Para quem tem fixação
pela etimologia, e a primeira ideia que se passa pela cabeça da pessoa quando
ouve uma palavra que nomeia um lugar (diz-se tecnicamente que é um topônimo), é
descobrir seu sentido mais remoto, pode se sentir motivado a ler o que segue
abaixo:
Para quem desconhece, a palavra ‘mosqueiro’
também pode ter o sentido de olmo, ulmo,
ulmeiro, mosquedo ou negrilho (todos nomes da mesma espécie de vegetal).
Disponível, esta imagem, em: http://dias-com-arvores.blogspot.com.br/2009/07/negrilho-sem-saida.html.
Acesso em: 24 ago. 2015.
Em Portugal, também dá nome a vários lugares. É, existem, no
mínimo, em torno de 40 lugares ou localidades por lá.
Vejamos o verbete em dicionário online:
mos·quei·ro
1. Lugar onde há muitas moscas.
2. Utensílio para apanhar ou afugentar moscas.
3. .Artefato ou cobertura de arame para preservar a comida do .contato das moscas.
4. Ninho de moscas.
5. Mosquedo.
6. Negrilho (árvore).
7. [Gíria] Casa.
8. [Brasil] Hospedaria ordinária. = FREGE
9. Que se inquieta e foge (quando perseguido pelas moscas).
sair a alguém o gado mosqueiro
• Suceder a alguém o contrário do que esperava.
• Suceder a alguém o contrário do que esperava.
"mosqueiro", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/mosqueiro [consultado em 25-08-2015].
**********
O escritor Leonel Neves (1921-1996) escreveu um livro intitulado O cão, o gato e a árvore (1987), de onde
se extraiu o poema abaixo.
A Madrinha
Se em Mosqueiro há casas toscas,
a vida é limpa e decente.
Mosqueiro é terra de gente,
nunca foi terra de moscas.
Tem um orgulho profundo
no seu nome: assim se chama
o seu ulmeiro de fama,
que é o maior deste mundo.
Viste, ó árvore velhinha,
nascer este povo inteiro
e a todo o povo pertences.
Tu és a nossa Madrinha,
pois deste o nome a Mosqueiro
e a todos os mosqueirenses.
Trecho de “A árvore”, do livro O cão, o gato e a árvore, de Leonel
Neves (1921-1996), 2ª edição. Lisboa: Asa, 1987.
Transcript of "A Arvore -
Leonel Neves"
1. In O CÃO, O GATO E A ÁRVORE de
Leonel Neves (Manuela D. L. Ramos Outubro 2010)
2. Mesmo no centro da vila e no
meio do jardim, perto do rio estreito e de uma pontezinha, há um ulmeiro. É uma
árvore tão alta que pode ser vista de qualquer ponto da vila, cujas casas mais
altas não chegam a ter metade daquela altura; uma árvore tão grossa e de copa
tão larga que a sua sombra cobre quase todo o jardim, um grande quadrado de
terra com uma moldura de canteiros de flores e de bancos verdes; e tão velha
que o mais velhinho dos velhos da vila conta que já falava dela o seu avô e que
este lhe tinha dito que já também dela falava o avô dele, e acrescenta:
Fotografia do célebre ulmeiro de S. Martinho de Anta, imortalizado por Miguel
Torga no poema “A um negrilho”. Imagem reproduzida do livro de Ernesto Goes,
Árvores monumentais de Portugal (Portucel, 1984)
3. — Viu-nos nascer a todos. É
tão velha como o mundo e parece sempre nova. Ora vejam: eu tive o cabelo preto,
mais tarde da cor das cinzas, depois branco e hoje nenhum. Mas ela tem sempre
aquela linda cabeleira verde... E toda a gente da vila de Mosqueiro sentia
muita satisfação em a sua terra pequenina possuir uma árvore tão grande.
