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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Onde ...



As ondas da praia do Bispo
Nada sabem de você...
No céu plúmbeo,
As nuvens quase equidistantes
Não me cochicham,
Segredando teu destino.

Às garças elegantes,
Grito silenciosa
E desesperadamente
Que não mintam para mim.
As pedras cruelmente calam,
Calam, calam...
Só as ondas falam...

Mas é um idioma
Cujo código desconheço
Por completo...
Ao largo, na baía,
Zombeteiros barcos, gargalhando
Aos pô-pô-pôs,
Despedem-se e vão-se...
E só, eu vou ficando por aqui...

O sol decai em sono lento,
Espargindo pelo panorama
Melancólicos vermelhos,
A impregnar meus lassos olhos,
Abandonados pela luz.

Pergunto às estrelas,
que apenas me piscam, cúmplices
desse segredo, desse mistério
que insiste em não ser revelado...

Que estará fazendo o Meu Amor?
Por quais trilhas estará vagando,
longe longe sem mim, que lamento
por estares em um lugar por mim desconhecido!

Eu, que durmoacordo no Paraíso,
porque é com minha Princesa que divido
o leito, vivo num sonho, devaneio
que não quero nem de longe
que me escapula da vida/vista.

Tudo que mais quero no mundo
é ter você em meus braços...

Sempre... Sempre...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Embora desnecessária, uma defesa

Não é necessária uma leitura tão complexa, como a que nasceria pelo viés da Análise do Discurso, para percebermos que algo incongruente contamina o texto “O bom ditador”, publicado pelo jornalista e sociólogo Lúcio Flávio Pinto em seu Jornal Pessoal de agosto de 2010, 2ª quinzena. No título – um intertexto com o “bom ladrão”, aquele que no texto bíblico foi crucificado à direita de Jesus, o Nazareno –, o autor sugere que Lula é um ditador porque vai eleger quem lhe sucederá. Fazendo uma analogia com o processo eleitoral estadunidense, será que alguém chamou Bill Clinton de “ditador” por que tentou eleger Al Gore seu sucessor? Ou mesmo o implacável, odioso e belicista George Bush, que indicou o senador John McCain como seu sucessor à Casa Branca (no caso de ser eleito), quem o chamou de ditador? E, no plano nacional, o que dizer de Fernando Henrique Cardoso, que forçou a barra para alterar a legislação eleitoral, reelegendo-se presidente e, a posteriori, tentando também eleger seu sucessor, o mesmo José Serra, atual adversário de Dilma Roussef? E no plano estadual, quem tachou Almir Gabriel de ditador, bom ou mal, infligindo ao povo paraense 12 anos de pessedebismo? Mas, agora, como se trata de Lula, do PT, é tentativa de erigir um regime fascista! Muito me admira também a tamanha absurdidade, em relação a Lula, de afirmações do tipo “morde e assopra”, vindas à luz no texto do respeitado jornalista, mais ao estilo “tipo assim”... Paulo Francis. O Lula pintado por Pinto semelha uma obra do surrealista Salvador Dalí, com o diferencial de que aquele buscava o ilógico e quimérico propositadamente. Resta-nos concluir que, quanto ao Luís Inácio parido pelo texto de Pinto, este seria o que o Dicionário Eletrônico Michaelis-UOL diz que é: “qui.me.ra s. f. 1. Monstro da mitologia grega, com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de dragão. 2. Criação absurda da imaginação; fantasia, utopia, sonho. 3. Coisa impossível, irrealizável; absurdo.”
Quimera
Lula

Porém, a quimera, como todos vêem, é diferente do “bom brasileiro” (e torneiro mecânico) Lula (redução de Luís, apelido que nada tem a ver com o animal, o molusco), um cidadão do povo.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Você

1
A Baía de Santo Antônio é você.
E nada mais me sobra olhar
Quando vejo a paisagem
E só vislumbro sua face
A me saltar aos olhos.

Todos os possíveis horizontes
Me lembram a possibilidade
De nunca te esquecer.
E me sinto, assim, feliz!

2
Não há flores ― sequer murchas― no meu jardim.
O Sol não aquece e a Lua não inspira...
Meu coração, em pranto, só suspira:
Você, enfim, está longe de mim.

