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quinta-feira, 14 de abril de 2016

Pequenas reminiscências

Abre o baú, e dele saem
(como se da Caixa de Pandora)
aladamente todos os liames
do passado tempo,
fios de memória atando
objetos a lugares e pessoas
dentro de si,
que nasce e morre
na natureza-morta de fatos/fotos e desenhos,
de documentos,
de uma caneta-presente recebida
com muito orgulho, da escola...

Memórias dentro de si se inserem
e fora de si se disserem e evaporam
e têm gosto amargo...
e encharcam os olhos,
quando o baú se fecha
consigo dentro...

Um dos meus poemas prediletos



Morte do Leiteiro (A Cyro Novaes)

Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.

Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morados na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.

E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro...
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil,
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.

Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.


Autor: Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Do livro A rosa do povo. 23.ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2001,  p. 110.


A 1.ª edição deste livro é de 1945, que foi elaborado de 1943 a 1945, constituído por 55 poemas. É o mais extenso dos livros de Drummond.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Um contributo a uma futura História da Ilha do Mosqueiro

Deve-se observar, atentamente, a data da publicação: 06 de junho de 1859. Também o fato de que Mosqueiro é chamado de "ponta do Mosqueiro", "ilha inóspita" e que há uma "impropriedade do lugar do Mosqueiro" para ser sede de uma freguesia. Pois é, sede de freguesia. No entanto, sabemos que Mosqueiro, por informações de Cândido Marinho Rocha é:


"a 5.ª Concessão de terras para o patrimônio Municipal  de Belém. Paróquia pela Lei Municipal n.º 563, de 10 de outubro de 1868, Vila pela Lei Estadual n.º 324, de 06 de julho de 1895, instalada a 8 de dezembro do mesmo ano, passou a Patrimônio da Capital do Pará pela Lei n.º 753, [de] 26 de fevereiro de 1901.  Augusto   Montenegro governava o Estado do Pará" (ROCHA,   Marinho. Ilha, capital Vila. Belém: Falangola, 1973, p. 25-26).


É bem possível que se tenha que rever certas afirmações sobre a história de nossa ilha, com base em alguns documentos, como esse, baixado da Hemeroteca (coleção de jornais e publicações periódicas) Digital da Biblioteca Nacional.


Resultado de imagem para biblioteca nacional

Resultado de imagem para biblioteca nacional
                                                            

domingo, 10 de abril de 2016

Nossas fotos autorais da Ilha

                     Fotos da praia do São Francisco, de 2013.




Praia do Paraíso, por volta de 2004.



Cartões postais da ilha de Mosqueiro (alguns antigos e raros)


Provisioriamente, postamos apenas os postais, tentando posicioná-los dos mais antigos aos mais contemporâneos, ainda sem referências, o que será providenciado com mais vagar, cuidado e precisão, na medida do possível.




“Outra vista da Praça Matriz, em Mosqueiro, ornamentada para dia de festa.” (Coleção Victorino Chermont de Miranda). (BELÉM DA SAUDADE, 1998, p. 258). Informações compiladas in: MENEZES NETO, Geraldo Magella de. O ensino de História local a partir de fotografias: relatos de experiência no ensino fundamental no distrito de Mosqueiro-PA.  Revista Labirinto, Porto Velho-RO, Ano XV, Vol. 22, p. 91-104, 2015. ISSN: 1519-6674.

Esse postal retrata, na 1.ª década do séc. XX (vide data manuscrita: 20/2/907; ou seja: 20 fev. 1907), a Praça da Matriz de Mosqueiro, que de fato, hoje, é a Praça Cipriano Santos, ao lado da Praça Princesa Isabel, separada desta pela R. Juvêncio Gomes da Silva (homenagem ao primeiro carteiro de Mosqueiro). Destaque se dê aos trajes distintos de cavalheiros, damas e crianças, como se estivessem saído recentemente da missa dominical.

