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domingo, 20 de novembro de 2016

Faces do ser (exposição de desenhos autorais)

Faces do ser

          O artista tenta expor, mal o consegue. Aliás, bem que o consegue, mas só ele sabe, só ele, e pessoas próximas que o auxiliaram na empreitada, têm o efetivo conhecimento das imensas dificuldades que houve, e que com certeza o farão pensar três (ou quatro, cinco, seis vezes) antes de sonhar em de novo expor seus quadros.
           Devido ao tratamento de certo modo caprichoso dado à sua exposição, ficou-nos o texto de seu folder, bela mostra de suas obras miniaturizadas, grande parte em preto e branco, acompanhadas de um texto explanatório de sua intenção com a mostra. Vale a pena conferir o texto, que segue, para seu deleite:
   
           “Conta o mito grego que a Esfinge ― monstruoso ser híbrido, com corpo de leão, asas de águia e rosto de mulher ― ao jovem Édipo compeliu-o à decifração do seguinte enigma: Qual é o animal que de manhã anda sobre quatro patas, ao meio-dia, sobre duas e, à noite, sobre três? Édipo refletiu bastante antes de responder, pois era sua vida que estava em jogo, uma aposta que não poderia perder, pelo motivo óbvio de que não teria direito à revanche, uma vez que, assim, devorado pela Esfinge (irremediavelmente morto, portanto), não poderia vingar-se. Além disso, havia o agravante de que o monstro continuaria assolando as cercanias da cidade de Tebas, por onde o corajoso jovem andarilhava, sem rumo, fugindo de seu impiedoso fado, já predito pelo Oráculo de Delfos: matar seu pai, casar com a própria mãe e ter filhos com ela.
              Finalmente, Édipo disse: ― É o homem: durante parte da infância (a manhã, portanto), engatinha; durante a idade adulta (o meio-dia, lógico), anda ereto, como um bípede que é; já na velhice (a noite, naturalmente), usa como apoio um cajado ou muleta ou o que lá for... Era a resposta correta. Humilhada, a Esfinge suicidou-se, atirando-se de um abismo, deixando-se morrer ao não usar as asas. Outra versão conta que ela fugiu em desespero dali, para longe da humilhação, onde passou a assolar outras ermas estradas e ermos viajantes.
               Ainda o ser humano é como o enigma da Esfinge: um ser mutante, mais que a Lua em suas fases, mais que a borboleta tornando-se larva, a larva tornando-se pupa, a pupa tornando-se borboleta (novamente). Mais que as estações, uma tornando-se a outra, subseqüentemente. Isto porque não muda só fisicamente, muda em concepção de vida, filosofia, religião, política... muda emocionalmente o tempo todo. E se é bom ou ruim o ser humano ser “esta metamorfose ambulante”, como diria Raul Seixas, não sei, contudo, podemos ponderar que a mudança é necessária: a monotonia, o tédio, são (os dois) algo a que o homo sapiens moderno tem verdadeira (mente) repulsa.
                Os trabalhos neste catálogo e na exposição constituem um ensaio e enfocam, por um prisma meramente pessoal (do autor), este aspecto do ser: mutação (entendida aqui a palavra em seu sentido mais amplo ― nada é, tudo apenas está). O mundo e as “coisas” são impermanentes. Nós, em nossa tão ligeira existência, somos um ser fugaz. Fugaz até mesmo no modo de encarar a vida: ora alegre, ora triste; ora justo, ora canalha; ora calmo, ora irritado... É este o ser que somos. Ensaiamos mostrar, aqui, um pouco de nós mesmos.”


A exposição recebeu por título Faces do ser. Ocorreu em 2004 e teve como obras alguns exemplares reproduzidos abaixo.