Imagem: Ulmeiro em Almeida (distrito da Guarda) antes de ser escandalosamente
mutilado. Fotografia de Pedro Nuno Teixeira Santos in Árvores de Portugal
4. Ora um dia tal satisfação
transformou-se em orguIho. Foi quando lá apareceu, de propósito para ver aquele
ulmeiro, o sábio Doutor Pafúncio, então a fazer uma cura de águas nas Termas,
uma aldeia pendurada na encosta da serra próxima da vila. O Dr. Pafúncio da
Silva era professor de Zoologia (o estudo dos animais), de Botânica (o estudo
das plantas) e Mineralogia (o estudo do que não é animal nem planta, como as
pedras e as rochas). Imagem: flores,folhas e frutos do ulmeiro in Flora von
Deutschland Österreich und der Schweiz (1885)
5. Esteve mais de dez minutos a
andar à roda da árvore, a olhar para ela, muito calado, e por fim disse: — É um
belo ulmeiro, talvez o maior ulmeiro português. Devia ser considerado monumento
nacional. E deu o nome à tua vila, como sabes. O senhor Presidente da Câmara,
que tinha sido colega do sábio na Universidade de Coimbra e o levara junto da
árvore, ficou de boca aberta e gaguejou: — O... o quê!? — Ulmeiro... Mosqueiro
— disse o doutor Pafúncio. Estás a perceber — Não — respondeu o senhor
Presidente. Ora explica lá isso. Imagem: detalhe de uma alameda de 11 ulmeiros,
na Guarda, classificados de interesse público em 2008. Fotografia de Pedro Nuno
Teixeira Santos in Árvores de Portugal
6. — Ulmeiro ou ulmo é o mesmo
que olmo ou olmeiro. Mas também pode ter outros nomes: negrilho, lamegueiro
ou... mosqueiro. Se não acreditas, vai ver a um bom dicionário. Com certeza
esta árvore, há algumas centenas de anos, é que deu o nome a esta vila. Donde
julgavas tu que vinha o nome da tua terra? — Eu... eu... E achas que isto é um
monumento nacional? — perguntou o senhor Presidente. — Devia ser — respondeu o
sábio. — Mas, pelo menos, é de interesse público, o que quer dizer que, sendo
como é uma árvore tão antiga, tão alta e tão bonita, ninguém lhe pode fazer
mal, ninguém a pode cortar. É da lei! Encontras tudo isso num decreto*
publicado há muitos anos no “Diário do Governo” (hoje Diário da República). As
plantas, os animais e os minerais para além do seu nome comum, vulgar ou
vernacular (da língua própria de um país) também têm um nome científico, em
latim ,que se escreve em itálico. O ulmeiro mais comum em Portugal é o Ulmus
minor. (carregar para aceder à ficha desta espécie no ARBORIUM, Atlas das árvores
de Leiria (on line) •Trata-se do Decreto-Lei nº 28468 de 15 de Fevereiro de
1938 ver aqui. • Esta lei está em processo de revisão. >
7. O senhor Presidente da Câmara
ia quase desmaiando de alegria. E, passada uma hora, todas as pessoas da vila
sabiam daquela conversa com o doutor Pafúncio, toda a gente estava muito
contente; e a satisfação de haver na sua vila pequenina uma árvore tão grande,
um ser tão importante, transformou-se em orgulho. E até havia razão para esse
contentamento e para esse orgulho, porque para os mosqueirenses era como se
lhes tivessem tirado de cima um grande peso: a troça que deles costumavam fazer
as outras pessoas quando, longe da vila, eles diziam que eram de Mosqueiro.
Mais ou menos isto: — Ah! você é de Mosqueiro? Terra feia e suja, sítio de
moscas, não é? — Nada disso. É até uma vila muito branca e muito limpa. — Pois
sim, está-se mesmo a ver: Mosqueiro... E, afinal, Mosqueiro era o nome do
ulmeiro do jardim!
