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terça-feira, 22 de março de 2016

Michel Foucault esteve em Mosqueiro, em 1976

Paul-Michel Foucault (15/10/1926, Poitiers, França - 25/06/1984, Paris, França​)

Nascido em uma família tradicional de médicos, Michel Foucault frustrou as expectativas de seu pai, cirurgião e professor de anatomia em Poitiers, ao interessar-se por história e filosofia. Apoiado pela mãe, Anna Malapert, mudou-se para Paris em 1945 e antes de conseguir ingressar na École Normale da rue d'Ulm, foi aluno do filósofo Jean Hyppolite, que lhe apresentou à obra de Hegel.
Em 1946 conseguiu entrar na École Normale. Seu temperamento fechado o fez uma pessoa solitária, agressiva e irônica. Em 1948, após uma tentativa de suicídio, iniciou um tratamento psiquiátrico. Em contato com a psicologia, a psiquiatria e a psicanálise, leu PlatãoHegelMarxNietzsche,HusserlHeideggerFreudBachelard, Lacan e outros, aprofundando-se em Kant, embora criticasse a noção do sujeito enquanto mediador e referência de todas as coisas, já que, para ele, o homem é produto das práticas discursivas.
Dois anos depois, Foucault se licenciou em Filosofia na Sorbone e no ano seguinte formou-se em psicologia. Em 1950 entrou para o Partido Comunista Francês, mas afastou-se devido a divergências doutrinárias.
No ano de 1952 cursou o Instituto de Psychologie e obteve diploma de Psicologia Patológica. No mesmo ano tornou-se assistente na Universidade de Lille. Foucault lecionou psicologia e filosofia em diversas universidades, na Alemanha, na Suécia, na Tunísia, nos Estados Unidos e em outras. Escreveu para diversos jornais e trabalhou durante muito tempo como psicólogo em hospitais psiquiátricos e prisões.
Viajou o mundo fazendo conferências. Em 1955, mudou-se para Suécia, onde conheceu Dumézil. Este contato foi importante para a evolução do pensamento de Foucault. Conviveu com intelectuais importantes como Jean-Paul Sartre, Jean Genet, Canguilhem, Gilles Deleuze, Merlau-Ponty, Henri Ey, Lacan, Binswanger, etc.
Aos 28 anos publicou "Doença Mental e Psicologia" (1954), mas foi com "História da Loucura" (1961), sua tese de doutorado na Sorbone, que ele se firmou como filósofo, embora preferisse ser chamado de "arqueólogo", dedicado à reconstituição do que mais profundo existe numa cultura - arqueólogo do silêncio imposto ao louco, da visão médica ("O Nascimento da Clínica", 1963), das ciências humanas ("As Palavras e as Coisas", 1966), do saber em geral ("A Arqueologia do Saber", 1969).
Esteve no Brasil em 1965 para conferência à convite de Gerard Lebrun, seu aluno na rue d'Ulm em 1954. Em 1971 ele assumiu a cadeira de Jean Hyppolite na disciplina História dos Sistemas de Pensamento. A aula inaugural foi "a Ordem do discurso".
A obra seguinte, "Vigiar e Punir", é um amplo estudo sobre a disciplina na sociedade moderna, para ele, "uma técnica de produção de corpos dóceis". Foucault analisou os processos disciplinares empregados nas prisões, considerando-os exemplos da imposição, às pessoas, e padrões "normais" de conduta estabelecida pelas ciências sociais. A partir desse trabalho, explicitou-se a noção de que as formas de pensamento são também relações de poder, que implicam a coerção e imposição.
Assim, é possível lutar contra a dominação representada por certos padrões de pensamento e comportamento sendo, no entanto, impossível escapar completamente a todas e quaisquer relações de poder. Em seus escritos sobre medicina, Foucault criticou a psiquiatria e a psicanálise tradicionais.
Deixou inacabado seu mais ambicioso projeto, "História da Sexualidade", que pretendia mostrar como a sociedade ocidental faz do sexo um instrumento de poder, não por meio da repressão, mas da expressão. O primeiro dos seis volumes anunciados foi publicado em 1976 sob o título "A Vontade de Saber".
Em 1984, pouco antes de morrer, publicou outros dois volumes: "O Uso dos Prazeres", que analisa a sexualidade na Grécia Antiga e "O Cuidado de Si", que trata da Roma Antiga. Foucault teve vários contatos com diversos movimentos políticos. Engajou-se nas disputas políticas nas Guerras do Irã e da Turquia. O Japão é também um local de discussão para Foucault. Várias vezes esteve no Brasil, onde realizou conferências e firmou amizades. Foi no Brasil que pronunciou as importantes conferências sobre "A Verdade e as Formas Jurídicas", na PUC do Rio de Janeiro.
Os Estados Unidos atraíram Foucault em função do apoio à liberdade intelectual e em função de São Francisco, cidade onde Foucault pode vivenciar algumas experiências marcantes em sua vida pessoal no que diz respeito à sua homossexualidade. Berkeley tornou-se um pólo de contato entre Foucault e os Estados Unidos.
Em 25 junho de 1984, em função de complicadores provocados pela AIDS, Foucault morreu aos 57 anos, em plena produção intelectual.
(Repostado de UOL Educação. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/biografias/paul-michel-foucault.htm. Acesso em: 22 mar. 2016.)
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As postagens abaixo provam a visita do filósofo francês às plagas ilhoas. Vejam postagens abaixo, na verdade, repostagens, às quais damos os créditos devidos.

