Minhas pegadas na praia
hão de quase nada durar...
Talvez antes da maré cheia,
apague-as a chuva,
a frequente chuva
da Baía-do-Sol,
que encharca não apenas
o seio da terra,
mas o coração deste escriba,
liquefazendo lembranças
de um outrora tão volátil
quanto esta tequila
que agora mesmo bebo
―enquanto estas linhas
carimbam o papel―,
com imaginárias mãos dadas
a caminhar de cabo a rabo,
nesta ainda agreste paisagem
da Praia Grande erma de gente,
longa enseada de saudades...
Quantos Tupinambás foram aniquilados,
para que este torrão se tornasse nosso?...
(É a arguição
que meu fantasma
faz em direção às ondas.)
E seu bramido me responde
em meio a lamentos
e maldições
ininteligíveis para mim,
trôpego bêbado, perdido
entre sons, letras e sentidos.
Ah! Praia Grande...
Praia Graaande...
Graaaaaaaaaaannnndddeee...
Mergulho e me perco,
nas ondas me lavando e levando,
indo e sumindo imergindo e emergindo
no mar do sono e do sonho,
líquido fim de encantamento
em molhados braços de Morfeu e Uiara...
Ah! Praia Grande...
Praia Graaande...
Graaaaaaaaaaannnndddeee...
O vento forte da baía traz do horizonte cinzento
a chuva em chicotadas de pingos
sobre as águas e areias,
apagando quase de todo
as minhas tortuosas
pegadas...
Ah! Praia Grande...
Praia Graaande...
Graaaaaaaaaaannnndddeee...
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