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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Mais outras do Seu Alexandre

Veneno pra rato

       Seu Alexandre, em um certo mercadinho, na Vila, perguntou se o dono do estabelecimento se este tinha veneno para rato, no que foi atendido com uma afirmativa.

       Ou porque Seu Alexandre estava interessado em algum outro produto e já estava a procurá-lo, ou porque já desistira da compra porque não gostou do produto que lhe mostraram como “o melhor da praça”, ou porque já matutava alguma outra coisa, perguntaram-lhe:

       ―O senhor vai levar o veneno pra rato?

       Não teve outra...

        ―Não... Vou lá em casa, trazer o rato pra ele comer o veneno aqui...

        Só o Seu Alexandre mesmo!

Lanche completo

         Seu Alexandre foi comprar um lanche e pediu um hambúrguer. O rapaz anotou o pedido, mas como parecia um tanto ocupado, esqueceu de lhe fazer uma perguntinha básica. Repassou o pedido para a pessoa que estava preparando os lanches na chapa. Percebendo a falta de algo no pedido, retornou-o ao atendente, que incontinente foi ter com Seu Alexandre, que já é pessoa de grande fama na comunidade. Perguntou-lhe, de chofre:

        ―Seu Alexandre, o senhor quer um hambúrguer completo?

        Não poderia obter outra resposta, além desta:

        ―Não... Me dá só metade, que amanhã eu volto pra comer a outra metade!...

        Seu Alexandre tem cada uma mesmo...

Pato Donald

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Algumas do Seu Alexandre

Ônibus e banhista

Um Zé-Apressadinho, azafamadíssimo, ao passar próximo à casa de Seu Alexandre, no famosíssimo bairro do Maracajá, dispara esta pergunta:

 Seu Alexandre, esse ônibus que vem aí vai pra praia?

No que este, olhando para o coletivo vindo na direção deles, subindo a Siqueira Mendes, dá ao indagador a informação solicitada:

 Se ele vier de sunga e óculos escuros... sim.

Lula Rindo

Esse cachorro é capado

Seu Alexandre vai visitar sua sobrinha, na casa dela. Ao chegar lá, bate palmas, no que é recebido nada amistosamente por um cachorrão deste tamanho! Au! Au! Au! Au!

Repete as palmas, dessa vez mais enérgicas. A resposta? O cachorrão, de novo: AU! AU! AU! AU! AU! AU!...

Lá pela quinta vez que seu Alexandre bate palmas, eis que surge, na janela frontal da casa, a figura esperada, que lhe diz:

– Pode entrar, tio. Esse cachorro é capado.

A resposta de seu Alexandre não poderia ser outra:

– Uh! Minha filha, não estou preocupado que esse cachorro me enrabe!...

Cão risonho

A nova Biblioteca de Mosqueiro

Com a fluidez do pensamento, meditando um pouco vaga e livremente sobre as coisas, veio-me à mente aquela máxima latina, que não necessita de tradução: “TEMPUS FUGIT”. É, realmente, o tempo alça voos e foge. Em 13/12/2007, o jornalista Elias Ribeiro Pinto publicou matéria enviada a ele por mim sobre a Biblioteca Municipal Cândido Marinho Rocha. Na ocasião, expliquei no artigo que a biblioteca fora criada por decreto do prefeito Coutinho Jorge, em 1987, e que deveria ainda existir, só que no papel, apenas lá, entre traças e fungos, visto que fora “transformada” em auditório, por um agente distrital inconsequente.

Eis aí que, por estes tempos, o TRE convoca-me a prestar serviços nas eleições 2010. A reunião seria na Agência Distrital de Mosqueiro. Ao chegar lá ―era dia 18/09/2010, um sábado―, indicaram-me que seria no “Auditório”, o mesmo prédio da antiga biblioteca. O local estava repleto de gente. Nenhuma cadeira para os futuros mesários se sentarem, nenhum ventilador. Gente pingando de suor. Bem, aquilo jamais poderia ser chamado de auditório! Nem biblioteca poderia ser, mas já o foi.

Em um canto, livros empilhados e amarrados por fios, alguns novos, outros, bem velhos, alguns bem conservados e novos! Outros, nem tanto. O curioso é que estavam ali misturados a pacotes de cerveja e isopores apreendidos pela turma da Secon (Secretaria Municipal de Economia, popularmente chamado de Rapa). Que ambiente para livros, hem?! Mas a surpresa maior veio quando vi, ali entre livros didáticos enviados pelo MEC (que deveriam estar nas escolas para serem entregues aos alunos), o carimbo da Biblioteca, bem próximo de uma pasta, onde se liam anotações de novas doações de livros. Como é? ― pensei. A biblioteca, que foi transformada em auditório, que também não existe, ainda recebe doações de livros?

Foi aí que me veio à lembrança a letra da canção de Caetano Veloso, da época em que ele ainda sabia compor música com letra menos banal que na atualidade:

“Um mero serviçal
Do narcotráfico
Foi encontrado na ruína
De uma escola em construção...

Aqui tudo parece
Que era ainda construção
E já é ruína
Tudo é menino, menina
No olho da rua
O asfalto, a ponte, o viaduto
Ganindo pra lua
Nada continua...”

Trata-se de passagem da canção “Fora da ordem”, do CD Circuladô, de 1991. Analogamente ao que diz a letra, vamos analisar certa situação em Mosqueiro: O Ministério da Educação (MEC), em convênio com o Instituto + Cultura, com a contrapartida (mínima) da Prefeitura de Belém, deveriam construir três bibliotecas públicas na capital do Pará. Das três, uma seria no Mosqueiro. O prédio? Uma ruína, a ruína do Educandário Nazareno, o antigo prédio da Semec (Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Belém), filial de Mosqueiro.

