Pesquisar este blog

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Mosqueiro em Letras

Procurando por textos sobre Mosqueiro, para organizar um pequeno banco de dados sobre a Ilha, encontrei alguns poemas, de autores já consagrados pelos leitores e pela crítica, homenageando ufanamente ou denunciando as mazelas locais. Todos eles, de qualquer modo, tematizando a “Bucólica”, inscrevendo-a no âmbito dos registros escritos, sejam eles literários, geográficos, históricos, sociais, culturais, etc., não importa tal fato, no momento, já que o relevante é que se tenham dados (os textos) coletados sobre nosso distrito-ilha. O primeiro dos textos que compilei é este, de Antonio Juraci Siqueira, de seu livro Piracema de sonhos:

Mo(s)queiro

Metamorfose de signos ― fonemas
roídos pelo tempo e pelo uso...

Foram tantos verões, tantos invernos
foram tantos poentes e alvoradas
que a ilha do Mosqueiro e dos encantos
perdeu seus moquéns e seus mistérios.

Em que volta do tempo se perderam
os nossos ancestrais que moqueavam
piabas nas marés tepacuemas?

Hoje a ilha do Mosqueiro, em desencanto,
carrega um S enorme e sibilante
encravado no nome e no destino.




Um perfeito insight de Juraci associar o tema da decadência, muito alardeada quando se faz referência à ilha, à suposta evolução linguística que, em tese, teria dado origem à palavra Mosqueiro, muitas vezes confundida com aquela que o dicionário registra como “lugar onde há moscas com abundância”. Não é um poema de caráter ufanista, como a maior parte do que é produzido em poesia tematizando o lugar.
Garimpamos ainda outro belo poema, sucinto ―quase um poema-pílula―, que diz muito por meio de uma linguagem lacunar, sempre a ser completado pelo leitor o sentido sugerido, muitas vezes diretamente ligado à forma organizacional das palavras distribuídas no branco da página, em um isomorfismo raro entre expressão e ideia, a evocar a bela praia da predileção de Max Martins: Maraú (para alguns, Marahú), onde o poeta viveu por um tempo, na cabana chamada Porto Max. O texto integra o livro Caminho de Marahu, de 1983, e vem a seguir:


Mar-ahu

Não
é a ilha

Não
é a praia

E o mar
(de nos fazermos ao)
é só um nome
sem

a outra margem



Outro que surge, no mesmo livro, com as mesmas sutilezas, agora mais para um haicai que para um poema-pílula, é este:


Marahu

A praia
A tarde se desdiz
te diz
se estende
e te dissolve




Aqui Max explora a vacuidade possível das ondas, sempre sonoras, sempre efêmeras, porém tenazmente repetidas, solvidas dentro de si mesmas, tanto no aspecto vísuo-sonoro quanto semântico, tornando a praia um lugar de nostalgias, liquefazendo o ser dissolvido pela passagem do tempo, que parece fluir vagamente como o próprio pensamento, na contemplação da enseada do Maraú.
Na verdade, tudo o que se possa dizer sobre esses poemas, tanto de Max como de Juraci Siqueira, valem apenas como comentários, visto que os poetas já disseram tudo da melhor maneira possível, e o crítico, refletindo sobre sua obra pode estar banalizando-a, no momento em que tenta explicá-la.

Nenhum comentário: