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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Uma lembrança de infância

capela scj

Era 12 de janeiro de 1976. Meu pai me pegou pela mão e me levou até a praça do Chapéu-Virado, lá onde ainda existe, encravada na pracinha ―que os mais antigos ainda chamam de largo―, aquela igrejinha bastante elegante, construída em 1909, a Capela do Sagrado Coração de Jesus.

Havia ali, naquele momento, uma multidão; na verdade, um amontoado de pessoas se acotovelando. E eu não sabia por que ou para quê. Foi aí que meu pai me botou nos ombros dele. Aí pude, enfim, ver destacadamente, entre outras pessoas, um senhor muito bem vestido, protegido por dezenas de soldados e seguranças. Parecia ser ele o motivo de toda a balbúrdia.clip_image002  Inauguração da Ponte. Fonte: MEIRA FILHO, Augusto. Mosqueiro: ilhas e vilas.Belém:Falangola,1978.                                                                                                                                   

Vi que ele lentamente levantou um pano que cobria uma estátua (sei hoje que o nome correto daquilo é busto, e que o pano era a bandeira do Pará), e todo mundo aplaudiu o que ele fez. Mais tarde, pude entender com mais clareza tudo aquilo que ocorreu naquele já longínquo dia.

Est Pça do CV  2                                Fonte:fotosdemosqueiro.blogspot.com.br

Aquele senhor, conforme me explicou papai, era o general Ernesto Geisel, o penúltimo dos presidentes militares. Ele veio ao Mosqueiro inaugurar a Ponte Belém-Mosqueiro, cujo nome oficial é Ponte Sebastião R. de Oliveira. Então, aproveitando a ocasião, na mesma manhã, ele também inaugurou o busto na pracinha ao redor da igrejinha.

Contam que ele, o Presidente, perguntou a alguém da comitiva do governo local (o estadual) qual seria a função daquela ponte. Ela teria por função “escoar” que produto? Iria movimentar a economia local?

“Não”, responderam. A ponte era para o lazer do belenense. Dizem que ficou decepcionado com o que lhe disseram. Não poderia perceber, naquela época, que o turismo é um produto rentável, e sustentável, pois não se esgota nunca.

Só sei que, décadas depois, ainda guardo na memória aquela manhã, aqueles acontecimentos que muito marcaram minha infância.

Est Pça do CV 1 Fonte:fotosdemosqueiro.blogspot.com.br

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cine Guajarino – O cinema de Mosqueiro (…Gone with the wind: …E o vento levou)

O Cinema como Arte permite-nos ir muito além do mero entretenimento, temos convicção disso. Nessa perspectiva, sugerimos uma curiosa discussão, a seguir.

Cem anos do Cinema Olímpia, de 1912 até 2012, o mais antigo cinema em funcionamento na Nação, um motivo de orgulho para todos nós paraenses. Nos dias de hoje, A “tradição”, que surgiu durante e apareceu de novo na era do ‘SECRETÀRIO’ (de cultura estadual Paulo Chaves), exige o uso das letras ‘daquela época’; portanto, agora, escreve-se Cinema Olympia (com Y); Theatro da Paz (com TH).  Será que voltaremos ao tempo da “phylosophya”? Talvez algum dia chamemos de novo o  tão charmoso arquipélago de ‘Fernão’ de Noronha'. Quem sabe?!

Sem embargo disso, nossas palavras de louvação: “Parabéns, portanto, ao cinema há mais tempo em funcionamento no ´Brasil!”  E desculpem-me pela ironia…

Devemos agradecer pelo ‘Optometrista-cassado-ainda-no-poder’, o-falso-médico, pelo que ainda existe de programação lá no Cinema, ou pela farsa? Será que nada mais é possível para o engenheiro das grandes e impossíveis obras (Portal da Amazônia e BRT, por exemplo) para que o que ainda é gratuito também seja acessível? Digo isso porque assisti a alguns filmes no belo cinema, mas a desolação é que o público é mínimo.