Foucault e o bonjour amazônico, por José Ribamar Bessa Freire

[Em um restaurante, na praia do Maraú, em novembro de 1976]

A canoa vai de proa /e de proa eu chego lá,
Rema, meu remo, rema / Meu remo, rema.

(Fafá de Belém – Indauê Tupã)
Confesso um pecado academicamente mortal: não conheço a obra de Michel Foucault. O único livro dele que li de cabo a rabo foi A História da Loucura escrito ainda no início dos anos 1960. Tomei conhecimento dos demais só através de resenhas, entrevistas, citações em dissertações e teses em cujas bancas me envolvi. Um amigo querido, ex-professor da UFF, que era vidrado no filósofo francês e não dizia um “oi” sem citá-lo, morreu sem perdoar meu pecado. Se ele ainda estivesse vivo, agora sim, me absolveria porque, para me redimir, eu o cumprimentaria assim citando Foucault:
– Bonjour, Armando, como disse Foucault a Edna Castro numa manhã de sol na praia do Maraú em Mosqueiro, antes de encarar uma maniçoba arretada (Foucault, 1976: 12 hs).
É que somente agora, em Belém, tomei conhecimento das peripécias de Foucault nas duas ocasiões em que esteve na Amazônia. Sua passagem pelo Pará está registrada no belo documentário de 20 minutos que foi exibido nesta semana na abertura do 2º Colóquio Internacional Mídia e Discurso na Amazônia (DCIMA II),  organizado por Ivânia Neves e Agenor Sarraf, professores da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Arqueologia do tacacá
Fiquei morrendo de inveja dos paraenses. Imaginem só: Foucault passou também por Manaus na primeira viagem, em maio de 1973, convidado pela Aliança Francesa, mas nós, amazonenses, não fizemos qualquer registro disso, pelo menos que eu conheça. Nem mesmo a velha rixa Amazonas x Pará estimulou a Universidade Federal do Amazonas a buscar as pegadas do filósofo francês na Barelândia. Parece que ele não gostou da capital amazonense, já em processo americanalhado de maiamização.
Com Belém, foi diferente. Foucault gostou do Pará. Tomou tacacá e não se esqueceu mais de lá. Veio ao Pará, parou. Bebeu açaí, voltou. Na segunda viagem em novembro de 1976 e aí – não quero fazer fofoca não –  arbitrou a interminável polêmica amazônica, sentenciando que o Teatro da Paz é mais bonito que o Teatro Amazonas. O documentário dirigido por Ivânia Neves, Maurício Correa e Nassif Jordy não dá trelas a essa fofoca que acabo de inventar, mas fotos na praia de Mosqueiro, exibidas no documentário, reforçam  depoimento de Benedito Nunes em entrevista a Adriana Klautau:
– Estávamos no período do regime militar, quando ele veio proferir algumas conferências no Pará a convite meu. Foucault foi extraordinário. Eu fazia a intermediação e traduzia as perguntas das pessoas. Depois, levamos Foucault à praia do Maraú, perto de Belém. Eu tinha um terreno lá, não tinha nem casa, era só o terreno. Ele amou. Era um brilhante nadador. Um atleta. Disse que era a primeira vez que o levavam a uma praia assim no Brasil. Ele nadou muito lá. Depois, fomos em um bar muito vagabundinho, tomamos banho lá mesmo e almoçamos.
Depoimentos sobre as três conferências e o curso que deu na UFPA mostram que Foucault já era Foucault, professor do Collège de France e celebridade internacional. Já havia escrito A Arqueologia do Saber, Vigiar e Punir e História da Sexualidade. Militante dos direitos humanos, em Belém ele chutou o pau da barraca, com críticas ferinas às instituições sociais, martelando temas que o tornaram conhecido: clínica psiquiátrica, prisões, reforma penal, sexualidade, conhecimento, poder. E isso em plena ditadura militar, o que enfureceu os gorilas fardados.
Palavras e coisas
Mas suas conferências não foram publicadas, porque o gravador com sua fala foi roubado do carro estacionado em frente ao restaurante onde jantava com amigos paraenses. De qualquer forma, a repressão não se fez esperar:
