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sábado, 5 de setembro de 2015

Barata, Jatene e Odorico Paraguaçu: quem você prefere?

     
Esta publicação pode servir para, em determinados momentos de reflexão, os educadores ponderarmos a respeito do ser e do fazer de certos governantes de ontem e de hoje (por exemplo, Magalhães Barata e Jatene). Não obstantemente —como diria um Odorico Paraguaçu— o fato de esses gestores agirem como defensores dos segmentos elitizados da sociedade, de modo geral, sempre pretenderam aparentar—no mínimo— que são uma espécie de “Pai-Dos-Pobres”, resguardadas as diferenças contextuais. Pelo menos, diríamos, alguns sabiam ‘fingir’ de modo bem mais convincente na época dos “pratrasmente”, sabendo-o menos agora, na época dos “presentementes”. O que na atualidade só se ‘faz’ porque uma mídia de extrema interconectividade ‘documenta’ de modo espantoso (não só documentando, mas também inventando), nos “antigamentes” —de novo, como diria um Odorico Paraguaçu — era preciso ‘pisar na lama’[1].

Embora sejam, atualmente, 144 municípios dentro do estado do Pará, em que cabem umas três ou quatro espanhas, uns dez portugais, umas vinte bélgicas ou holandas, sendo um tanto difícil sustentar uma agenda que cubra uma pequena mas significativa parcela dos municípios que o governador Simão[2] poderia conhecer, ainda assim seria possível mostrar ser mais ou menos um bom paraense, um bom conterrâneo (mesmo de modo a acender nosso desconfiômetro), visitando aqui e ali os municípios mais afastados, mostrando ao povo um relativo interesse, hipócrita que seja, pelo povo do estado que se governa. Aqui não se defende a hipocrisia farisaica, não. Nem o maquiavelismo, nem o cinismo. Muito menos, o populismo. O caso é que se chegou a um ponto em que foram amalgamadas diversas más qualidades em apenas um ser humano. De todas, a mais gritante é a que se denominou, aqui no Brasil, de “cara de pau”.
A preguiça é tão notória que, no momento em que se passa a referi-la, já se está chovendo no molhado. Então, fiquemos com a “cara de sucupira”, de quem sequer ventila a possibilidade de fingir se importar, por exemplo, com a educação de nossas crianças, adolescentes e jovens, além, claro, com a dos adultos que, por alguma razão, não tiveram a oportunidade do acesso a esse bem socioeconomicocultural de tamanho valor, mas que da parte do governador atual é desprezado, pelo pouco investimento de modo geral na área, não considerada por Jatene como estratégica ou prioritária. O incrível é que, pelo amor dedicado por ele à pesca ou à música (já que ele se considera violeiro e compositor) deveria investir nessas áreas, mas também não é o que ele faz. Deixem-se de lado, sem comentar também —pela obviedade, claro —, os casos relacionados aos setores da saúde, saneamento e segurança. Aliás, o que anda tendo a atenção do gestor estadual?

É difícil de dizer. Talvez impossível. Em todo caso, relacionado a essa... ca-rac-te-rís-ti-ca... marcante ventilada por nós, a cara de maçaranduba já é tanta que se chega a se crer que a realidade do descaso já supera a ficção, pelo bizarro e surreal que se tornou encarar qualquer prédio escolar da rede estadual de ensino no Pará. A experiência semelha a qualquer coisa como encarar a paisagem de alguns filmes de ficção científica, como um Mad Max (da primeira versão, de 1979), um Waterworld (1995), um Distrito 9 (2009), um Elysium (2009), um Oblivion (2013), ou, mais atualmente, um Agente do futuro (2014), entre outras películas cinematográficas que mostram o sucateamento e a decadência extrema em uma Terra onde predominam ambientes distópicos e topofóbicos, caindo aos pedaços (ao pé da letra, não metaforicamente). São lugares desagradáveis de se estar, de se estudar, de se trabalhar. É por causa disso que a ficção supera a realidade, já que Odorico Paraguaçu, embora represente fielmente a caradurice de certos gestores, é um personagem muito engraçado. E sua vilania serve para mostrar que a realidade se faz muito bem representada e escarnecida na ficção.
E para mostrar que o botox metafórico de ontem era bem menos intenso que o de hoje, compilamos abaixo uma notícia de jornal, não sem nos preocuparmos em esclarecer que não se trata de apologia, mas de mostrar um dado curioso que serve como parâmetro de comparação com os fatos discutidos neste texto. Então seguem as palavras do jornal paraense, já extinto, Folha do Norte:

                         O Coronel Magalhães Barata visitou, ontem, a Vila Balneária do Mosqueiro

                          Depois dos cumprimentos o interventor Barata e comitiva tomaram um ônibus e seguiram rumo a Carananduba. Aí, S. Excia. visitou, assim que chegou, uma escola, indagando pela frequência, professores e material escolar, determinando, antes de se retirar dessa casinha de ensino, quasi em plena mata, providências a fim de que nada faltasse aos filhos dos pobres caboclos que ali lutam pela vida (Folha do Norte, 07 jul. 1943. Grifos nossos.).

O caro leitor e a cara leitora têm toda a liberdade para tirar suas próprias conclusões.