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Trata-se da mesma praça do postal acima, mostrada de um outro ângulo. Supõe-se seja foto em tempo posterior à de cima, por causa da relva e dos canteiros com vegetais plantados, certamente mangueiras (detalhes ausentes na outra), como era comum durante a gestão de Antônio José de Lemos (1843-1913), intendente (o prefeito da época) que governou Belém de 1897 a 1911, responsável por transformar a cidade, com a riqueza do Ciclo da Borracha (seu auge ocorreu de 1879 a 1912), em uma das mais modernas do Brasil. Pode-se perceber em 2.º e 3.º planos o mesmo coreto e a mesma igreja mostrados no postal anterior; nesse caso, em último plano, com o coreto quase encobrindo a imagem da igreja de Nossa Senhora do Ó, também chamada de Igreja Matriz.
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“Na foto, o tradicional trapiche da vila, localizado na Praia do Areião, inaugurado em 1908 pelo governo estadual, para atracação dos vapores que faziam a linha Belém-Mosqueiro.”(Coleção Victorino Chermont de Miranda). (BELÉM DA SAUDADE, 1998, p. 257). Informações compiladas in: idem, ibidem. 
O momento registrado pela foto sugere uma manhã de domingo, imediatamente à chegada de um vapor, por causa da multidão caminhando no sentido da ponte para a rampa, que sobe para as praças, hoje chamadas de Princesa Isabel, com seu monumento, e Cipriano Santos, com seu coreto característico. Estes três primeiros postais, como se pode perceber à esquerda e abaixo de cada um deles, tem a inscrição " Editor - E. F. Oliveira Junior - Pará". Fazem parte de uma coleção, portanto.
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Trata-se de uma imagem colorida mostrando, ao fundo, o trapiche da Vila. É um postal de 1911, de uma coleção denominada de Edição Pará Chic, n.º 40, cuja uma versão em preto e branco (logo acima desta) pude adquirir pela Internet, enviada até mim pelo correio a partir do sítio virtual Delcampe.net. A informação que aparece no meio e no alto da imagem é: "Pará, paysagem na Villa Mosqueiro".
Em primeiro plano, uma lagoa formada ali em frente do que seria décadas mais tarde o restaurante Kikaranguejo, próximo à Passagem hoje denominada de Jares Silva, quase em frente da Ilha de São Pedro, uma formação de pedral elevada, onde décadas atrás havia um monumento a São Pedro, destruído pela força das águas. Antigamente essa ilha teria vegetação, que fora desmatada por ordem do agente distrital da época. Um absurdo e uma barbaridade. 
Intrigante é a construção em madeira na faixa arenosa. Supõe-se que se trata de uma espécie de trocadouro de roupas. Fato curioso é poder, com um zoom, observar de que embarcação se trata a que está atracada no "pontão" flutuante.
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Folguedos populares num arraial montado na Praça da Matriz de Mosqueiro, cidade próxima a Belém, capital do Estado do Pará, por volta de 1910. Coleção de cartões postais denominada de Pará Chic, n.º 29. Referências: Do Brasil para as Américas, de João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo. São Paulo: Solaris Edições Culturais, 2012. A única diferença entre este postal e o outro logo acima dele é um ser colorido e o outro, preto e branco. Disponível em:http://www.solariseditora.com.br/brasil_america/br_pa_30.htm. Acesso em: 20 mai. 2016.
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Dados extraídos do Catálogo da Biblioteca do IBGE (© 2016 IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
Tipo de material: fotografia

Título: [Ilha] do Mosqueiro : Belém, PA
Local: [S. l.]
Editor: [s. n.]
Ano: [19--]
Descrição física: 1 cartão postal : color.
Série: Acervo dos municípios brasileiros
Notas: A Ilha de Mosqueiro, localizada a cerca de 80 quilômetros de Belém, oferece mais de 17 quilômetros de praias. Seu nome origina-se da prática chamada moqueio, método que os índios tupinambás, habitantes da região, utilizavam para conservar animais perecíveis. Com uma área de 212 quilômetros quadrados e uma população de aproximadamente 27 mil habitantes, Mosqueiro, ou Ilha do Amor, como é popularmente conhecida, é a maior ilha do município de Belém. Contém 15 praias de água doce, entre elas: Paraíso, Farol, Chapéu Virado, Bispo, Baía do Sol, Areião, Marahú, Praia Grande, Prainha, Murubira (praia mais frequentada da ilha), Porto Artur, Carananduba, Ariramba e São Francisco.
Disponível em: http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/472669/praias-de-agua-doce-transformam-mosqueiro-em-paraiso-natural. Acesso em: jul. 2015.
Assuntos: 
Belém (PA); Ilhas; Pará; Praias
Disponível em:http://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo.html?view=detalhes&id=42472. Acesso em: 20 mai. 2016.
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Esta foto foi ‘baixada’ do sítio virtual www.delcampe.net , onde outros postais da Ilha, raríssimos, antigos, belos e saudosos podem ser encontrados, para nossa alegria. Até o momento, estimamos que se trate de imagem clicada pelos fins da década de 1960 e meados da década de 1970. A Praia Grande é um nicho de melancólicas lembranças. Sonhamos que a Natureza possa se refazer e nos trazer de volta esta beleza de faixa arenosa tão frequentada e adorada por seus banhistas. Nossas pesquisas continuarão. Um abraço aos leitores deste Blog.
As informações contidas no verso do postal são estas (ao pé da letra): Como título:
"Belém 
Ilha do Mosqueiro
Praia Grande
Estado do Pará" 
Impresso por Paraná-Cart. N.º K/2.032. Comércio de Postais Ltda C.P. 305 - Curitiba PR - Direitos Reservados. RPC.
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Postais com vistas para a ponte Sebastião Rabelo de Oliveira, que nunca foi Ponte Belém-Mosqueiro, pois não liga o distrito à seu município matriz, que é Belém. Poderia ser chamada de Ponte Mosqueiro-Santa Bárbara, na atualidade. Talvez, pudesse ter sido chamada de Mosqueiro-Benevides, antes do desmembramento de Santa Bárbara de seu município matriz, que é Benevides.
De qualquer forma, a ponte foi inaugurada em 12 de janeiro de 1976, pelo então presidente Ernesto Geisel, o penúltimo dos generais ditadores.