A face da musa

A libido masculina

A dor

A clonagem

A contemplação

Cástor e Pólux

El Greco, o atleta

Espelho partido

Alegoria da Caverna

Narciso

Angústia

O abismo da alma

O beijo a contragosto

O beijo das placas tectônicas

O beijo I, ou o homem licantrópico

O beijo II

O homem bicentenário

O homem feio

O maligno

O maligno II

O último dos últimos

Os três contempladores

Por um fio

Simulacro

Sob o signo do olhar I

Sob o signo do olhar II

Só vejo a luz se ela vem de teu olhar

Um acalanto

Bateram asas as palavras


Faces do ser

          O artista tenta expor, mal o consegue. Aliás, bem que o consegue, mas só ele sabe, só ele, e pessoas próximas que o auxiliaram na empreitada, têm o efetivo conhecimento das imensas dificuldades que houve, e que com certeza o farão pensar três (ou quatro, cinco, seis vezes) antes de sonhar em de novo expor seus quadros.
           Devido ao tratamento de certo modo caprichoso dado à sua exposição, ficou-nos o texto de seu folder, bela mostra de suas obras miniaturizadas, grande parte em preto e branco, acompanhadas de um texto explanatório de sua intenção com a mostra. Vale a pena conferir o texto, que segue, para seu deleite:
  

           “Conta o mito grego que a Esfinge ― monstruoso ser híbrido, com corpo de leão, asas de águia e rosto de mulher ― ao jovem Édipo compeliu-o à decifração do seguinte enigma: Qual é o animal que de manhã anda sobre quatro patas, ao meio-dia, sobre duas e, à noite, sobre três? Édipo refletiu bastante antes de responder, pois era sua vida que estava em jogo, uma aposta que não poderia perder, pelo motivo óbvio de que não teria direito à revanche, uma vez que, assim, devorado pela Esfinge (irremediavelmente morto, portanto), não poderia vingar-se. Além disso, havia o agravante de que o monstro continuaria assolando as cercanias da cidade de Tebas, por onde o corajoso jovem andarilhava, sem rumo, fugindo de seu impiedoso fado, já predito pelo Oráculo de Delfos: matar seu pai, casar com a própria mãe e ter filhos com ela.
              Finalmente, Édipo disse: ― É o homem: durante parte da infância (a manhã, portanto), engatinha; durante a idade adulta (o meio-dia, lógico), anda ereto, como um bípede que é; já na velhice (a noite, naturalmente), usa como apoio um cajado ou muleta ou o que lá for... Era a resposta correta. Humilhada, a Esfinge suicidou-se, atirando-se de um abismo, deixando-se morrer ao não usar as asas. Outra versão conta que ela fugiu em desespero dali, para longe da humilhação, onde passou a assolar outras ermas estradas e ermos viajantes.
               Ainda o ser humano é como o enigma da Esfinge: um ser mutante, mais que a Lua em suas fases, mais que a borboleta tornando-se larva, a larva tornando-se pupa, a pupa tornando-se borboleta (novamente). Mais que as estações, uma tornando-se a outra, subseqüentemente. Isto porque não muda só fisicamente, muda em concepção de vida, filosofia, religião, política... muda emocionalmente o tempo todo. E se é bom ou ruim o ser humano ser “esta metamorfose ambulante”, como diria Raul Seixas, não sei, contudo, podemos ponderar que a mudança é necessária: a monotonia, o tédio, são (os dois) algo a que o homo sapiens moderno tem verdadeira (mente) repulsa.
                Os trabalhos neste catálogo e na exposição constituem um ensaio e enfocam, por um prisma meramente pessoal (do autor), este aspecto do ser: mutação (entendida aqui a palavra em seu sentido mais amplo ― nada é, tudo apenas está). O mundo e as “coisas” são impermanentes. Nós, em nossa tão ligeira existência, somos um ser fugaz. Fugaz até mesmo no modo de encarar a vida: ora alegre, ora triste; ora justo, ora canalha; ora calmo, ora irritado... É este o ser que somos. Ensaiamos mostrar, aqui, um pouco de nós mesmos.”


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