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domingo, 10 de abril de 2016

Paisagem de palavras



                                                     Fotografia: Alcir Rodrigues

O mês de março
            desaba sobre os telhados,
                sob os quais fluem
jatos-goteiras
, liquefazendo aquela imagem
--já difusa -- da paisagem
         memorável:

          uma estampa, um postal,
conjunto da estrada líquida
cobreada do Pratiquara
com suas margens
inundadas de mangueiros e siriúbas...

         Um lápis mental
   vai derrapando o grafite
                      em linhas de meio-tom
por este curso d’água
               reconstruindo
uma bela paisagem de palavras
-- estas deste poemeto –,
onde a utopia traz
        pelos olhos
            que decodificam os signos
deste grande bem perdido
    em degradas águas
             turvas
a cortar, serpenteando,
um solo pobre
            e desmatado.

A paisagem de letras
-- em imagem difusa,
                                  não esqueçamos –
            põe de volta no céu coloridas aves e,
                            no rio,
      lépidos peixes.

       Põe também a musa
            nesta canoa
               que piloto;
põe em nossas mãos
taças de vinho,
            nos meus lábios
                         os doces beijos dela,
   a ambrosia há muito desejada...

o céu azul em pleno
   inverno amazônico,
         põe, enfim
-- o poeta grafitando nesta página --,

                            Sim, põe
                             o caos
                                  em grande
                                  harmonia


(nesta bela paisagem de palavras).

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