8. Os mosqueirenses ficaram por
isso muito contentes, orgulhosos e comovidos. Assim aconteceu com Zé Pataco,
vendedor de jornais, poeta popular e repentista, tão comovido que não
conseguiu, nem quis dizer de repente uma quadra, como costumava fazer a
propósito de qualquer pessoa ou de qualquer caso engraçado. Dessa vez, Zé
Pataco resolveu pensar muito bem... e escreveu uma poesia, até com título, que
foi publicada na primeira página do jornal da vila, por baixo de uma fotografia
do ulmeiro tirada por Quim Santos e ao lado das declarações do sábio doutor
Pafúncio sobre a árvore. Era assim:
9. A Madrinha
Se em Mosqueiro há casas toscas,
a vila é limpa
e decente.
Mosqueiro é
terra de gente,
nunca foi
terra de moscas.
Tem um orgulho
profundo
no seu nome:
assim se chama
o seu ulmeiro
de fama,
que é o maior
deste mundo.
Viste, ó
árvore velhinha,
nascer este
povo inteiro
e a todo o
povo pertences.
Tu és a nossa
Madrinha,
pois deste o
nome a Mosqueiro
e a todos os
mosqueirenses.
10. O Sr. Presidente da Câmara
enviou logo às autoridades competentes do Governo, em Lisboa, com esse número
do jornal “A Voz de Mosqueiro”, uma carta a pedir que o enorme ulmeiro fosse
considerado monumento nacional. E, passado algum tempo, recebeu de Lisboa a
resposta, com um exemplar do “Diário da República” que dizia respeito ao
caso... e um letreiro com vidro e moldura, uma placa que devia ser colocada na
árvore e em que, a seguir ao seu nome em latim e antes do número do decreto que
nela falava, estava escrito: Árvores de Interesse Público – Monumentos Vivos «O
que são árvores de interesse público? São árvores que pelo seu porte, desenho,
idade e raridade se distinguem dos outros exemplares.Também os motivos
históricos ou culturais são factores a ter em conta.» aqui Av. João Crisóstomo,
28 1069-040 LISBOA Tel.: 213 124 800 E-mail: info@afn.min- agricultura.pt Ulmus
minor ULMEIRO (Mosqueiro) Considerado de interesse público. Decreto-Lei nº
28468 de 15 de Fevereiro de 1938 Imediatamente foi combinado fazer-se uma
grande festa para a colocação da placa. E assim se fez... e foi uma festa muito
bonita. (…)
11. “A árvore” in O cão,o gato
e a árvore de Leonel NEVES. 2ª ed. Lisboa: Asa, 1987 Nota: este livro
encontra-se esgotado Alguns links de Interesse Árvores de Interesse Público -
Monumentos Vivos (Autoridade Florestal Nacional) Base de Dados das Árvores Classificadas
de Interesse Público (id.) Árvores classificadas ( Dias com Árvores) Árvores
classificadas ( Sombra Verde) Classificação de Árvores de Interesse Público (
Árvores de Portugal) Registo Nacional de Árvores Notáveis ( Árvores de
Portugal) Manuela D.L.Ramos Outubro 2010
Disponível em: http://pt.slideshare.net/manueladlramos/a-arvore-leonel-neves.
Acesso em: 24 ago. 2015.
Um comentário:
Oferece empréstimos de 5.000 € à 25.000.000.000 €
E-mail: monika.gebalaedt@gmail.com
Whatsapp: +351913827705
Precisa de um empréstimo ? Você é rejeitado pelo banco e você quer ter um empréstimo para atender às suas necessidades ? Não há problema.
Independentemente de sua situação financeira. Oferecemos-lhe a empréstimos hipotecários, empréstimos comerciais, empréstimos internacionais,
empréstimos pessoais, etc., Oferecemos empréstimos disponíveis para empresas, indivíduos e outras entidades públicas e privadas. Estamos disponíveis para
prestar qualquer empréstimo. Contacte-nos hoje mesmo e obtenha um primeira-classe de serviços financeiros. mail : monika.gebalaedt@gmail.com
Whatsapp: +351913827705
Postar um comentário