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domingo, 21 de março de 2010

Chapéu-Virado, 21 de janeiro de 1836

Piso este solo sagrado,
onde sou apenas remanescente
dos que tombaram, heróis sidos,
mortos que caminham hoje
nas sendas da memória
de quem os reverencia.

É dia 21 de janeiro de 1836:
balas chispando o espaço
do que seria o futuro Chapéu-Virado,
alvejando as tropas em conflito
e chacoalhando meus neurônios,
excitando-os em sinapses imaginárias...

... e legalistas tombando,
cabanos tombando
e se levantando agora,
no momento em que reescrevo
suas trágicas histórias,
libertando-as do apagamento
a que o ostracismo condenou.

Os canhões trovoam, mesclados
ao som do arrebentar dos vagalhões
ali na beira da praia...

Uma praça, uma igreja, um caramanchão...
Um prédio de um antigo hotel...
O edifício Lílian Lúcia...
O chalé Porto Franco...
A orla, as farmácias, as barracas...
Banhistas, passantes, carros,
motos e bicicletas habitam este solo
em fronteira com a praia do Farol.
Os heróis tombam no combate,
clamam, num ganido candente:

― Quem se lembra de nós, que lutamos desigualmente
por um punhado de menos desigualdades?!...

Um grito inaudível ecoa em minha mente...



(Pouquíssimas pessoas tem conhecimento desse evento histórico de tão alta relevância, relatado em primeiro lugar no livro "Motins políticos", de Domingos Antônio Raiol, no terceiro volume, publicado pela UFPA, 1970, p. 894)

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