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sábado, 12 de novembro de 2011

O grevista convicto

Por Alcir Rodrigues

Dignidade

Aproveito o ensejo da atual greve estadual de professores (também sou um deles, um grevista), para inserir uma repostagem de outras greves, um texto que elaborei com o propósito de abordar alguns aspectos de uma longa, desgastante e penosa greve contra o governador Almir Gabriel (também alcunhado por alguns de Cara de Rato, ou Rato Fujão), quando alguns companheiros, já combalidos pelas ameaças ditadurescas, que nada mais eram senão tentativas de desmobilização da categoria ao estilo de quem só tem como argumento os sofismas (um eufemismo para mentiras) e força bruta, aproveito este ensejo para elevar, espero, o moral da ‘companheirada’, com palavras de incentivo e coragem…

greve

Juntamente com aquela tarde, a reunião já findava. Aparentemente, alguns professores, hesitantes, queriam retornar às aulas. Alguém, calmamente, começou a falar:

─ Vocês conhecem, meus companheiros, O poema “Congresso internacional do medo”? Não, não conhecem? Permitam-me lê-lo: “Provisoriamente não cantaremos o amor,/ que se refugiou mias abaixo dos subterrâneos./ Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,/ não cantaremos o ódio porque esse não existe, / existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,/ o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,/ o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,/ cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,/ cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,/ depois morreremos de medo/ e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.”

Vocês gostaram? É, alguns, sim... outros menos, outros nem tanto... não é mesmo?

Bem, esse poema, Drummond o publicou no livro Sentimento do mundo, em 1940, durante a II Guerra. Havia realmente no ar o forte clima de angústia, dúvida sobre o futuro do mundo, sobre a liberdade. Pairava na atmosfera uma nuvem cinzenta-enegrecida: o medo, intensamente chovendo sobre a Terra, o medo.

Mas o que se sente agora, entre pessoas do movimento (ou mesmo ─ melhor: principalmente ─ entre aquelas que não aderiram a ele e, muito provavelmente, jamais aderirão), o que se sente não é precisamente o que se pode chamar de medo. Comparado àquela época de real terror, guerra, miséria, morticínio, este nosso momento aprisiona-nos numa abstrata e imensa masmorra de paredes espelhadas, que refletem não mais que um medo irreal, um edifício de aflição ─ desabando sobre nós, mergulhando-nos no mar abissal da fobia, um medo, uma angústia fictícios.

Lei

Que nos pode acontecer, afinal? Irmos para uma guerra e lá perecer/ Sermos levados para guetos ou campos de concentração e trabalhos forçados nazistas e, finalmente, para as câmaras de gás e crematórios? Talvez Jack, o Estripador, nos aterrorize? Quem sabe o Bicho-Papão? Talvez um meteoro caia sobre nós?!... É, é bem possível... ou não? Certamente, somos nós todos excessivamente mais imaginativos que todos os personagens do Sítio do pica-pau amarelo juntos, ou possivelmente mais que o próprio Monteiro Lobato. Por isso, digo: FOBIA, é apenas isto o que oprime nossos corações atormentados. Estamos algemados, e, provavelmente aprendemos a ter afeição pelas algemas.

Quem se importa

Se não tenho medo, é o que querem saber? Claro que tenho! Só os loucos, ou idiotas de carteirinha, afirmam não ter medo. Possivelmente, tenha algumas, senão várias fobias. Entretanto, constantemente faço esta reflexão: se me acovardo hoje, quem ou o que serei eu no futuro? O presente que se acovarda torna-se o futuro que se nega, com uma pesada carga na consciência. O presente metamorfoseia-se no passado do amanhã. No futuro, quero ter orgulho do que fui e fiz neste momento. E não quero a tola postura de hoje me engolindo num assombroso vórtice, no futuro: este vórtice devorador conhecido como remorso.

Não gostaria de ser repetitivo, mas insisto nisto: Digam-me:”Que passado escolheremos agora para o nosso futuro?”

Alguns, sem saber direito o que faziam, quiseram aplaudir. Chegaram outros a subvocalizar talvez uma, duas sílabas, num quase murmúrio, mas calaram-se, como a maioria o fez. A indagação ecoou nas consciências de todos. A mudez, só a mudez foi ouvida ali naquele momento. Contudo, melhor resposta veio dois dias depois, na segunda-feira: a ausência de todos se fez repleta presença de coragem e união daquelas pessoas.