O que falta? A Cultura, para este governo, é como  apedrejar mangueira: se acertar, tudo bem, se não… Deus que nos guie!… E ai da cabeça onde a pedra caia!…

SELO100ANOS 

Mas bem…

Peço licença para discorrer não exatamente sobre o cinema no Pará, nem sobre o que o Pará já teve de efervescência cultural nesse setor, mas sobre essa mesma efervescência na Ilha de Mosqueiro, na mesma época do nascimento do cinema centenário: fim do apogeu da Belle Époque Francesa no Pará, fim da gestão Antônio Lemos (1912-1913).

Porém, quero me referir unicamente ao aspecto da decadência, palavra que causa repúdio aos que nela se refestelam, é claro (no ato de  explorá-la como enriquecimento oportunista, na maioria das vezes, negando-a), parasitas do povo, seja de Mosqueiro, seja de Belém, seja de Icoaraci, seja de Caratateua, agregados agentes do compulsório imposto que nos faz suportar políticas de pôr o lixo para debaixo do tapete (na verdade, para debaixo da areia das praias), políticas de faz-de-conta, a fingir que tudo está perfeito e que vivemos no paraíso.

Mosqueiro precisa de algo mais… Mas não de oportunismo! Principalmente do tipo eleitoreiro! Ainda mais neste ano. (Karl Marx nunca poderia imaginar no que daria tão acirrado Capitalismo Tardio, nas palavras de alguém inspirado por ele, não lembro se Jameson!…)

Chega de “Agente vai, a gente fica”, como muito bem já o colocou um dos mais ilustres mosqueirenses, o Professor Claudionor dos Santos Wanzeller, autor do livro Mosqueiro: lendas e mistérios (2005)! Por exemplo, o tal “agente” distrital, neste ano de 2012, quem o é? O mesmo Secretário de Saneamento de Belém? Ou Fernando Robaullo (será assim a escrita do nome dele?!)? Ou este é apenas bode expiatório? Pois, que eu saiba, acumulação de cargo constitui uma ação de improbidade administrativa! Aonde vai parar essa Nossa-Ilha-Do-Já-Teve?! Já teve agente distrital, agora só tem “paciente” distrital!…

Voltemos ao tema (pelo amor de Deus!!!!!!!!): o cinema (arte por excelência da imagem) é coisa quase intangível nesta nossa Amazônia já tão explorada, mas poucas vezes divulgada massivamente de forma legítima por essa arte, desde a invenção da ideia do ‘Paraíso Terreal’ até a de ‘Inferno Verde’, passando pela do ‘Pulmão do Mundo’, pela de ‘Paraíso da Biopirataria e de Indústria Farmacológica’, além daquela explorada de modo ridículo pela televisão ( vide Globo, 20120, telenovela, no Marajó) em busca de um IBOPE perdido. Aparentemente, essa terra, na mídia, rarefeitamente patenteia o humano, seu modo de vida, seu pensamento, sua existência sofrida, além do exótico, do pitoresco e do paradisíaco. Mas não é verdade: não só o cinema, mas a literatura (além das outras artes, mas os exemplos me escapolem, perdoem-me!) procuram emergir além dessa superfície, como é o caso do romance Moscow (2001), do média-metragem O Mastro de São Caralho (2009) e do curta Matinta (de 2010), fugidios exemplos do trivial, ainda bem.

Sei que o tema levantado é bem mais complexo do que minha reles intelijumência possa de fato debater, mas gostaria de lembrar que este mesmo Blog já postou matéria de um dos críticos de cinema de maior renome do Pará (frequentador e admirador de Mosqueiro!), Pedro veriano, que desenhou a história do único cinema de Mosqueiro, mas que a Ilha perdeu, posto em funcionamento na mesma época (1912), mas que teria se extinguido lá por 1976.

Com esta ideia inicial quero debater o tema de Mosqueiro como A Terra-do-Já-Teve. Iniciarei aqui este debate, que pretendo levar mais adiante, no decorrer do tempo, pacientemente, e com a serenidade que o tema pressupõe, com a ajuda de posiocionamentos (denominados de ‘prós’ e 'contras’, além daqueles chamados de de-cima-do-muro) dos leitores em geral deste blog. Causas e efeitos, contraposições, repúdios, concordâncias…repugnâncias, até…

O que vier são consequências do debate, não motivos para arrogâncias, nem para inimizades, ameaças, enfrentamentos físicos, ou atos de violência de qualquer natureza. Nada disso!

