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quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

E o vento levou…

E o vento

Propomos aqui um jogo. Aquele antigo de adivinhação, conhecido como “O que é, o que é?” Neste caso, pode ser também entendido como “Quem é, quem é?”

Quase 8 anos… enfim, ‘ele’ se vai…

And gone with the wind… (E o vento levou…) Ou, pelo menos, está quase levando. Quem dera poder esquecê-lo…

Mas, será possível, com este seu fabuloso legado -- feio para os olhos, horrível para o olfato, péssimo para a saúde?!…

Seria, então, desse modo que, há quase 8 anos, a promessa amarela de tornar Mosqueiro “o polo turístico” de Belém se concretizaria?… Polo, de fato, já era. “Era” necessário revitalizá-lo. Mas o que foi feito para tal?

As “atrações turísticas seguem abaixo”:

GEDC4969

 

GEDC4971

GEDC4973

Estas 3 (três) fotos “artísticas” foram tiradas na R. 15 de Novembro (4ª Rua), a 150m da Agência Distrital de Mosqueiro. Imaginem se fosse a 15 km, como não estaria o lugar, então?

Vejamos outras:

GEDC4975

GEDC4975

GEDC4978

Fotos tiradas a mais ou menos 300m da Agência. Imaginem se fosse mais distante!… O irônico é que próximo do portão do cemitério “pode” ser jogado o lixo, mas aí em cima, não…

Vejamos outras próximas da Remígio Fernandez:

 GEDC4992

GEDC4993

Fotos tiradas na R. Tocantins Pena, a mais ou menos 600m da Agência.

Então, ficamos a imaginar: como não estarão os lugares mais distantes desse “órgão”?

É preciso esclarecer que todas as fotos foram tiradas hoje, de manhã e de tarde, dia 05/12/2012. É lixo não recolhido desde sexta-feira; portanto, de seis dias…

Lembramos que segundo a Bíblia, Deus teria criado o mundo em 5 dias. Deu vida ao homem (Adão) no 6º dia, e descansou no 7º. Se os órgãos “””””competentes””””” resolverem fazer algo semelhante, “Deus tenha piedade de nós”, mosqueirenses!…

Pois é assim que está todinha a Ilha. Que pena! E bem na véspera de nosso Círio! Então, roguemos à N.Srª do Ó, nossa Padroeira, por favor “Socorrei-nos! Nossa Senhora!”…

Chegamos à conclusão que o legado “dele” é, de fato, inesquecível! Chego a ‘prender a respiração’ só de pensar nisso! De tanta emoção com sua partida!

sábado, 24 de novembro de 2012

Instantâneos paradisíacos

A armadilha de pedras
deitada longamente
se espreguiça na enseada enevoada.
Os maçaricos em revoada
a voar povoam a paisagem praieira
ali bem próxima da Ilha do Maracujá.

Quase geometricamente enfileiradas
e no conjunto perfeitamente encaixadas
, as pedras da camboa
semelham escuros ovos imperfeitos
, postos por esse animal gigante
a se arrastar em longa curva,
séculos atrás...
A canoa indígena aporta,
e seu tripulante tupinambá
salta imponente sobre
as seculares rochas,
cauteloso contra o possível
perigo oculto das arraias
em meio ao quase imóvel
entre a fria água e a lama cinza.

Seu reflexo
duplica na lagoa da camboa
seu poder sobre a pouca pesca represada:
camarões, peixes, siris...

Exceto pelos maçaricos,
o único outro som que ecoa
é o do incrível silêncio,
esse silêncio que leva embora
a mim e a meu imaginário ancestral
sobre estas águas do Mar Dulce.

Na mente, estampadas
estas míticas imagens
de cartão postal antigo,
carimbos na paisagem paradisíaca
: névoa no ar, névoa no mar,
nas areias, em tudo;
nos meus olhos mareados

,

sobretudo...