Vista do Caramanchão da praia do Chapéu-Virado, bairro antigo da ilha de Mosqueiro. Ali, o pôr do sol pode ser vislumbrado em suas magníficas cores, sempre de forma única, se o céu não estiver nublado, claro. Este caramanchão já esta ali desde o início dos anos de 1960, pelo menos (o que pode ser atestado ao se assistir ao video sobre o aniversário da menina Ana Júlia, da tradicional família Chermont, no sítio virtual http://youtube.com/watch?v=G3yc-3vGgDM, no tempo de 4m 35s de  exibição, quando se pode ver o caramanchão). Assista no link abaixo:
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Vista também do pôr do sol na praia do Chapéu-Virado, com vista a partir da areia, logo abaixo do caramanchão.
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Postal com vista a partir do Caramanchão para a Praça do Chapéu-Virado. Em plano mais à frente e à esquerda está a Capela do Sagrado Coração de Jesus, inaugurada em 17 nov. 1909, mandada construir pelo senhor Guilherme Augusto de Miranda, como pagamento de uma promessa por melhora de saúde (uma graça alcançada). Ao fundo e ao centro, o prédio do Hotel Chapéu-Virado. Pode-se perceber pelos trajes (shorts curtos e justos, por exemplo) e pelos automóveis (Fuscas, uma Brasília e um Passat, ou um Corcel) que se trata dos anos em torno do final de 1970 até meados de 1980, fato também confirmado pelo bondinho puxado a trator, transporte público e típico daqueles anos.
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Esta sequência de postais (os últimos 5) estimamos que tenham sido produzidos pelos anos finais da década de 1970 até meados da década de 1980. São todos da EDICARD: Editora Cultural Ltda, de São Paulo.
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Um interessante postal que nos brinda com vistas de várias praias de Mosqueiro, local facilmente identificado pela palavra no centro. A primeira vista, à esquerda e acima, é do Chapéu-Virado para o Farol. A segunda, à direita e acima, seria o que o povo já chama de Praia da Ponte, que talvez deva ser chamada de Areão. Atracado no pontão flutuante um navio (pode ser um destes: Capitariquara, Mazagão ou Otávio Oliva). A terceira, à esquerda e abaixo, é um ângulo da praia do Chapéu-Virado, destacando-se um pé de muruci, que já não existe mais. Ao fundo, a Ponta do Maraú, com a Ilha das Guaribas. A quarta, à direita e abaixo, um ângulo da praia do Murubira. Trata-se de fotos clicadas em torno da metade dos anos de 1990.
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Estes dois últimos postais também são da EDICARD: Editora Cultural Ltda, de São Paulo.
Trata-se de vista da praia do Murubira, nome que vem da tribo que teria habitado aquelas paragens muito tempo atrás, os chamados morobiras, de etnia tupinambá. O local de onde foram clicadas as duas fotos recebe o nome de Muriramba, uma amálgama lexical das palavras Murubira e Ariramba, já a enseadinha do Muriramba delimita essas praias famosas daqui da ilha de Mosqueiro.
Compilamos estas informações da Internet, sobre tais fotos: 
O cartão em destaque foi enviado a muitos amigos espalhados pelo Brasil afora; é uma ótima lembrança daquela época."
Correção estas fotos foram tiradas da ponta do Ariramba no retiro Zuzu e mostra a praia do Murubira . ano 1982 ou 83 não lembro mais to ficando velho!!!"
Ambas informações estão disponíveis no sítio virtual: http://www.nostalgiabelem.com/2013/07/mosqueiro-na-decada-de-80.html. Acesso em: 08 jun. 2016.
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Postal com vista a partir do muro da arrimo da curva da praia do Chapéu-Virado (antiga Ponta do Paraíso) mostrando ao fundo a Praia do Farol, com sua Ilha dos Amores. Em destaque, na direita ao alto, o edifício Caramujo e o Hotel Farol, próximos da Ilha. Em destaque, à esquerda, o edifício Solar da Tatiana, que, diga-se de passagem, é uma construção transgressora da lei, pois na ilha de Mosqueiro, a rigor, só se 'poderia' construir prédio até três andares. Provavelmente, a foto foi clicada em um domingo, mas em período comum (nem férias nem fim de semana prolongado).
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Trata-se de uma vista invertida em relação ao postal anterior, pois a foto foi clicada do Hotel Farol em direção ao Chapéu-Virado e às outras praias (Porto Artur, Murubira, Ariramba, etc.). O edifício Solar da Tatiana se destaca e destoa da paisagem, quase um apêndice e um agressor da harmonia existente.