O bom de tudo é fazer relembrar que o tema é Mosqueiro: seus problemas, suas memórias, o que pode ser feito para mudar --e para melhor --a convivência nesta Ilha.

Nessa perspectiva, passo a reproduzir o texto de um ser humano que amou esta Ilha a ponto de querer que suas cinzas fossem lançadas na praia do Areão, recanto de sua infantojuvenilidade. O nome dele é Wolney de Vasconcelos Dias (1924-2012), meu tio, irmão de minha mãe, Joana Maria de vasconcelos Dias (1931- ). Ele escreveu suas memórias abordando sua vida no Mosqueiro nas décadas de 1930-40-50, crendo que vivenciava uma vida no Paraíso Terreal. Viva ele!, Meu tio.

Muito obrigado, titio, por tudo que pôde nos deixar de tão preciosas memórias. O futuro deste recanto fica-lhe muito grato!

Segue o texto:

             Cine Guajarino

MOSQUEIRO CINE GUAJARINO Ao fundo, da metade para cima, à direita, uma das poucas imagens da fachada do Cine Guajarino, que durou de 1912 até 1976, segundo Pedro Veriano, no livro Cinema no tucupi (Secult, 1999, p. 40)

O primeiro cinema de Mosqueiro era localizado no Mercado Municipal. Não chegamos a conhecê-lo, ali. Quando isso aconteceu, já funcionava em prédio próprio, construído a mando de Artur Pires Teixeira, a quem, aliás, muito deve Mosqueiro. Morava ele no Porto Artur, local assim denominado por ter sido pioneiro em construir, ali, sua chácara. De carruagem, com uma parelha de cavalos bem tratados, com faróis laterais e cocheiro, visitavam, ele e sua família, algumas vezes, a Vila e o cinema.

A vendedora de ingressos era dona Alice: simpática, cabelos grisalhos, muito atuante. O porteiro era o seu marido, o Sr. Valdomiro, que vendia frutas no mercado, onde tinha um aparador. Eles acompanharam por muitos anos toda a trajetória do Cine Guajarino. De início, o cinema era mudo, animado apenas pelo conjunto musical do Paizinho, que tocava seu violino, ou, quando o filme era triste, roncando sobre o rabecão ―apelido que dávamos ao contrabaixo. O conjunto ia assistindo ao filme e, conforme a cena, atacava com o repertório. Quando se tratava de uma cena amorosa, ouvia-se a tão decantada valsa:

“Tão mimosa, graciosa e angelical,

Nasceu em meu jardim uma linda flor,

Naquela noite santa de Natal,

No momento em que juramos eterno amor.

No entanto, você a tudo esqueceu,

Trocando meu coração por outro ser.

E flor, ao ver então sua ingratidão,

Murchou e se desfolhou até morrer.”

 

Pode acontecer não estar correta a letra; todavia, é assim que nos ocorre no momento.

O Cine Guajarino foi inaugurado em 1931, segundo constava na sua placa de inauguração. Nessa época, tínhamos apenas 7 anos. Marido e mulher tomaram conta do cinema anos a fio. Foi quando tivemos consciência de que no cinema o seu operador era o Sabá, antes havendo sido o Sr. Alvarez (pai dos nossos amigos Alfredo, Francisco e Oderfla). E Sabá, já em nosso pleno entendimento, era homem de sete instrumentos. Curioso, consertava relógios e tantos outros aparelhos. Juntou-se a Margarida, que fora empregada de nossos avós.

Eu fazia a pintura das tabuletas do cinema. Esmerava-me da melhor maneira, e minha paixão por cinema era tão grande que passei a ajudar o Sabá no seu serviço, enrolando os carretéis das fitas e aprendendo a ser operador. Esse pessoal compunha o quadro vivo do cinema de nossa geração.