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Na estrada (ou On the road)

Por Alcir Rodrigues

on the road. 2

Para o público admirador da Geração Beat (a Beat Generation), prato cheio! É que entrou no circuito nacional de cinema o filme de Walter Salles Na estrada, desde sexta-feira passada (13/07/2012).

filme on the road

O road movie tem por base o romance On the road, de Jak Kerouac (1922-1969), publicado pela primeira vez em 1957, consagrado como fato de relevância histórica no campo da Literatura Universal, e marco de uma geração que antecipou o movimento hippie.

wss

Por causa disso, aí vai um poema, de minha lavra:

Na biblioteca

 JKer

No grande salão, sentado, centrado também,

volvo o olhar para os leitores, mentes imersas,

sinapses superativadas, olhos, mãos e cérebros

em páginas rodando em linhas retas negras,

como se os quatro olhos ―uso óculos― fossem

as quatro rodas do Cadillac, em pleno asfalto

 

da Rota Sessenta e Seis, buscando a figura fugidia

de um Dean Moriarty, buscando o timbre

da voz de Jack Kerouac, com frio, com sede,

com fome de estradas e utópicos horizontes...

on the road

A vida em flashback de um Road Movie passa

na tela da memória, convidando a tequila e a mim

para uma fiesta en las autopistas de el México

a 150 km por hora e besos en las muchachas.

livro on the road

Os livro todos ali nas estantes sussurram-me

que os leia, como mosquitos aos milões

nas estradas zumbindo com vozes espectrais

de autores já há muito (l)idos, mas vivos de novo,

gritando ganidos silenciosos das páginas emanando...

JKer1 ws

Viva Jack Kerouac! Salve Walter Salles!

sábado, 30 de junho de 2012

O início...

 

Despertados pela claridade

embaçada do cinza frio da manhã,

dois corpos saltam

      céleres

      da cama, friamente,

deixando colcha,

           lençóis e travesseiros

do jeito como estavam,

pois resultaria inútil:

          estavam quase

              arrumados...

 

                                   Após banho e café,

                      cada um para o trabalho.

Na despedida, na rua

                        fria, cinza e ainda calma,

                um beijo seco,

                leve, breve

                frio,

                frívolo...

 

Talvez o início do fim!

aad

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O morcego gigante de Mosqueiro: fato ou boato?

morcego gigante

Tudo leva a crer que a captura de um morcego de dimensões mais que avantajadas, aqui na Ilha de Mosqueiro, há poucos meses, não passou de uma fraude. Em relação a isso, podemos aproveitar tal ensejo para parafrasear ―e, assim, também homenagear―algumas palavras emblemáticas atribuídas ao político e revolucionário russo Vladímir Ilicch Lênin (1818-1883), visto que se trata de mais um caso de uma mentira tantas vezes repetida que chegou ao ponto de a julgarem verdadeira. As palavras são estas: “Uma mentira repetida continuamente acaba se transformando em verdade”.

Primeiramente, tudo que existe de fato a respeito desse ‘monstro’ é uma única foto, postada em um blog, e repostada às dezenas de vezes por outros blogueiros de plantão (E, cá para nós, a foto “cheira” a montagem!), juntamente com um texto ao qual as repostagens acrescentaram alguns breves comentários. No entanto, nenhuma dessas repostagens atentou para o fato de que não há outras fotos, inclusive aquelas que poderiam ter sido tiradas a partir de outros ângulos. Também não há videos, coisa tão ao gosto dos internautas, que os postam no Youtube, no Twitter, ou no Facebook. (Cá para nós, a foto “cheira” a montagem.)

Por outro lado, o animal não se parece nem um pouco com um morcego da Indonésia, como fora divulgado. É grande demais, talvez do tamanho de um automóvel popular. Parece ter cabeça assemelhada a um bode, além de apresentar furos na membrana das asas, em cuja ampliação se verificam semelhanças com lona de barraca de camping. E, além do mais, está sendo ‘vigiado’ por soldados com fardamento camuflado que, espantosamente, ignoram o animal, que está (bem mal) amarrado com cordas. Ele não deveria estar enjaulado? E quanto à faca de Itu, que nem está cravada no galho da árvore?

Alguns blogs afirmam que a captura do animal se deu na Baía-do-Sol. Só esquecem que essa localidade da ilha de Mosqueiro não é pequena. Daí a necessidade de indicar local e hora exatos em que o fato teria ocorrido. Não se revelam também os nomes de quem comandou a operação e de qual cientista a ela estava ligado e que teria classificado o animal como morcego da indonésia. Além disso, nada foi cogitado sobre para qual instituição o estranho mamífero seria levado (Jardim Botânico, Emílio Goeldi, etc.; qual seu destino?).

