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quarta-feira, 8 de abril de 2015

Como conseguir partir?...

De folha em folha,
flor em flor,
em cada gota de orvalho
(em seu frescor),
por entre os insetos,
vago dia a dia...
Vejo e noto
indiferentemente
cada pequeno ser
se movendo
sobre a Terra
--e sob ela--,
no meio da folhagem,
no húmus,
nas árvores,
no Céu,
nos rios...

As nuvens
cobrem e descobrem o Sol.
Suas sombras caminham
e percebo-as
sob o azul,
assim como as gotas que caem
com suavidade
ou violência
sobre esta floresta,
enfatizando ainda mais
a cor de sua clorofila...

A faixa clara
da arenosa orla
se estica
por todo o litoral
do norte da Ilha...
E vestidos requintados
agitam-se ao vento
de mãos dadas
às bengalas e cartolas,
chegando nos vapores.
A distinção passa
a povoar estas plagas,
e meu povo
começa a partir,
não sem lutar...

Os tempos são outros
nestas atuais manhãs...
E muitas e muitas luas
navegaram
pelo negrume noturno,
tendo por testemunhas
todos os olhinhos
faiscantes de nossos
curumins e cunhantãs,
espoliados das famílias
e conduzidos lá para cima.

Todos os dias vago por aí,
sem rumor e quase sem rumo.
Não sei por quê, mas, por agora,
ainda não sou capaz de partir...

No meu tempo é que era bom!...

É comum ouvirmos as pessoas de idade mais avançada repetirem essa frase-feita. E como temos o hábito ágil e cruel de imediatamente condenar tal frase, argumentando que "Quem vive de passado é museu", esquecendo, lógico, de que não se pode viver sem passado; claro, não se pode viver a não ser pelo presente, sempre projetando nossas ações no ou para o futuro, caso contrário, não poderíamos sair à rua sem tropeçar ou sem sermos atropelados. 
Refletir sobre as experiências (o passado) pode nos preparar para evitar os erros do presente, causa de consequências perversas em um futuro próximo ou distante. Projetar nossas ações (planejar as decisões a tomar, cuidadosamente) é pensar futuramente: no agora, prevenir-se do que poderei errar. Prestar atenção é sempre um ato cauteloso de sair-se bem nesse ritmo de aqui-agora-olhando-para-trás-para-não-tropeçar-no-que-vem-à-frente. Sei que parece trocadilho bobo, mas é importante entendermos que nem tudo que é do passado é velharia inútil. E há uma razão, não só melancólica, para se dizer "Ah! No meu tempo é que era bom!... 
Quem quiser duvidar, dê uma chance ao tempo. Uma chance de ele passar, sorvendo você, ali no futuro, adiante de seus olhos, esse gosto agridoce do que foi definitivamente perdido e irrecuperável, mas que você, a todo custo, gostaria de reviver, em um eterno déjà-vu. Dê uma olhada abaixo e sinta vontade de poder dizer "No meu tempo é que era bom..."





Trata-se de imagens emblemáticas da Ilha de Mosqueiro, das quais seguem as referências, abaixo
“Revista de Belém. Nº 1.
Editora: Livraria Universal Tavares Cardoso & Ca.
Local: [Pará, Brazil: Souza, Cabral (Caixa Postal No. 647), ca. 1910]
Álbum que reproduz 41 fotografias históricas do Pará [Belém], Brasil, provavelmente de 1910 (Possível data de publicação com base nos vestuários e estilos dos automóveis mostrados nas fotografias).”
Entre as imagens estão as duas aqui reproduzidas:
· Chapeu Virado (Arrabalde);
· Mosqueiro (Arrabalde).
Revista de Belém. Nº 1.
Coleção Especial. Cópia: Revestimento de tecido negro, impressos em branco; folhas de rosto oliva-marmoreado, Selo da Livraria Universal Tavares Cardoso & Ca., Pará, mostrando fachada do prédio da empresa.
Acervo: Antônio Rocha Penteado adquirido por Flávio Nassar