– Menos de uma semana depois que Foucault foi embora, fui chamado pelo diretor, cujo nome não vou mencionar, me dizendo que o SNI estava pedindo a relação dos “frequentadores” das aulas. Eu disse: Não dou a relação. Saí de lá e fui diretamente falar com o reitor que foi muito correto e até corajoso. Ele me disse para não dar a lista. Havia uma vigilância até nesse ponto – contou Benedito Nunes, segundo o filósofo Ernani Chaves, que há dois anos publicou um livro sobre Michel Foucault em Belém.
O documentário certamente pode interessar Heliana Conde, professora da UERJ,  que pesquisa as várias passagens de Foucault no Brasil, onde esteve cinco vezes entre 1965 e 1976. Ele participou de mesa redonda com o psicanalista Hélio Pelegrino e outros convidados. Num curso que ministrou na USP em 1975, compareceu à assembleia estudantil e se manifestou contra a prisão de estudantes, professores e jornalistas ocorridas naquele momento. Anunciou que, em solidariedade, suspenderia seu curso. Dois dias depois, o país soube do assassinato do jornalista Vladimir Herzog,
A abertura do documentário é feita com imagens do filme “Michel Foucault par lui même” e doBye Bye Brasilcom música de Fafá de Belém e uma animação de Otoniel Oliveira na qual o filósofo dá uma piscadela cúmplice para o espectador. Recupera em jornais locais notícias e fotos. Entrevista a socióloga Edna Castro que flanou com ele a tiracolo por Mosqueiro, acompanhada do advogado José Castro e do filósofo Benedito Nunes. Registra depoimentos do historiador Aldrin Figueiredo e da linguista e antropóloga Ivânia Neves, que entre outros dados, menciona o namorado paraense do filósofo.
Exibido no II DCIMA antes da palestra de Massimo Canevacci, o documentário deu início à programação que incluiu minicursos, oficinas, seminários e lançamentos de livros, com a participação, entre outros, de professores de outras universidades do Brasil que dialogam com os programas de pós-graduação da UFPA: Rosário Gregolin (UNESP-Araraquara), Vera França (UFMG), Helena Weber (UFRGS), Antônio Fernandes Júnior (UFG/UFSCar), Regina Baracuhy (UFPB), Lucrécia Ferrara (PUC- São Paulo) e Claudiana Narzetti (UEA).
Esses e outros pesquisadores que estudam as cidades a partir de diferentes campos do saber concentraram o foco sobre a cobertura da mídia e das próprias redes sociais, indagando em que medida as cidades, seus acontecimentos e seus enunciados são mostrados ou ocultados. O aniversário de 400 anos de Belém, que será celebrado em 2016, inspirou o debate para pensar o papel das cidades. “Com que processos midiáticos, históricos, étnicos, culturais, semióticos, discursivos estas cidades se constituíram e se constituem?” – indagaram os organizadores.
Numa das mesas sobre Etnicidades, Línguas, Mídias e Cosmologias mediada por Vera França (UFMG), Luciana Oliveira (UFMG) discutiu a situação dos Guarani Kaiowá, Ivânia Neves (UFPA) abordou a pluralidade étnica de Belém e este locutor que vos fala (UNIRIO-UERJ) refletiu sobre as cidades da Amazônia que são cemitérios de línguas. Em Belém e Manaus estão sepultados os últimos falantes de muitas línguas indígenas reprimidas e silenciadas pelo poder colonial, imperial e republicano, o que tem tudo a ver com a obra de Foucault que tenho vontade de conhecer.
(Repostado de COMBATE Racismo ambiental. Disponível em: http://racismoambiental.net.br/?p=195762. Acesso em: 22 mar. 2016.)
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O filósofo francês Michel Foucault esteve duas vezes em Belém, nos anos de 1973 e 1976. Este documentário faz um inventário de seu segunda visita, quando, a convite de Benedito Nunes proferiu um curso na Universidade Federal do Pará-UFPA. Naquele momento o Brasil passava pela Ditadura Militar (1964-1985) e a UFPA começava a se organizar às margens do rio Guamá.