Em certo blog, chegou-se ao cúmulo de se afirmar que a partir daquele momento estava explicada a origem do Chupa-Chupa em Colares, Baía-do-Sol, Mari-Mari, Itapeuapanema (popularmente: Tapiapanema) e Caruaru. Chama de falso ET. Que absurdo! E qual ET é verdadeiro?! Na verdade, a aparição de OVNIs nessa região específica do nordeste paraense está muito bem documentada. A própria aeronáutica brasileira investigou minuciosamente esse evento misterioso ocorrido no final da década de 1970; contudo, dos resultados dessa investigação pouco se sabe, pois quase nada os militares divulgaram.

Em uma remota possibilidade de esse morcego existir, ele iniciaria suas atividades em busca de alimento logo no início da noite, ali pelas 18:30h, aproximadamente, e retornaria para seu repouso próximo das 6:00h da manhã. Então, será que ninguém teria visto voando, nessas circunstâncias, uma criatura de tamanho porte agigantado? E quanto à mídia impressa, radiofônica e televisiva? Se o caso fosse fato, e não boato, não estaria sendo massivamente noticiado, não só de maneira local ou regional, mas nacional e internacional?

O professor Claudionor, no seu blog Mosqueirando, divulgou o ‘caso’ da captura do morcego gigante, mas sob a rubrica de “Mosqueiro conta seus ‘causos’”. Ou seja, trata-se de mais um “causo”, que, examinado sob a ótica da narratologia, compõe e enriquece o imaginário popular amazônida, até mesmo poeticamente. Mas, observado sob o prisma científico, ou mesmo o do jornalismo investigativo, não passa de um boato, que a custo querem transformar em fato. Portanto, uma farsa, mas que, mesmo repetida à exaustão, jamais ganhará o status de fato, pela simples razão de que o fato é capaz de sobreviver ao crivo da prova comprobatória, o que não é o caso (ou “causo”?) de que tratamos aqui.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Chegada

Mosqueiro-Chapéu-Virado antigo, vista para o Farol

De mãos dads com o sonho,

e acompanhada pelo vento

e o som das ondas,

ela volta para casa,

utopia

de refúgio e descanso.

img227

Sim, a cabana Yndaí

ainda esta ali,

situada em um Farol

sem tempoespaço,

--mítico--

com todos seus habitantes:

Georgina e André,

Maria e Raimundo,

e Wolney, que está

de chagada de Belém.

A menina entra,

a porta se fecha,

um novo sonho

começa a ser

sonhado...

docu0001

A Joana chegou:

uma suave voz se ouve.

Sorrisos largos se abrem.

Seus olhos se enchem de luz.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Noite de 21 de abril de 1500

imagesCAVZDDEG

O grande pássaro da escuridão

pousou sobre a vasta floresta...

... silêncio constrangedor...

 

Os muitos olhos do céu pareciam

piscar mais aceleradamente

que de costume, vaticinando

 

que se preparassem para o pior:

nem vegetais nem animais―

da água, da terra ou do ar―,

 

os povos, filhos desta Amazônia,

descobridores verdadeiramente

―primeiros aqui em Pindorama―,

 

nenhum deles escapará ileso

do apetite canino dos invasores

que viajam dentro de monstros,

caravela

deslizando nos grandes caminhos

de água e de canoas, a morada

dos peixes, dos botos e da boiuna...

 

Sem temor ou respeito nenhum

pelos encantos e encantamentos,

sem amor à terra nem aos seres,

 

que não querem nada conceder,

mas que anseiam tudo possuir―

somar, multiplicar e sub-trair:

 

estes são seus verbos prediletos.

Dividir? Só o que é dos outros...

Também nada trazer―só levar.

 

Essa era de breu e desespero

pousa seu pesado peso a partir

da noite de 21 de abril de 1500.

índios mortos            índio morto

Caminho no Maraú

imagesCAVOXOBI

O caminhante solitário

não deixou pegadas estampadas

na areia...