Vale aqui registrar um PS (POST SCRIPTUM) sobre aquela piada relativa ao favorecimento na era do Interventor Barata, quando ele pede a um assessor que dê um emprego a uma correligionária sua. Ela teria o cargo de professora. Em dado momento, o assessor se dirige ao governador, dizendo-lhe:
— Excelência, mas essa senhora é analfabeta! Não podemos contratá-la...
No que Barata, peremptoriamente, sai com esta frase:
— Ora, contrate e aposente logo em seguida.


Foi muito fácil de resolver, não foi?



[1] Dias Gomes (1922-1999), dramaturgo e teledramaturgo criador da pequena e fictícia cidade nordestina chamada Sucupira, cujo prefeito se chamava Odorico Paraguaçu, personagem que se utiliza de uma linguagem muito peculiar e engraçada, carregada de neologismos (palavras novas, inventadas).
[2] Curiosamente, tal substantivo próprio é homônimo àquele que dá nome a um apóstolo de Jesus, que o traiu, mentindo e renegando-o três vezes em uma mesma madrugada, e que era também pescador, cujo nome Jesus mudou para Pedro, que é o 1º e mais importante Papa (uma espécie de Presidente ou Governador de todos os papas, que devem segui-lo por modelo).

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Foto rara de Mário de Andrade no Mosqueiro


Mário de Andrade em 1927, na Ilha do Mosqueiro, no Pará - Divulgação/Nova Fronteira/IEB-USP



Sabe-se que muitos esperam uma identificação da praia. O sítio virtual de onde a 'salvamos' não a identifica, porém. Por uma questão que envolve a vivência e a geração de que faço parte, impede-me de ter essa lembrança, que talvez só os mais idosos da ilha possam ter. Quem puder dizer em que lugar está o Mário da foto, por favor, poste um comentário neste blog.
Desde já, agradecemos pela ajuda.



Disponível em: http://oglobo.globo.com/cultura/livros/missao-mario-de-andrade-uma-viagem-pela-cultura-popular-inspirada-nas-pesquisas-do-escritor-16495442. Acesso em: 02 set. 2015.

O livro Chapéu Virado

CHAPÉU VIRADO, a lenda do boto - Uma História de Encantamento Amazônico

Salomão Larêdo escritor e jornalista

Ficção baseada em versões da lenda do boto.
O conto se passa em uma ilha, que pode ser a do Mosqueiro com seu Chapéu Virado que dá título ao trabalho.
O livro tem formato de bolso, pra ler em qualquer lugar. Leitura gostosa e sedutora. 


TRECHOS DO LIVRO
"Lá fora não carecia soar hora para permitir tudo fosse feito. No terreiro, cada um cuidava de fazer sua hora e tudo se permitia. Era mais saudável, a noite convidava e o rio fazia sua festa para os amantes. Tudo perfeito, tudo divino!...

Cantinflas não dava descanso e Chica não cansava. Beijos e beijos, juras de amor de tudo que Chica desejava estava ali em sua frente. Como procurou seu amado! Quem procura, acha. Encontrou!!!....
Deslumbrada ante a figura tão bela completamente perdida e totalmente apaixonada, ferida no coração por flecha possante e desejosa de carícias, pouco a pouco Chica foi-se entregando, entregando...

Quando homem a apalpava, ela suava de prazer. Quando seu homem topou as delícias daquele jeito, sentiu uma força especial e Chica uma coisa também diferente.

- Estou menstruada, amor!

Cantinflas foi lá nas alturas e voltou.

Beijos, afagos, carícias e um não sei que mais impossível de aguentar, Chica que só esperava por aquilo, que ansiara tanto tempo, que procurava, que se mantivera firme, que não abandonara a luta, poderia provar, queria provar, sonhara, sofrera por aquele amor, vivera momentos de angústias, estava com a recompensa, encontrara o homem de sunga lilás que foi assim que ele se mostrava outra vez atiçando as estranhas e todo corpo da mulher Chica e de Chica, mulher sedenta e desejada.

Chica, com todas as forças, atira-se nos braços de Cantinflas. É noite e noite de infusa beleza, dizem os poetas e se entrega com a força da total entrega...

Chica é toda ternura! Está saciada, está deslumbrada, está mais excitada e bela que nunca e repleta de sua mais vital força que é a alegria de viver e nesse estado, quase desmaia ao ver, com o clarão do dia (era o homem de sunga lilás, lindo, lindo!) que os pés de seu amante apresentam os calcanhares voltados para a frente.

Só então Chica percebe ter sido vítima do diabo sedutor das águas. O demônio existe sim e Chica está diante de sua maior tentação e pondo a memória mais que rápida pra funcionar, entende tudo e solta grito pavoroso, pedindo socorro.!!!!

Imediatamente os amigos e as amigas da festa, os colegas e mais pessoas apressam-se para saber o acontecido e ainda podem ver que o homem de sunga lilás, bonito, bonito, num horrendo pitiú que sai de seu corpo, dá um pulo e mergulha, para, logo em seguida, traindo a identidade até mesmo para seus mais que amigos que o julgavam rapaz da cidade, gente mais que normal, vir à tona. E, mostrando o focinho vermelho, sopra um jato d’água na direção de Chica, numa espécie de zombaria. Havia conquistado mais uma...

A praia foi ficando lotada de gente que ouvia as narrativas com espanto e credulidade mesmo. Dizem que não existe, que não é verdade e isso vive acontecendo, todo veraneio essa coisa acontece, de modo diferente, mas acontece, existe, quem não quiser que deixe de acreditar. E os falatórios se sucediam..."

Disponível em: . Acesso em: 02 set. 2015.