Por isso, em pensamento, para te ver,
Vôo, na velocidade-luz do amor.
Seja para qualquer lugar em que for,
Aonde vou, tenho de estar com você.

À noite pinga sobre meu leito
Toda a angústia e doída solidão,
A sufocar este grito no meu peito:
― Não vá embora, não vá, não!

3
Eu caminho na sombra de seus sonhos.
Na escuridão
Das idéias que emaranham
Seus pensamentos,
Eu vivo.
E grito.

E espalho em jorros, em esguichos
Agigantados
Toda a solidão que me abandona com a chegada
De teus longos negros cabelos
E sua longilínea
Figura a serpentear pelas ruas
De minha cidade,
Num bailado etéreo
De andar compassado...
E o aroma de seus olhos
Me quase hipnotiza.

Em todo seu ser sei que habito
E desespero se portas e janelas fechadas
Me aprisionam do lado de fora.

As horas dançam num balé
Estilhaçado, como se nuvens
De vidro fossem,
Quebradas pelos logradouros desérticos,
Se me deixa fora da geometria
De suas formas de mel e luar.

E um quase nada a nadar
Nas entrelinhas do fundo da piscina da dor
Sou,
Se não vem você me acender a luz
E dizer: “É um pesadelo!
Estou aqui! O mundo amanheceu!
Todos os pássaros cantam
A melodia do mar...
Os ventos espalham pelo ar
A música do afeto mais sublime,
Que só existe por sua causa.
Se você me sonha, eu existo,
E te amo!”

Posso deixar a vida em paz...

A uma pastora

Qual um pastor arcádico
alimenta o sentimento da terra,
no ato de apascentar o rebanho
na solidez maleável
da verde pradaria,

e no ato de aspirar o puro ar
na concretude pedregosa da montanha,
aliando a isso
ritmar palavras amorosas
à doce pastora sua,
murmurando-as ao seu ouvido,

nascidas elas da transparência
um tanto lacustre
das águas dos ribeirões,
espelhando a fugacidade
diáfana das nuvens lá no céu,

Sim, qual esse pastor,
também eu
― não tão bem como o Poeta Pablo Neruda ―


desenhei estas palavras,
na esperança de também
despertar minha pastora

― de seu sono macio ―

com este poemeto que,
quisera, tivesse a ternura leve



de um beijo cálido.

Bem baixinho...

A saudade é contemplar as nuvens
sem poder com elas levitar
até próximo de onde estás
e sorver no ar o olor
achocolatado
de teu hálito de Afrodite
ameríndia.


É não poder sequer perseguir-te
como um pobre coitado
Apolo a aspirar o aroma de teus cabelos
esvoaçantes na brisa
célere que te rapta
para longe de mim,
até o K2,
onde possivelmente morrerei,
por tu já te teres partido
em tua volatilidade
de monarca, na direção do belo México...

Será meu destino escalar as distâncias de mar e terra
e vento e cordilheiras, sem fim?
Se o for,
é por um transcendental motivo, e isso
não apequenará o meu espírito de amador inconteste.


As distâncias são um obstáculo a se extrapolar, só isso, meu amor.
Sempre apenas isso!

Uma certa dialética das coisas mínimas

Muitos dizem
Ah, no meu tempo...
O meu tempo sempre é hoje!
Mas, no decorrer de 24 horas,
torna-se ontem,
e o amanhã se torna hoje,
que vira ontem...
Nada mais dialetizante
porque mutante,
tempo nunca-sempre-quase
a esgotar-se, inesgotavelmente...
Tempo-vento: o tudo-nada
a bater,
a esbofetear suavemente a face do ilhéu
e desalinhar as madeixas
da cabocla banhista,
a lembrar que outrora
acariciou a cara
do autóctone-índio no moqueio,
o corpo suadensangüentado
do cabano na Batalha,
a defender-se no Chapéu-Virado...
Do veranista no convés
do Presidente Vargas...
Nas janelas do Beiradão,
nas Vans.
Esse tempo-vento, tempo-ventre,
a que porto-futuro
guiará esse barco-ilha
de desencanto-acalanto,
sempre ao mesmo tempo-vento?...