Ou a chuva passou uma borracha,

ou as ondas lavaram as areias,

deixando (só-mente)

um piso liso úmido

          (para os seus sucessores),

sem rastros,

como os de um curupira sem peso

que levitasse em seu passeio,

antes de retornar para seu porto seguro:

                                   Porto Max!

Cópia de fotomax_oc_06

Nem sequer um hasta la vista!

E ainda hoje,

assim mesmo, suas pegadas

indeléveis

flutuam no espaço etéreo

de um Maraú mítico,

onde poucos conseguem

alcançar a trilha

que leve leva para seu

próprio e único

                                     Caminho de Marahú...

imagesCAWPFKBP

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Uma lembrança de infância

capela scj

Era 12 de janeiro de 1976. Meu pai me pegou pela mão e me levou até a praça do Chapéu-Virado, lá onde ainda existe, encravada na pracinha ―que os mais antigos ainda chamam de largo―, aquela igrejinha bastante elegante, construída em 1909, a Capela do Sagrado Coração de Jesus.

Havia ali, naquele momento, uma multidão; na verdade, um amontoado de pessoas se acotovelando. E eu não sabia por que ou para quê. Foi aí que meu pai me botou nos ombros dele. Aí pude, enfim, ver destacadamente, entre outras pessoas, um senhor muito bem vestido, protegido por dezenas de soldados e seguranças. Parecia ser ele o motivo de toda a balbúrdia.clip_image002  Inauguração da Ponte. Fonte: MEIRA FILHO, Augusto. Mosqueiro: ilhas e vilas.Belém:Falangola,1978.                                                                                                                                   

Vi que ele lentamente levantou um pano que cobria uma estátua (sei hoje que o nome correto daquilo é busto, e que o pano era a bandeira do Pará), e todo mundo aplaudiu o que ele fez. Mais tarde, pude entender com mais clareza tudo aquilo que ocorreu naquele já longínquo dia.

Est Pça do CV  2                                Fonte:fotosdemosqueiro.blogspot.com.br

Aquele senhor, conforme me explicou papai, era o general Ernesto Geisel, o penúltimo dos presidentes militares. Ele veio ao Mosqueiro inaugurar a Ponte Belém-Mosqueiro, cujo nome oficial é Ponte Sebastião R. de Oliveira. Então, aproveitando a ocasião, na mesma manhã, ele também inaugurou o busto na pracinha ao redor da igrejinha.

Contam que ele, o Presidente, perguntou a alguém da comitiva do governo local (o estadual) qual seria a função daquela ponte. Ela teria por função “escoar” que produto? Iria movimentar a economia local?

“Não”, responderam. A ponte era para o lazer do belenense. Dizem que ficou decepcionado com o que lhe disseram. Não poderia perceber, naquela época, que o turismo é um produto rentável, e sustentável, pois não se esgota nunca.

Só sei que, décadas depois, ainda guardo na memória aquela manhã, aqueles acontecimentos que muito marcaram minha infância.

Est Pça do CV 1 Fonte:fotosdemosqueiro.blogspot.com.br

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cine Guajarino – O cinema de Mosqueiro (…Gone with the wind: …E o vento levou)

O Cinema como Arte permite-nos ir muito além do mero entretenimento, temos convicção disso. Nessa perspectiva, sugerimos uma curiosa discussão, a seguir.

Cem anos do Cinema Olímpia, de 1912 até 2012, o mais antigo cinema em funcionamento na Nação, um motivo de orgulho para todos nós paraenses. Nos dias de hoje, A “tradição”, que surgiu durante e apareceu de novo na era do ‘SECRETÀRIO’ (de cultura estadual Paulo Chaves), exige o uso das letras ‘daquela época’; portanto, agora, escreve-se Cinema Olympia (com Y); Theatro da Paz (com TH).  Será que voltaremos ao tempo da “phylosophya”? Talvez algum dia chamemos de novo o  tão charmoso arquipélago de ‘Fernão’ de Noronha'. Quem sabe?!