A coqueluche da época eram os seriados que passavam aos sábados. A rapaziada fazia de tudopara não perdê-los. Para arranjar dinheiro, tudo era válido, até mesmo tirar ovo de galinha choca, quando se descobria. Dizia-se que o camaleão os havia comido, todos. Nós tivemos sorte por o Comandante Ernesto ter passe gratuito para quatro pessoas, dado pelo Sr. Artur Pires Teixeira.

Os seriados mais famosos foram Os perigos de Paulina, Sertão desaparecido, Trem ciclone, com o formidável John Wayne, e A visão fatal, com o terrível Bela Lugosi. Deste seriado temos gratas recordações, pois, pela primeira vez, vimos a televisão: o chefe da gangue dava suas ordens através do video e logo desaparecia. Quando vimos isso, todos gritaram: ―É mentira!

Como poderia ser possível transmitir a imagem através de distências? Felizmente hoje estamos vivendo essa realidade e tantas outras. Espantava-nos o seriado de Flash Gordon, com Buster Grabe, do planeta Ming, e as viagens espaciais. Se vivermos mais alguns anos, quem sabe se até não faremos uma?... Na marcha do progresso, nada é impossível!

Nesse tempo, o cinema mudo estava superado, pois a novidade despontava com o sonoro, mais tarde o colorido. O cinema continuava a ser a única opção de lazer na Vila. Havia duas matinês aos domingos.

Nesse tempo, o ruim mesmo era não saber escolher a namorada. Teria que ser uma que não tivesse muitos irmãos, senão sía cara a brincadeira, pois todos iam, diziam seus pais, para vigiar a irmã. Foi bem marcante essa passagem do Cinema Guajarino em nossa vida”

                                                  ***

Há discordâncias entre este texto e o que já postamos, do historiador e crítico de Cinema, Pedro Veriano.

A intenção sempre será, a partir do confronto, o entendimento de nossa riqueza cultural. Em novas postagens, quem sabe, o debate esclarecerá essas lacunas…

Não esqueçamos, toda essa retrospectiva é de autoria de Wolney de Vasconcelos Dias (1924-2012), que foi Agente Distrital de Icoaraci e Prefeito de Primavera e Capitão-Poço. Viveu sua infância em Mosqueiro e aqui quis ser sepultado.

sábado, 7 de abril de 2012

Tempo que enche e vaza...

Canoeiro

Eita! A maré já está vazando!...

Logo-logo será boa hora

para despescar os matapis.

É bom ir logo, antes das 6,

soturna hora da Ave-Maria.

 

O silêncio quase reina ali.

O porronca marca, em sua cinza

―que vai crescendo lá no canto

da boca do caboclo ribeirinho―,

o líquido tempo que deságua...

 

... e vaza nestas barrentas águas

(lépidas como os tralhotos),

levando galhos, sementes e folhas,

lavando o tijuco mole da beira

e também minha vida cotidana...

maré baixa

 

A monotonia da aragem calma,

fazendo bailar as altas árvores,

além do calor, cachaça, maruins,

amortecem os meus músculos,

e o leve deslizar da montaria

(de) marca o navegar das horas,

nesse ritmo de folhas paradas,

quase, e do vaivém dos sararás

em sua faina sobre a lama...

 

Mas os matapis não sobem fartos

do fundo dessa senda líquida,

confortável estrada esta minha

de onde colho o alimento incerto...

É bem verdade, por mim não semeado.

paneiro de camarão

 

Esta vida imaginada, impressa

neste papel frente a teus olhos,

é uma forma de viver virtual,

realidade recriada, revivida,

no ritmo das águas, das marés,

chuvas, matas entrecortadas

por sinuosas estradas líquidas,

estradas tuas e minhas, ir e vir

que representa a própria vida...

canoeiro 1

O Paraíso é um acampamento em 91

 Paraíso 1                                         

                        É noitinha ainda...

Arremesso longe a linha de pescar:

quase pesco toda a conjunção

interplanetária que no céu desenha

uma geometria triangular ―

Vênus, Marte, Júpiter e Saturno

derramando brilho nas águas

mornas da Baía-do-Sol,

onde me banho, à espera de

um improvável peixe fisgado

pelo meu azarado anzol canhoto.