Até aí, tudo bem, pois a revitalização de um prédio histórico é sempre bem-vinda, ainda mais com a finalidade que passaria a ter. O problema vai ser revelado agora: tal instituição, tão essencial, seria entregue em dezembro de 2010. Ou seja, o que é construção, já é ruína, literalmente, assim como o projeto também. Sem a contrapartida da prefeitura, estou convicto, nada poderá sair do papel. Na cabeça dos ilhéus, fica a pergunta: a futura segunda biblioteca de Mosqueiro poderá vir a existir apenas no papel (assim como se pode forjar um cidadão de papel, dobrado ao gosto do origamista, se é que se pode chamar assim a autoridade que faz do povo “gato e sapato”), ficando lá tão-somente a ruína do que deveria ser?

Imagem007 Foto do referido prédio (em ruínas)

Alcir postou

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

(Des)Encontrando

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Saí daqui de minha Ilha,

voando entre nuvens evasivas,

vendo a pardacenta Baía de Marajó

passar abaixo e diante de meus olhos

como uma bela película em Cinemascope,

rápida e volatilmente, e cheguei

aportando em Cachoeira.

A primeira visita a fazer?

Ao chalé,

onde ouvi as vozes de Eutanázio & Mariinha,

lamentosas ecoando entre as paredes,

que em resposta ouvem as do Major Alberto

folheando livros na saleta das tipografias

e declamando poemas para uma Dona Amélia atenta,

que depois vai contar uma historinha

―se não se perder nas líquidas ilusões de sua despensa ―,

para um curioso rapazinho feridento,

com seu carocinho de tucumã no bolso

e uma fértil mente imaginativa,

voando pelos espaços rumo à cidade grande.

Minu latia para os encantados bois

no fundo do quintal, mugindo por mais capim

e menos água, um adeus à sucuri debaixo do jirau.

Almejei por encontrar Andreza,

vestindo sua pele de cobra coral,

quando passeei ao redor da lagoinha.

Em minhá imaginação, vejo esta cena:

O rapaz, pelo buraquinho do assoalho,

querendo pescar jijus, em busca dos peixes,

ou de si mesmo menino brincando

no tanque com os carocinhos de tucumã,

vê a mim, em flagrante, a espiar-lhe,

buscando na poesia nostálgica

de sua trajetória de vida,

uma saída para meu itinerário de labirinto,

sendas abertas para o passado em rememoração,

e um portal quase eternamente

fechado para o futuro.

Imaginei, para muito além do chalé,

todo um mundão de campos,

às vezes verdes, às vezes queimados,

às vezes inundados...

Vi, com estes olhos que a solidão

há de jamais devorar,

o Dr. Edmundo,

no lombo de seu búfalo branco,

mas sem nenhuma donzela na garupa,

a se embrenhar no mondongo,

ou em sua mítica fazenda da família,

os Menezes,

uma paragem fantasmagórica

belamente denominada de Marinatambalo.

O medo me é uma sombra rastejante de Edgar Menezes,

assassino e prefeito de polícia,

paradoxal imagem de injustiça reinante

por todo o arquipélago, reflexo do poder patriarcal

e do latifúndio que poucos premia

e à maioria castiga: “aristocracia de pé no chão”,

chão encharcado da imaginação

de Dalcídio.

E Dadá, onde estará?

em algum lugar,

a remoer suas mágoas e seus irmãos suicidas...

A Lucíola... Didico tocando piston,

ou pescando os já raros peixes miúdos,

que já não podem mais sustentar tantas amásias...

E Rodolfo deve estar dormindo a sesta,

sonhando com a bobina nova de papel

prometida pelo intendente

Dr. Lustosa,

que pôs cerca em tudo quanto é terra

que cerca Cachoeira, proprietário da Fazenda Bem Comum!...

Por onde andarão Tio Sebastião e Dolores?

―Perdido casal por este mundão de terra e água de Marajó?

É gente demais por encontrar

e,

por ser visita tão breve e não planejada,

não me posso ir sem antes

sentir o cheiro de Sabá Manjerona,

ocupdada com homens em seu barraco,

ou por lá mesmo no cemitério

(ou cemiteros?)...

Os campos de Dalcídio,

seus chãos encharcados

,

as vielas escuras,

os campos queimados,

além de terras cercadas

pelo arame farpado,

pela ganância

e

pela lama,

não mais são que as páginas,

linhas e linhas

que a vista percorre vorazmente,

páginas que são pessoas em suas singelas

alegrias e contínuas dores,

tudo-tudo

espraiado extremamente em dez volumes...

Por ali só não pude encontrar Alfredo.

Talvez por que se tenha tornado

ele

uma sombra apenas,

sombra de uma Cachoeira de cartão postal

perdida entre a memória,

as marés

e o sonho,

sei lá se dele

sei lá se meu

sei lá se seu

sei lá se de Dalcídio

sei lá se de todos nós,

leitores,

num folhear de páginas-marés,

num eterno encheparavazaenche...

Ouvi contar, entre vozes de linhas mal-ouvidas,

ou bem,

que

Alfredo

c

a

i

u          por vontade própria, de sua

              Ribanceira rumo ao rio,

cujo curso aflui sabe lá aonde,

levando-o talvez a um oceano

que se tiver fim,

este é

o próprio e inapagável começo.

Acima do espelho d’água

paira a consciência de Dalcídio,

que vê seu personagem rumando

―livre―,

por sua própria alteridade,

para um horizonte distante,

dele só, e único, singular...

Eu, de minha parte,

custa-me fechar o livro

―desfazer a “viagem”―,

Encaixá-lo entre outros dez,

na estante,

sair de casa e ver o mundo,

viver o mundo, para além desta Ilha...

Sair no mundo

a escrever minhas próprias páginas...

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