Sem embargo disso, nossas palavras de louvação: “Parabéns, portanto, ao cinema há mais tempo em funcionamento no ´Brasil!”  E desculpem-me pela ironia…

Devemos agradecer pelo ‘Optometrista-cassado-ainda-no-poder’, o-falso-médico, pelo que ainda existe de programação lá no Cinema, ou pela farsa? Será que nada mais é possível para o engenheiro das grandes e impossíveis obras (Portal da Amazônia e BRT, por exemplo) para que o que ainda é gratuito também seja acessível? Digo isso porque assisti a alguns filmes no belo cinema, mas a desolação é que o público é mínimo.

O que falta? A Cultura, para este governo, é como  apedrejar mangueira: se acertar, tudo bem, se não… Deus que nos guie!… E ai da cabeça onde a pedra caia!…

SELO100ANOS 

Mas bem…

Peço licença para discorrer não exatamente sobre o cinema no Pará, nem sobre o que o Pará já teve de efervescência cultural nesse setor, mas sobre essa mesma efervescência na Ilha de Mosqueiro, na mesma época do nascimento do cinema centenário: fim do apogeu da Belle Époque Francesa no Pará, fim da gestão Antônio Lemos (1912-1913).

Porém, quero me referir unicamente ao aspecto da decadência, palavra que causa repúdio aos que nela se refestelam, é claro (no ato de  explorá-la como enriquecimento oportunista, na maioria das vezes, negando-a), parasitas do povo, seja de Mosqueiro, seja de Belém, seja de Icoaraci, seja de Caratateua, agregados agentes do compulsório imposto que nos faz suportar políticas de pôr o lixo para debaixo do tapete (na verdade, para debaixo da areia das praias), políticas de faz-de-conta, a fingir que tudo está perfeito e que vivemos no paraíso.

Mosqueiro precisa de algo mais… Mas não de oportunismo! Principalmente do tipo eleitoreiro! Ainda mais neste ano. (Karl Marx nunca poderia imaginar no que daria tão acirrado Capitalismo Tardio, nas palavras de alguém inspirado por ele, não lembro se Jameson!…)

Chega de “Agente vai, a gente fica”, como muito bem já o colocou um dos mais ilustres mosqueirenses, o Professor Claudionor dos Santos Wanzeller, autor do livro Mosqueiro: lendas e mistérios (2005)! Por exemplo, o tal “agente” distrital, neste ano de 2012, quem o é? O mesmo Secretário de Saneamento de Belém? Ou Fernando Robaullo (será assim a escrita do nome dele?!)? Ou este é apenas bode expiatório? Pois, que eu saiba, acumulação de cargo constitui uma ação de improbidade administrativa! Aonde vai parar essa Nossa-Ilha-Do-Já-Teve?! Já teve agente distrital, agora só tem “paciente” distrital!…

Voltemos ao tema (pelo amor de Deus!!!!!!!!): o cinema (arte por excelência da imagem) é coisa quase intangível nesta nossa Amazônia já tão explorada, mas poucas vezes divulgada massivamente de forma legítima por essa arte, desde a invenção da ideia do ‘Paraíso Terreal’ até a de ‘Inferno Verde’, passando pela do ‘Pulmão do Mundo’, pela de ‘Paraíso da Biopirataria e de Indústria Farmacológica’, além daquela explorada de modo ridículo pela televisão ( vide Globo, 20120, telenovela, no Marajó) em busca de um IBOPE perdido. Aparentemente, essa terra, na mídia, rarefeitamente patenteia o humano, seu modo de vida, seu pensamento, sua existência sofrida, além do exótico, do pitoresco e do paradisíaco. Mas não é verdade: não só o cinema, mas a literatura (além das outras artes, mas os exemplos me escapolem, perdoem-me!) procuram emergir além dessa superfície, como é o caso do romance Moscow (2001), do média-metragem O Mastro de São Caralho (2009) e do curta Matinta (de 2010), fugidios exemplos do trivial, ainda bem.

Sei que o tema levantado é bem mais complexo do que minha reles intelijumência possa de fato debater, mas gostaria de lembrar que este mesmo Blog já postou matéria de um dos críticos de cinema de maior renome do Pará (frequentador e admirador de Mosqueiro!), Pedro veriano, que desenhou a história do único cinema de Mosqueiro, mas que a Ilha perdeu, posto em funcionamento na mesma época (1912), mas que teria se extinguido lá por 1976.

