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sexta-feira, 24 de junho de 2016

Topografias poéticas


Em 20 de julho de 2008, em Ouro Preto, antiga Vila Rica (Patrimônio Histórico e Artístico Mundial declarado pela Unesco), estive na frente da casa de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), autor de Marília de Dirceu, publicado em três partes ( em 1792, em 1799 e em 1812).
Pena que o local estava fechado. Sente-se uma emoção um tanto indefinível ao visitar os lugares de certos autores que se admira. Por certo, que não sei bem explicar. talvez uma lira do poeta pudesse dar alguma ideia sobre esse sentimento.


                                     (Foto clicada por minha esposa, Helen, minha "Marília")



Lira XIX 

Enquanto pasta alegre o manso gado,
minha bela Marília, nos sentemos
à sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
na regular beleza,
que em tudo quanto vive nos descobre
a sábia Natureza.

Atende como aquela vaca preta
o novilhinho seu dos mais separa,
e o lambe, enquanto chupa a lisa teta.
Atende mais, ó cara,
como a ruiva cadela
suporta que lhe morda o filho o corpo,
e salte em cima dela.

Repara como, cheia de ternura,
entre as asas ao filho essa ave aquenta,
como aquela esgravata a terra dura,
e os seus assim sustenta;
como se encoleriza,
e salta sem receio a todo o vulto,
que junto dele pisa.

Que gosto não terá a esposa amante,
quando der ao filhinho o peito brando
e refletir então no seu semblante!
Quando, Marília, quando
disser consigo: "É esta
de teu querido pai a mesma barba,
a mesma boca e testa."

(...)

Que prazer não terão os pais, ao verem
com as mães um dos filhos abraçados;
jogar outros a luta, outros correrem
nos cordeiros montados!
Que estado de ventura:
que até naquilo, que de peso serve,
inspira Amor doçura!


Publicado no livro Marília de Dirceu: Parte I (1792).

In: GONZAGA, Tomás Antônio. Obras completas. Ed. crít. M. Rodrigues Lapa. São Paulo: Ed. Nacional, 1942. (Livros do Brasil, 5)

Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/tomaz1.html. Acesso em: 24 jun. 2016.

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 Foto da minha esposa, ao lado da Igreja de São Francisco de Assis, obra de Aleijadinho, com pinturas de Mestre Ataíde, em um estilo Barroco Rococó. Também ali perto da Casa de Tomás Antônio Gonzaga. Lógico, que fica também em Ouro Preto. Foto clicada também na mesma data:



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