 

Na verdade, a pinga já me fisgou

por completo, quase...

                                          ...me levando embora,

                                         ou nos calientes braços de Iemanjá

                                                (para o fundo das águas),

                   ou, quem sabe, nas asas dessa imensa

escura ave, chamada

            noite de Anhangá,

rumo aos milhares de olhos que piscam no céu...

 noite

Por trás da fogueira,

a barraca de camping

abriga os companheiros irmãos,

talvez sonhando com a Boiuna-Luna

de Macunaíma, astro flutuando

e distribuindo sua claridade

em gotas fosforescentes pingando

que nem sereno nesta praia-paraíso,

espocando no contato com as chamas

da fogueira deste improvisado acampamento.

 

Além dos habitantes da barraca,

também dorme um sono dos justos

a Ilha do Maracujá, logo ali e ao largo

―na ilharga da praia―,

um arremate no recorte da enseada,

como um barco ancorado, sempre a partir,

                                                     e sempre a ficar,

encalhado na terra e na memória,

beleza de areia, pedras e vegetação:

            um oásis para os enamorados corações.

 paraíso 2

Não vejo por aqui-agora nem Eva nem Adão,

apenas a serpente:

uma jiboia, um ofídio sem peçonha...

 

Inoculada em mim, sabe lá

por qual deusa ou deus,

uma outra peçonha ― um feitiço que me traz de volta

sempre ao Paraíso, e sua maçã

estampa-se no cartão postal

que me rodeia: são águas

                                          areias

                              céu nem sempre azul                     com muitas nuvens

        barracas e barrancos

                                                                                                                                                                               Ilha

                       rochas

            baía

                           as canoas

paraíso 12

                                 o verde da vegetação          e a casa colonial

                 a conversa e a pinga

                                  o dominó, o baralho

                                              as caminhadas em grupo

           a fogueira com a panela

                                                             na lenha em brasa

os banhos nas ondas a lavar

                        o corpo e extirpar o suor

                                                  do excesso de cachaça

 

Foi belo o dia chuvoso,

mas a noite é encantadora...

As sombras do arvoredo dançam,

como as sombras na Caverna de Platão

a emparedar em mim um ethos ou ideário

com ares de soturnidade...

 

Talvez porque todos dormem,

e eu nem a garrafa me conduz

ao mundo de Morfeu...

 

A Lua levitando

no profundo éter noturno

geometriza no olhar

um quadro de indistinta proporção

e intangível equidistância

com a conjunção dos planetas,

astros imantados atraindo

este pescadorpoeta noctívago

banhando-se na mancha láctea

fosforescente replicada do céu

no piso líquido da baía,

esta que me traz a aromática

aragem cálida como mensagem

de uma nova vida, novo princípio...

paraíso 8

Isso porque já amanhece o dia: a manhã beija

em brisa friazinha meu rosto insone...

As nuvens leves flutuam não só no céu,

mas muito mais em minha quase inconsciência...

Já ouço murmúrios de dentro da barraca.

Talvez agora seja o momento de levitar.

Meus pés me arrastam para fechar

os olhos e poder esquecer de quase tudo...

Paraíso 13

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Naquele tempo... (ou Bispo agora-ontem)

P Bispo

Neste novo amanhecer na praia

―a do Bispo―, há uma névoa

cristalina que quer esconder

a realidade presente e revela

espontaneamente um outrora

ante minhas retinas estupefatas.

 

A lenda impele sua indistinta figura

no lento rumo daquele monumento:

São Pedro, imagem do santo pescador

decaído, que a baía já engoliu de todo.

 

Este é um olhar na direção da seta

apontando o que já-foi, tempo (tardio

tempo!) do qual ficaram somente

migalhas na palma de minha mão,

onde pousa este um pássaro etéreo

que vem mariscar e deixa, apenas,

o cuí indistinguível do tempo ido...

 

E voa.... voa... e fico contemplando

sua sombra a se desvanecer nas nuvens.

Est S P