Com esta ideia inicial quero debater o tema de Mosqueiro como A Terra-do-Já-Teve. Iniciarei aqui este debate, que pretendo levar mais adiante, no decorrer do tempo, pacientemente, e com a serenidade que o tema pressupõe, com a ajuda de posiocionamentos (denominados de ‘prós’ e 'contras’, além daqueles chamados de de-cima-do-muro) dos leitores em geral deste blog. Causas e efeitos, contraposições, repúdios, concordâncias…repugnâncias, até…

O que vier são consequências do debate, não motivos para arrogâncias, nem para inimizades, ameaças, enfrentamentos físicos, ou atos de violência de qualquer natureza. Nada disso!

O bom de tudo é fazer relembrar que o tema é Mosqueiro: seus problemas, suas memórias, o que pode ser feito para mudar --e para melhor --a convivência nesta Ilha.

Nessa perspectiva, passo a reproduzir o texto de um ser humano que amou esta Ilha a ponto de querer que suas cinzas fossem lançadas na praia do Areão, recanto de sua infantojuvenilidade. O nome dele é Wolney de Vasconcelos Dias (1924-2012), meu tio, irmão de minha mãe, Joana Maria de vasconcelos Dias (1931- ). Ele escreveu suas memórias abordando sua vida no Mosqueiro nas décadas de 1930-40-50, crendo que vivenciava uma vida no Paraíso Terreal. Viva ele!, Meu tio.

Muito obrigado, titio, por tudo que pôde nos deixar de tão preciosas memórias. O futuro deste recanto fica-lhe muito grato!

Segue o texto:

             Cine Guajarino

MOSQUEIRO CINE GUAJARINO Ao fundo, da metade para cima, à direita, uma das poucas imagens da fachada do Cine Guajarino, que durou de 1912 até 1976, segundo Pedro Veriano, no livro Cinema no tucupi (Secult, 1999, p. 40)

O primeiro cinema de Mosqueiro era localizado no Mercado Municipal. Não chegamos a conhecê-lo, ali. Quando isso aconteceu, já funcionava em prédio próprio, construído a mando de Artur Pires Teixeira, a quem, aliás, muito deve Mosqueiro. Morava ele no Porto Artur, local assim denominado por ter sido pioneiro em construir, ali, sua chácara. De carruagem, com uma parelha de cavalos bem tratados, com faróis laterais e cocheiro, visitavam, ele e sua família, algumas vezes, a Vila e o cinema.

A vendedora de ingressos era dona Alice: simpática, cabelos grisalhos, muito atuante. O porteiro era o seu marido, o Sr. Valdomiro, que vendia frutas no mercado, onde tinha um aparador. Eles acompanharam por muitos anos toda a trajetória do Cine Guajarino. De início, o cinema era mudo, animado apenas pelo conjunto musical do Paizinho, que tocava seu violino, ou, quando o filme era triste, roncando sobre o rabecão ―apelido que dávamos ao contrabaixo. O conjunto ia assistindo ao filme e, conforme a cena, atacava com o repertório. Quando se tratava de uma cena amorosa, ouvia-se a tão decantada valsa:

“Tão mimosa, graciosa e angelical,

Nasceu em meu jardim uma linda flor,

Naquela noite santa de Natal,

No momento em que juramos eterno amor.

No entanto, você a tudo esqueceu,

Trocando meu coração por outro ser.

E flor, ao ver então sua ingratidão,

Murchou e se desfolhou até morrer.”

 

Pode acontecer não estar correta a letra; todavia, é assim que nos ocorre no momento.

O Cine Guajarino foi inaugurado em 1931, segundo constava na sua placa de inauguração. Nessa época, tínhamos apenas 7 anos. Marido e mulher tomaram conta do cinema anos a fio. Foi quando tivemos consciência de que no cinema o seu operador era o Sabá, antes havendo sido o Sr. Alvarez (pai dos nossos amigos Alfredo, Francisco e Oderfla). E Sabá, já em nosso pleno entendimento, era homem de sete instrumentos. Curioso, consertava relógios e tantos outros aparelhos. Juntou-se a Margarida, que fora empregada de nossos avós.