Governador

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

África pós-colonial

Por Alcir Rodrigues

crian

No campo minado,

            a Inocência brinca,

na pele

             de crianças

contentes...

mina

 

Os pais, nas minas

garimpam os diamantes

que alimentam

certa riqueza,

que sai dali

para a Europa;

dali para o Japão;

dali para Cingapura,

para Dubai,

para os EUA...

diam

 

Também fica ali,

mas para uns poucos, apenas:

os senhores da guerra

e da política.

           Movidos pela Ganância,

são profissionais exterminadores,

étnicos e da inocência,

que transformam crianças

em “guerrilheiro” sem causa,

jovens sem porvir,

                     homens sem propósito,

mulheres enviuvadas,

violadas e prostituídas,

mães solteiras,

                 órfãs de filhos, estes

mutilados pelas minas terrestres,

e pelo abuso de poder,

que se camufla em uma

falsa revolução...

mult

 

Pedaços de utopia

vão apressadamente levados

para as precárias instalações médicas,

e dali para o necrotério,

quase irreconhecíveis...

Guerr

 

Nas cidades, a guerrilha.

No campo e na selva, também:

a Violência torna comum

a vida de todos,

                      pobres ou ricos,

mulheres ou homens,

crianças, jovens ou velhos,

negros ou brancos.

                                      Ela já não assusta.

                     Não assombra ninguém:

   Ela é banal...

 

                                  O sangue, ali, é a cor da moda!

Os raios do sol são vermelhos,

a chuva é líquido vermelho.

Rios vermelhos serpenteiam

                                   pelos vales,

                                         e desembocam

             em um mar de sangue...

 

Os Sonhos vão-se embora,

            juntamente

com a Alegria, com os remédios,

com a comida, levando embora

       a mínima Esperança,

que também já agoniza.

Quem veio de mudança

e se instalou

          de forma perene

foram a Fome e a Doença,

               que paridas pela Guerra

crescem bem nutridas

em todos os territórios por ali,

                                         inclusive

no coração e na mente

dos seres humanos.

               A irmã mais nova

já foi plenamente gestada

pelo ventre da Guerra…

crian2

 

Se a Violência, a Fome,

               a Doença e a Morte

são paridas pela Guerra

(e esta é filha legítima da Ganância),

          o Ódio foi abortado

como um inumano monstro disforme,

incumbido de aniquilar

                                 de vez

             a Paz,

e sepultá-la em tumba oculta,

sem Glória,

                nem clamor ou Saudade...

Só que a Paz não jaz em paz!...

Travestida de Fênix Renascida,

ela subjaz em latência,

germinando/brotando

              fortalecendo-se

à espera da Harmonia,

que há de vingar um dia,

nem que seja o último da vida,

           ali, naquele continente desolado!…

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Caruaru é meu destino (Dizem por aí...)

GEDC0951

Cumpro, todas as noites,

Este carma, esta ‘mardição’...

Sobrevoo ruas, casas, prédios...

O cemitério passa lá embaixo,

A igreja já ficou para trás,

Junto com a praça,

O cinema, o mercado,

O trapiche e a praia...

 

Sei que o Caruaru é o meu destino...

Avanço rumo aos igarapés...

 

Tudo é soturnidade!...

Por quê? Por que desta sina?

Que fiz eu? Que mal cometi?

Contra quem? Quem sou eu?

Que metamorfose é esta?!...

Chegam as matas, o frio vem,

Trazido do manguezal e das águas...

 

Do meu propósito me aproximo...

 

O mundo é triste, lá embaixo.

Aqui, a coisa não é melhor...

Nem vivalma vejo, só névoa:

Ninguém para assustar ou surrar.

Passa o Tamanduaquara, passa;

Passa o rio Murubira, passa;

Sigo o Pratiquara adentro...

Lá no Caruaru pousarei:

Quero ver a filmagem.

 

Dizem, dizem por aí: o tal filme,

Este que está sendo feito agora,

Dizem, é sobre mim...

 

Matinta