A armadilha de pedras
deitada longamente
se espreguiça na enseada enevoada.
Os maçaricos em revoada
a voar povoam a paisagem praieira
ali bem próxima
da Ilha do Maracujá.
Quase geometricamente enfileiradas
e no conjunto perfeitamente encaixadas
, as pedras da camboa
semelham escuros ovos imperfeitos
, postos por esse animal gigante
a se arrastar em longa curva,
séculos atrás...
A canoa indígena aporta,
e seu tripulante tupinambá
salta imponente sobre
as seculares rochas,
cauteloso contra o possível
perigo oculto das arraias
em meio ao quase imóvel
entre a fria água e a lama cinza.
Seu reflexo
duplica
na lagoa da camboa
seu poder
sobre a pouca pesca represada:
camarões, peixes, siris...
Exceto pelos maçaricos,
o único outro som que ecoa
é o do incrível silêncio,
esse silêncio que leva embora
a mim e a meu imaginário ancestral
sobre estas águas do Mar Dulce.
Na mente, estampadas
estas míticas imagens
de cartão postal antigo,
carimbos na paisagem paradisíaca
:
névoa no ar, névoa no mar,
nas areias, em tudo;
nos meus olhos mareados
,
sobretudo...
O Blog trata de temas ligados à Ilha de Mosqueiro, mas não por isso pretende se isolar em um localismo infrutífero; em vez disso, procura inserir a Ilha como um lugar no mundo, enfatizando suas singularidades;por outro lado, também objetiva divulgar minhas reflexões sobre língua, linguagem e pensamento, literatura e artes em geral, além de assuntos diversos,sempre procurando revelar traços ideológicos nas entrelinhas do tecido textual, na tentativa de ser o mais coerente possível.