Eu fazia a pintura das tabuletas do cinema. Esmerava-me da melhor maneira, e minha paixão por cinema era tão grande que passei a ajudar o Sabá no seu serviço, enrolando os carretéis das fitas e aprendendo a ser operador. Esse pessoal compunha o quadro vivo do cinema de nossa geração.

A coqueluche da época eram os seriados que passavam aos sábados. A rapaziada fazia de tudopara não perdê-los. Para arranjar dinheiro, tudo era válido, até mesmo tirar ovo de galinha choca, quando se descobria. Dizia-se que o camaleão os havia comido, todos. Nós tivemos sorte por o Comandante Ernesto ter passe gratuito para quatro pessoas, dado pelo Sr. Artur Pires Teixeira.

Os seriados mais famosos foram Os perigos de Paulina, Sertão desaparecido, Trem ciclone, com o formidável John Wayne, e A visão fatal, com o terrível Bela Lugosi. Deste seriado temos gratas recordações, pois, pela primeira vez, vimos a televisão: o chefe da gangue dava suas ordens através do video e logo desaparecia. Quando vimos isso, todos gritaram: ―É mentira!

Como poderia ser possível transmitir a imagem através de distências? Felizmente hoje estamos vivendo essa realidade e tantas outras. Espantava-nos o seriado de Flash Gordon, com Buster Grabe, do planeta Ming, e as viagens espaciais. Se vivermos mais alguns anos, quem sabe se até não faremos uma?... Na marcha do progresso, nada é impossível!

Nesse tempo, o cinema mudo estava superado, pois a novidade despontava com o sonoro, mais tarde o colorido. O cinema continuava a ser a única opção de lazer na Vila. Havia duas matinês aos domingos.

Nesse tempo, o ruim mesmo era não saber escolher a namorada. Teria que ser uma que não tivesse muitos irmãos, senão sía cara a brincadeira, pois todos iam, diziam seus pais, para vigiar a irmã. Foi bem marcante essa passagem do Cinema Guajarino em nossa vida”

                                                  ***

Há discordâncias entre este texto e o que já postamos, do historiador e crítico de Cinema, Pedro Veriano.

A intenção sempre será, a partir do confronto, o entendimento de nossa riqueza cultural. Em novas postagens, quem sabe, o debate esclarecerá essas lacunas…

Não esqueçamos, toda essa retrospectiva é de autoria de Wolney de Vasconcelos Dias (1924-2012), que foi Agente Distrital de Icoaraci e Prefeito de Primavera e Capitão-Poço. Viveu sua infância em Mosqueiro e aqui quis ser sepultado.

sábado, 7 de abril de 2012

Tempo que enche e vaza...

Canoeiro

Eita! A maré já está vazando!...

Logo-logo será boa hora

para despescar os matapis.

É bom ir logo, antes das 6,

soturna hora da Ave-Maria.

 

O silêncio quase reina ali.

O porronca marca, em sua cinza

―que vai crescendo lá no canto

da boca do caboclo ribeirinho―,

o líquido tempo que deságua...

 

... e vaza nestas barrentas águas

(lépidas como os tralhotos),

levando galhos, sementes e folhas,

lavando o tijuco mole da beira

e também minha vida cotidana...

maré baixa

 

A monotonia da aragem calma,

fazendo bailar as altas árvores,

além do calor, cachaça, maruins,

amortecem os meus músculos,

e o leve deslizar da montaria

(de) marca o navegar das horas,

nesse ritmo de folhas paradas,

quase, e do vaivém dos sararás

em sua faina sobre a lama...

 

Mas os matapis não sobem fartos

do fundo dessa senda líquida,

confortável estrada esta minha

de onde colho o alimento incerto...

É bem verdade, por mim não semeado.

paneiro de camarão

 

Esta vida imaginada, impressa

neste papel frente a teus olhos,

é uma forma de viver virtual,

realidade recriada, revivida,

no ritmo das águas, das marés,

chuvas, matas entrecortadas

por sinuosas estradas líquidas,

estradas tuas e minhas, ir e vir

que representa a própria vida...

canoeiro 1

O Paraíso é um acampamento em 91

 Paraíso 1                                         

                        É noitinha ainda...

