Esta publicação pode servir para, em determinados momentos de reflexão, os educadores ponderarmos a respeito do ser e do fazer de certos governantes de ontem e de hoje (por exemplo, Magalhães Barata e Jatene). Não obstantemente —como diria um Odorico Paraguaçu— o fato de esses gestores agirem como defensores dos segmentos elitizados da sociedade, de modo geral, sempre pretenderam aparentar—no mínimo— que são uma espécie de “Pai-Dos-Pobres”, resguardadas as diferenças contextuais. Pelo menos, diríamos, alguns sabiam ‘fingir’ de modo bem mais convincente na época dos “pratrasmente”, sabendo-o menos agora, na época dos “presentementes”. O que na atualidade só se ‘faz’ porque uma mídia de extrema interconectividade ‘documenta’ de modo espantoso (não só documentando, mas também inventando), nos “antigamentes” —de novo, como diria um Odorico Paraguaçu — era preciso ‘pisar na lama’[1].
Embora sejam, atualmente, 144
municípios dentro do estado do Pará, em que cabem umas três ou quatro espanhas,
uns dez portugais, umas vinte bélgicas ou holandas, sendo um tanto difícil
sustentar uma agenda que cubra uma pequena mas significativa parcela dos
municípios que o governador Simão[2]
poderia conhecer, ainda assim seria possível mostrar ser mais ou menos um bom
paraense, um bom conterrâneo (mesmo de modo a acender nosso desconfiômetro),
visitando aqui e ali os municípios mais afastados, mostrando ao povo um
relativo interesse, hipócrita que seja, pelo povo do estado que se governa.
Aqui não se defende a hipocrisia farisaica, não. Nem o maquiavelismo, nem o
cinismo. Muito menos, o populismo. O caso é que se chegou a um ponto em que
foram amalgamadas diversas más qualidades em apenas um ser humano. De todas, a
mais gritante é a que se denominou, aqui no Brasil, de “cara de pau”.
A preguiça é tão notória que, no
momento em que se passa a referi-la, já se está chovendo no molhado. Então,
fiquemos com a “cara de sucupira”, de quem sequer ventila a possibilidade de
fingir se importar, por exemplo, com a educação de nossas crianças, adolescentes
e jovens, além, claro, com a dos adultos que, por alguma razão, não tiveram a
oportunidade do acesso a esse bem socioeconomicocultural de tamanho valor, mas
que da parte do governador atual é desprezado, pelo pouco investimento de modo
geral na área, não considerada por Jatene como estratégica ou prioritária. O
incrível é que, pelo amor dedicado por ele à pesca ou à música (já que ele se
considera violeiro e compositor) deveria investir nessas áreas, mas também não
é o que ele faz. Deixem-se de lado, sem comentar também —pela obviedade, claro
—, os casos relacionados aos setores da saúde, saneamento e segurança. Aliás, o
que anda tendo a atenção do gestor estadual?
É difícil de dizer. Talvez
impossível. Em todo caso, relacionado a essa... ca-rac-te-rís-ti-ca... marcante
ventilada por nós, a cara de maçaranduba já é tanta que se chega a se crer que a
realidade do descaso já supera a ficção, pelo bizarro e surreal que se tornou
encarar qualquer prédio escolar da rede estadual de ensino no Pará. A
experiência semelha a qualquer coisa como encarar a paisagem de alguns filmes
de ficção científica, como um Mad Max (da
primeira versão, de 1979), um Waterworld (1995),
um Distrito 9 (2009), um Elysium (2009), um Oblivion (2013), ou, mais atualmente, um Agente do futuro (2014), entre outras películas cinematográficas
que mostram o sucateamento e a decadência extrema em uma Terra onde predominam
ambientes distópicos e topofóbicos, caindo aos pedaços (ao pé da letra, não
metaforicamente). São lugares desagradáveis de se estar, de se estudar, de se
trabalhar. É por causa disso que a
ficção supera a realidade, já que Odorico Paraguaçu, embora represente
fielmente a caradurice de certos gestores, é um personagem muito engraçado. E
sua vilania serve para mostrar que a realidade se faz muito bem representada e
escarnecida na ficção.
E para mostrar que o botox
metafórico de ontem era bem menos intenso que o de hoje, compilamos abaixo uma
notícia de jornal, não sem nos preocuparmos em esclarecer que não se trata de apologia,
mas de mostrar um dado curioso que serve como parâmetro de comparação com os
fatos discutidos neste texto. Então seguem as palavras do jornal paraense, já
extinto, Folha do Norte:
O Coronel Magalhães
Barata visitou, ontem, a Vila Balneária do Mosqueiro
Depois dos
cumprimentos o interventor Barata e comitiva tomaram um ônibus e seguiram rumo
a Carananduba. Aí, S. Excia. visitou, assim que chegou, uma escola, indagando
pela frequência, professores e material escolar, determinando, antes de se
retirar dessa casinha de ensino, quasi em plena mata, providências a fim de que
nada faltasse aos filhos dos pobres
caboclos que ali lutam pela vida (Folha
do Norte, 07 jul. 1943. Grifos nossos.).
O caro leitor e a cara leitora têm toda a liberdade para
tirar suas próprias conclusões.
Vale aqui registrar um PS (POST SCRIPTUM) sobre aquela
piada relativa ao favorecimento na era do Interventor Barata, quando ele
pede a um assessor que dê um emprego a uma correligionária sua. Ela teria
o cargo de professora. Em dado momento, o assessor se dirige ao governador,
dizendo-lhe:
— Excelência, mas essa senhora é analfabeta! Não podemos contratá-la...
No que Barata, peremptoriamente, sai com esta frase:
— Ora, contrate e aposente logo em seguida.
[1] Dias
Gomes (1922-1999), dramaturgo e teledramaturgo criador da pequena e fictícia
cidade nordestina chamada Sucupira, cujo prefeito se chamava Odorico Paraguaçu,
personagem que se utiliza de uma linguagem muito peculiar e engraçada,
carregada de neologismos (palavras novas, inventadas).
[2]
Curiosamente, tal substantivo próprio é homônimo àquele que dá nome a um
apóstolo de Jesus, que o traiu, mentindo e renegando-o três vezes em uma mesma
madrugada, e que era também pescador, cujo nome Jesus mudou para Pedro, que é o
1º e mais importante Papa (uma espécie de Presidente ou Governador de todos os
papas, que devem segui-lo por modelo).
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