Tá Feio “realizar sonhos possíveis”?****

 

* Em letra de samba dos Piratas da Ilha, Bíndalo, o Sacola, pergunta: “E o amanhã, o que será?/ Quero o fim da bomba nuclear”. 
** Por curiosidade apenas, os presidentes anteriores foram, Antônio Rodrigues, Sérgio Rabelo Furtado, Antônio Rodrigues, Arnaldo Farias Rodrigues, Alcir Rodrigues e, atualmente, Carlos Fonseca Mathias, já citado, respec-tivamente.
***Viva Sócrates! : “Conhece-te a ti mesmo.”
****Palavras de Paulo Freire. 

 

 
Ê eeeoôôôô, eeeôôôô
Tá Feiôô!