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sábado, 18 de junho de 2016

Um dos meus poemas prediletos: Fraga e sombra, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)



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Fraga e sombra

A sombra azul da tarde nos confrange.
Baixa, severa, a luz crepuscular.
Um sino toca, e não saber quem tange
é como se este som nascesse do ar.

Música breve, noite longa. O alfanje
que sono e sonho ceifa devagar
mal se desenha, fino, ante a falange
das nuvens esquecidas de passar.

Os dois apenas, entre céu e terra,
sentimos o espetáculo do mundo,
feito de mar ausente e abstrata serra.

E calcamos em nós, sob o profundo
instinto de existir, outra mais pura
vontade de anular a criatura.

                     ***
 Como não adorar este poema?

Referência: ANDRADE, Carlos Drummond. Claro enigma. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 59.


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