A ideia de produzir este documentário [que aparece em postagem imediatamente abaixo desta] nasceu de uma provocação feita por Rosário Gregolin, na abertura do I Encontro de Análise do Discurso da Amazônia, realizado em Belém, em 2011. Ela nos mostrou a foto em que aparecia Michel Foucault e Benedito Nunes, Na foto que circulava na internet, aque Rosário tinha acesso, José Carlos Castro não aparecia. Depois destes momento, em todas as vezes que Rosário vinha a Belém, ela nos provocava sobre o assunto, até que um dia fomos com ela a Mosqueiro.... 

José Carlos de Castro, Michel Foucault e Benedito Nunes - Maraú - Mosqueiro - 1976
 Michel Foucault, Edna Castro, Benedito e Silvia Nunes - Mosqueiro- 1976

Leia a crônica de José Ribamar Bessa Freire sobre o documentário.


"Depoimentos sobre as três conferências e o curso que deu na UFPA mostram que Foucault já era Foucault, professor do Collège de France e celebridade internacional. Já havia escrito A Arqueologia do Saber, Vigiar e Punir e História da Sexualidade. Militante dos direitos humanos, em Belém ele chutou o pau da barraca, com críticas ferinas às instituições sociais, martelando temas que o tornaram conhecido: clínica psiquiátrica, prisões, reforma penal, sexualidade, conhecimento, poder. E isso em plena ditadura militar, o que enfureceu os gorilas fardados."        José Ribamar Bessa Freire
(Repostado de: GEDAI -- Grupo de Estudos Mediações, Discurso e Sociedades Amazônicas. Disponível em: http://grupogedai.blogspot.com.br/2015/12/michel-foucault-em-belem-novo.html. Acesso em: 22 mar. 2016.)




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