Arremesso longe a linha de pescar:

quase pesco toda a conjunção

interplanetária que no céu desenha

uma geometria triangular ―

Vênus, Marte, Júpiter e Saturno

derramando brilho nas águas

mornas da Baía-do-Sol,

onde me banho, à espera de

um improvável peixe fisgado

pelo meu azarado anzol canhoto.

 

Na verdade, a pinga já me fisgou

por completo, quase...

                                          ...me levando embora,

                                         ou nos calientes braços de Iemanjá

                                                (para o fundo das águas),

                   ou, quem sabe, nas asas dessa imensa

escura ave, chamada

            noite de Anhangá,

rumo aos milhares de olhos que piscam no céu...

 noite

Por trás da fogueira,

a barraca de camping

abriga os companheiros irmãos,

talvez sonhando com a Boiuna-Luna

de Macunaíma, astro flutuando

e distribuindo sua claridade

em gotas fosforescentes pingando

que nem sereno nesta praia-paraíso,

espocando no contato com as chamas

da fogueira deste improvisado acampamento.

 

Além dos habitantes da barraca,

também dorme um sono dos justos

a Ilha do Maracujá, logo ali e ao largo

―na ilharga da praia―,

um arremate no recorte da enseada,

como um barco ancorado, sempre a partir,

                                                     e sempre a ficar,

encalhado na terra e na memória,

beleza de areia, pedras e vegetação:

            um oásis para os enamorados corações.

 paraíso 2

Não vejo por aqui-agora nem Eva nem Adão,

apenas a serpente:

uma jiboia, um ofídio sem peçonha...

 

Inoculada em mim, sabe lá

por qual deusa ou deus,

uma outra peçonha ― um feitiço que me traz de volta

sempre ao Paraíso, e sua maçã

estampa-se no cartão postal

que me rodeia: são águas

                                          areias

                              céu nem sempre azul                     com muitas nuvens

        barracas e barrancos

                                                                                                                                                                               Ilha

                       rochas

            baía

                           as canoas

paraíso 12

                                 o verde da vegetação          e a casa colonial

                 a conversa e a pinga

                                  o dominó, o baralho

                                              as caminhadas em grupo

           a fogueira com a panela

                                                             na lenha em brasa

os banhos nas ondas a lavar

                        o corpo e extirpar o suor

                                                  do excesso de cachaça

 

Foi belo o dia chuvoso,

mas a noite é encantadora...

As sombras do arvoredo dançam,

como as sombras na Caverna de Platão

a emparedar em mim um ethos ou ideário

com ares de soturnidade...

 

Talvez porque todos dormem,

e eu nem a garrafa me conduz

ao mundo de Morfeu...

 

A Lua levitando

no profundo éter noturno

geometriza no olhar

um quadro de indistinta proporção

e intangível equidistância

com a conjunção dos planetas,

astros imantados atraindo

este pescadorpoeta noctívago

banhando-se na mancha láctea

fosforescente replicada do céu

no piso líquido da baía,

esta que me traz a aromática

aragem cálida como mensagem

de uma nova vida, novo princípio...

paraíso 8

Isso porque já amanhece o dia: a manhã beija

em brisa friazinha meu rosto insone...

As nuvens leves flutuam não só no céu,

mas muito mais em minha quase inconsciência...

Já ouço murmúrios de dentro da barraca.

Talvez agora seja o momento de levitar.

Meus pés me arrastam para fechar

os olhos e poder esquecer de quase tudo...

Paraíso 13

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Naquele tempo... (ou Bispo agora-ontem)

P Bispo

Neste novo amanhecer na praia

―a do Bispo―, há uma névoa

cristalina que quer esconder

a realidade presente e revela

espontaneamente um outrora

ante minhas retinas estupefatas.

 

A lenda impele sua indistinta figura

no lento rumo daquele monumento:

São Pedro, imagem do santo pescador

decaído, que a baía já engoliu de todo.

 

Este é um olhar na direção da seta

apontando o que já-foi, tempo (tardio

tempo!) do qual ficaram somente

migalhas na palma de minha mão,

onde pousa este um pássaro etéreo

que vem mariscar e deixa, apenas,

o cuí indistinguível do tempo ido...

 

E voa.... voa... e fico contemplando

sua sombra a se desvanecer nas nuvens.

Est S P