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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

(Des)Encontrando

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Saí daqui de minha Ilha,

voando entre nuvens evasivas,

vendo a pardacenta Baía de Marajó

passar abaixo e diante de meus olhos

como uma bela película em Cinemascope,

rápida e volatilmente, e cheguei

aportando em Cachoeira.

A primeira visita a fazer?

Ao chalé,

onde ouvi as vozes de Eutanázio & Mariinha,

lamentosas ecoando entre as paredes,

que em resposta ouvem as do Major Alberto

folheando livros na saleta das tipografias

e declamando poemas para uma Dona Amélia atenta,

que depois vai contar uma historinha

―se não se perder nas líquidas ilusões de sua despensa ―,

para um curioso rapazinho feridento,

com seu carocinho de tucumã no bolso

e uma fértil mente imaginativa,

voando pelos espaços rumo à cidade grande.

Minu latia para os encantados bois

no fundo do quintal, mugindo por mais capim

e menos água, um adeus à sucuri debaixo do jirau.

Almejei por encontrar Andreza,

vestindo sua pele de cobra coral,

quando passeei ao redor da lagoinha.

Em minhá imaginação, vejo esta cena:

O rapaz, pelo buraquinho do assoalho,

querendo pescar jijus, em busca dos peixes,

ou de si mesmo menino brincando

no tanque com os carocinhos de tucumã,

vê a mim, em flagrante, a espiar-lhe,

buscando na poesia nostálgica

de sua trajetória de vida,

uma saída para meu itinerário de labirinto,

sendas abertas para o passado em rememoração,

e um portal quase eternamente

fechado para o futuro.

Imaginei, para muito além do chalé,

todo um mundão de campos,

às vezes verdes, às vezes queimados,

às vezes inundados...

Vi, com estes olhos que a solidão

há de jamais devorar,

o Dr. Edmundo,

no lombo de seu búfalo branco,

mas sem nenhuma donzela na garupa,

a se embrenhar no mondongo,

ou em sua mítica fazenda da família,

os Menezes,

uma paragem fantasmagórica

belamente denominada de Marinatambalo.

O medo me é uma sombra rastejante de Edgar Menezes,

assassino e prefeito de polícia,

paradoxal imagem de injustiça reinante

por todo o arquipélago, reflexo do poder patriarcal

e do latifúndio que poucos premia

e à maioria castiga: “aristocracia de pé no chão”,

chão encharcado da imaginação

de Dalcídio.

E Dadá, onde estará?

em algum lugar,

a remoer suas mágoas e seus irmãos suicidas...

A Lucíola... Didico tocando piston,

ou pescando os já raros peixes miúdos,

que já não podem mais sustentar tantas amásias...

E Rodolfo deve estar dormindo a sesta,

sonhando com a bobina nova de papel

prometida pelo intendente

Dr. Lustosa,

que pôs cerca em tudo quanto é terra

que cerca Cachoeira, proprietário da Fazenda Bem Comum!...

Por onde andarão Tio Sebastião e Dolores?

―Perdido casal por este mundão de terra e água de Marajó?

É gente demais por encontrar

e,

por ser visita tão breve e não planejada,

não me posso ir sem antes

sentir o cheiro de Sabá Manjerona,

ocupdada com homens em seu barraco,

ou por lá mesmo no cemitério

(ou cemiteros?)...

Os campos de Dalcídio,

seus chãos encharcados

,

as vielas escuras,

os campos queimados,

além de terras cercadas

pelo arame farpado,

pela ganância

e

pela lama,

não mais são que as páginas,

linhas e linhas

que a vista percorre vorazmente,

páginas que são pessoas em suas singelas

alegrias e contínuas dores,

tudo-tudo

espraiado extremamente em dez volumes...

Por ali só não pude encontrar Alfredo.

Talvez por que se tenha tornado

ele

uma sombra apenas,

sombra de uma Cachoeira de cartão postal

perdida entre a memória,

as marés

e o sonho,

sei lá se dele

sei lá se meu

sei lá se seu

sei lá se de Dalcídio

sei lá se de todos nós,

leitores,

num folhear de páginas-marés,

num eterno encheparavazaenche...

Ouvi contar, entre vozes de linhas mal-ouvidas,

ou bem,

que

Alfredo

c

a

i

u          por vontade própria, de sua

              Ribanceira rumo ao rio,

cujo curso aflui sabe lá aonde,

levando-o talvez a um oceano

que se tiver fim,

este é

o próprio e inapagável começo.

Acima do espelho d’água

paira a consciência de Dalcídio,

que vê seu personagem rumando

―livre―,

por sua própria alteridade,

para um horizonte distante,

dele só, e único, singular...

Eu, de minha parte,

custa-me fechar o livro

―desfazer a “viagem”―,

Encaixá-lo entre outros dez,

na estante,

sair de casa e ver o mundo,

viver o mundo, para além desta Ilha...

Sair no mundo

a escrever minhas próprias páginas...

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